-Como é que te encontras, minha querida? - Ela roça a cabeça dela na minha barriga em resposta.

            - Bem, Cíntia, obrigado.

            É normal para mim conseguir falar com os animais. Consigo falar com eles desde que era apenas uma criança de colo. São a única coisa que me consegue fazer feliz neste mundo. Toda esta floresta me faz sentir humana de novo. Fora dela sinto-me como se tivesse houvesse uma força a controlar-me, como se eu não fosse eu, um fragmento de mim desaparece e torno-me mais fraca, mais pequena e parece que existe algo no meu peito que está sempre a magoar-me. Tudo muda de sentido, o tempo corre mais devagar e a noite corre demasiado depressa. É como se… como se eu estivesse a viver uma história ou um sonho que não é real, mas ao mesmo tempo sei que isso não é verdade. Este mundo é o real. Dói-me tanto pensar nisto que evito pensa-lo de todo.

            Mas aqui… aqui eu sinto que consigo sorrir! Aqui nada dói e eu consigo me sentir “eu” de novo!

            Levanto-me do chão e sacudo o meu vestido verde esmeralda e aventuro-me mais dentro da floresta, a pequena corsa atrás de mim. Sinto que atrás de mim deixo um rasto de flores acabadas de nascer. É como se algo em mim saísse e conseguisse criar vida. Consigo fazer flores e plantas aparecer do nada. Tenho absoluto controlo sobre qualquer vida e planta. Basicamente controlo a terra e não podia ser mais feliz!

            Começo a correr floresta dentro esquivando-me de árvores, mergulhando nesta pequena felicidade. Ao passar por uma árvore enorme e com uma pequena abertura, paro e olho para dentro do buraco. Lá dentro encontrava-se uma camisola, justa, verde e sem costas, umas calças castanhas desbotadas e uns sapatos velhos. Depois de despir o vestido e colocar a indumentária que estava escondida na árvore, olho ao meu redor e vejo que toda a espécie de animais se tinha reunido perto de mim.

            - Bom dia a todos. Espero que estejam todos bem e que a chuva de ontem não vos tenha incomodado.

            Julgo que os que estavam ali estavam todos bem mas mesmo assim, pelo sim ou pelo não, peço que façam uma fila e toco na testa de todos. Quando faço isso, uma luz verde e ténue surge na palma das minhas mãos, e, depois de ter feito isso com todos, reparo que estão de facto, todos de boa saúde. Uma das lebres estava grávida, como também uma dos esquilos fêmea.

            Continuo a caminhar pela floresta, desta vez com mais calma e vejo uma das águias reais da floresta.

            - Bom dia, Gard. - Gard significa “pequeno” em eliaten.

            - Oi! Já te disse que o meu nome é Gardénio!

            - Desculpa, desculpa. Gardénio. Como é que estás? - Eu digo depois dele pousar no meu braço estendido.

            - Aborrecido… neste momento não á nada para fazer por aqui.

            - Eu trouxe um livro para lermos. – eu digo, abanando o dito livro.

            - TAS Á ESPERA DO QUE? COMEÇA LER! - Ele sempre adorou que eu lhe lesse histórias e contos.

            Encontrei o Gardénio aos sete anos, quando ele era uma pequena cria, depois do meu pai ter cassado os pais dele. Pedi ao meu pai para o levar e ele disse que sim. Tomei conta dele até ele ter aprendido a voar e depois soltei-o na floresta. Sabia que era um mito o famoso mito que os outros pássaros não o iriam aceitar por causa do cheiro, mas mesmo assim tive receio de que ele não se soubesse integrar, por isso seguiu durante algum tempo. Quando dei por mim eu estava a falar com ele a dar-lhe conselhos quando me apercebi que podia ele me respondia.

Uma questão de ConfiançaWhere stories live. Discover now