PRÓLOGO

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Jongin sentia o coração bater tão forte que cada batimento ressoava em seus ouvidos. Estes que pareciam conseguir escutar a metros de distância, os sons do mundo ao redor parecendo cada vez mais altos. Seu corpo doía. Uma dor excruciante que percorria desde sua cabeça até seus pés, dilacerando, mudando. Ah, ele estava mudando. Conseguia sentir seu sangue arder dentro de suas veias. Queimando todo lugar que passava. Ele sentia. E sabia. Sabia o que aquilo significava. 

Assim como sabia que aquele sangue que escorria do buraco em sua barriga não era mais vermelho, mas sim preto. Tão escuro quanto a noite que encobria seu corpo largado como lixo naquela vala. Ele se arrependia. Ah, como se arrependia. Devia ter aceitado a carona que lhe ofereceram ao sair daquele bar, este que nem ao menos deveria estar, já que ainda era menor de idade. Não deveria ter decidido andar. Muito menos escolher logo aquele atalho para usar. Foi estúpido e ainda mais quando ao escutar um barulho, não correu para o lado osposto dele. 

Era assim que personagens de filmes sempre morriam, ele deveria saber disso. Mas não conseguiu ignorar a curiosidade e ao invés de fugir, ficou. Tão burro... O cheiro pútrido do lugar lhe deixava enjoado, uma mistura de sangue com morte. Se ele levasse sua mão até a barriga, será que ainda sentiria suas tripas para fora? Não sabia mais. Não conseguia se concentrar em mais nada que não fosse a dor. Dor. E fome? Ah, estava faminto. Com mais fome do que nunca esteve antes em sua vida. 

Sua noção de tempo era inexistente naquele momento. Estava ali a horas? Minutos? Segundos, talvez. Mas parecia uma eternidade. Ele esperava a morte, conseguia ver em sua mente o rosto de todos seus entes queridos, como imaginava que acontecia ao findar de uma vida. Contudo, em um momento, tudo parou. Sua dor, seus pensamentos, sua respiração, seus batimentos. Nada mais existia. 

Até que seu coração bateu novamente. Não mais desesperado como antes, mas ritmado, suave. Calmo demais, assim como Jongin também se sentia naquele instante. Ele se sentou e olhou para o próprio corpo, os olhos tão bem habituados com a escuridão que pareciam terem estado nela por décadas, os olhos focando no buraco em sua barriga. Ou melhor, no lugar onde ele deveria estar. Arrancou os fiapos do que antes era uma blusa e encarou a pele intacta onde anteriormente seu intestino pendia. O abdômen liso, sem nenhum arranhão para contar a história brutal que vivenciou. 

O garoto queria ficar assustado, queria gritar, mas só conseguia sentir uma coisa. A necessidade de se alimentar. Seu pescoço estalou com a virada brusca de sua cabeça, seus ouvidos captando um som perto de si. Quase hipnotizado, ele se levantou completamente, ignorando sua falta de roupas e a forma suja que se encontrava, seguindo aquele leve barulho que parecia lhe chamar. 

Tic-tac. Tic-tac. 

Quando enfim chegou à origem do som, o que encontrou era diferente do que imaginava. Era uma garota. Não muito mais nova que si, e que andava pela rua com seus fones de ouvido de gatinhos bem encaixados no ouvido, enquanto cantava. Mas nada disso importava, porque ele descobriu a origem do barulho. Ele era culpa daquela linda e pulsante veia no pescoço da garotinha. 

Tic-tac

Cadenciado e regular, aquele era o som do batimento cardíaco dela. Ele conseguia escutar. O sangue fluindo pelas veias dela, escutava o leve pulsar de cada uma delas através do corpo frágil. Ah, tão frágil. Tão faminto. Ele estava tão faminto. Jongin nem percebeu quando se aproximou, sua sombra cobrindo a dela no chão, mas quando ela percebeu sua presença às suas costas, era tarde demais. 

Talvez ela tenha gritado, esperneando, implorando por ajuda. Porém, se fosse sincero, ele não prestou atenção em nada disso. Nada além do gosto delicioso que invadia sua boca a cada mordida que dava, a cada pedaço que descia por sua garganta. Nem mesmo o som dos ossos se quebrando ou da pele sendo partida. Sua fome precisava ser saciada. Ele não se importava com mais nada. 

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⏰ Última atualização: Feb 06, 2021 ⏰

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