Sinto meu corpo ser balançado e meu nome ser chamado, seu rosto me parece conhecido, mas eu não consigo abrir meus olhos.
— Melissaaaa!!! – A voz me chama, mas eu não consigo, vejo o rosto de Lucas, sorrio feliz, ele voltou, ele vai me salvar...

— Melissa, acorda o que você fez? – Abro meus olhos e Manuela me segura em seu colo. dando leves tapinhas em meu rosto, sua lagrimas caem sobre mim, eu estava sonhando e fui acordada pela minha fada madrinha. — Eu só bebi. – Respondo me levantando e me sinto tonta, a garrafa de Whisky está vazia, então eu bebi todo seu liquido, meus braços ardem, o sangue seco causa uma sensação estranha.
— Você se cortou. – Manuela diz afirmando. Sua voz não é de raiva, e sim preocupação, ela está triste e preocupada comigo. — Eu me descontrolei. — O que aconteceu? – Ela me pergunta, me ajudando a levantar, eu me sinto fraca e tonta. — Eu fui usada. — Usada?! - Manu me leva até a cama com cuidado, era algo que eu nunca poderia reclamar é como ela me trata quando passo por qualquer crise. — Lucas.... Ele disse que ficou comigo por que queria esquecer sua ex, disse que sente dó de mim... – Conto para Manuela tudo que aconteceu, ela está com bastante ódio, eu consigo sentir só de olhar seus olhos e como ela respira, com sua ajuda retiro minhas roupas e vou até o banheiro tomar um banho, a garota vem comigo.
Ela liga a agua quente que entra em meus poros como um desintoxicante, o sangue começa a escorrer, passando pelas minhas pernas e pelo ralo do banheiro, não preciso nem me esforçar para tirar as manchas de sangue, a Manuela faz isso por mim com toda delicadeza do mundo, segundo ela, pelo que se parece eu dormi durante umas 6 horas, ou desmaiei, não sei ao certo. Desligo a agua do chuveiro, e ela do lado de fora me espera com uma toalha branca, me enrolo no tecido macio, depois segurando pela minha mão, minha amiga me conduz até a cama, onde me espera um kit de primeiros socorros, sento na cama, e assim o "atendimento começa" com um algodão ensopado de agua oxigenada ela começa a limpar os rasgos que se misturavam entre superficiais e fundos, ardem um pouco, mas eu até gosto da sensação, logo ela termina, finaliza com uma pomada cicatrizante. Sorrio em agradecimento, e sinto que isso basta a ela, vou ao meu guarda roupa, pego um pijama preto e visto, volto para cama novamente e me posiciono no colo da garota, que começa a fazer um cafune em meus cabelos molhados, fecho os olhos e demoro um pouco para dormir, não havia digerido tudo o que aconteceu, e tudo vem na minha cabeça novamente como uma espécie de karma.

— "Isso não é o bastante para mim"

— "Você não é o bastante para mim."

Acordo com um aperto no peito, dando um grito de dor, eu tive um pesadelo?! Faz tanto tempo que isso não acontece. Manuela que está na cozinha vem correndo e me abraça.

— Hey, foi só um pesadelo, fique calma, eu estou aqui. – Ela sempre vai estar aqui, eu sei disso, e saber disso me deixa aliviada. Me arrumo na cama e ela deita ao meu lado, começo a chorar baixinho, não quero que Manuela escute, tento respirar e deixar meu coração bater, mas a cada lagrima que cai, parece que engasgo em minha própria tristeza. Ainda não é hora de ir para faculdade, o relógio digital do criado mudo marca 3 horas da manhã, eu ainda tenho algumas horas de sono, me encolho por debaixo das cobertas e tento novamente dormir, fecho meus olhos, apertando o lençol entre os dedos, quando percebo adormeço. Na manhã seguinte Manuela insiste para que eu fique em casa ela diz que meus braços cortados e minha aparência de ressaca vai chamar muita atenção, no fundo sei que tem razão, então acabo por ficar em casa, na condição dela ir para faculdade, não quero atrapalhar sua vida, depois de muito implorar ela vai e eu fico, acabo por dormir o resto do dia.

Os dias se passaram rápido, eu estou mais focada nas aulas do que nunca, tento esquecer tudo, algumas vezes me lembro de coisas, por ser colega de sala dele, eu tenho em minha mente que evitaria o contato visual, mas nem precisou, ele não foi um dia se quer para aula, será que algo aconteceu com ele? Bem, que ele morra, eu não tenho que me preocupar com isso. O final de semana chega, e ele é resumido a ficar em casa ainda estudando, depois outra semana de aula e algumas provas e testes práticos, testes que eu me empolguei bastante, foi meu primeiro contato com instrumentos cirúrgicos, faço tudo com bastante fé em minhas notas, e então chega sexta feira, todos na faculdade falam de uma festa fantasia que acontece anualmente um clube quase na saída de Seattle. Ninguém mais fala de outra coisa, apenas nessa festa e o quanto todo ano ela nunca decepciona com bebidas e música. Eu não tenho vontade nenhuma de ir, socializar seria bom? Sim e apesar de gostar de festa fantasia, mesmo que eu nunca tenha ido, vejo apenas em filmes e series, acho que essa não será uma boa opção, Manuela não demonstra nenhum tipo de animação para ir e isso me deixa feliz, quero ficar em casa, e com a companhia dela será perfeito, já penso até em algo para fazer assim que chegar em casa.
Depois da aula vamos para casa, ao chegar lá vou direto para cama tirar uma soneca para começar a estudar. Acordo 10 minutos depois com a Manuela pulando em cima de mim na cama, olho pra ela com uma expressão de paisagem sem acreditar naquele acontecimento.
— Vamos a uma festa. – Ela diz me olhando animada. — Vamos?! Não, tem gente demais nessa frase? – Ela ri e me dá um tapa no ombro. — Vamos, eu e você, lindas e maravilhosas. — Manu, eu não vou, eu quero ficar em casa e estudar. — Estudar? Você está fazendo isso todo dia, você nem se quer mais está assistindo series ou lendo seus livros preferidos, você precisa ficar feliz, e entre nós duas você é a que menos gosta de estudar. — Eu estou feliz estudando, e eu puxei isso de você de te ver empenhada acabei gostando. — Você não gosta de estudar, para de se enganar. Nessa festa vai ser open bar, música eletrônica e é festa fantasia que você gosta muito. — Não temos fantasia e a essa hora não tem nada aberto. – A garota de cabelos claros sorri feliz e se levanta, corre até o guarda roupa onde da parte de cima tira uma caixa preta, a olho em negação, mas mudo minha expressão ela parece tão feliz que não quero acabar com tudo.
— Eu comprei, já faz uns dias que estou sabendo dessa festa, e como eu queria que nos fossemos juntas. Eu comprei a fantasia de duas pessoas que você gosta, talvez você não goste da sua, mas sei que não é motivo para você não vestir. – Fico calada e aceno para que ela abra a caixa, ela abre e tira de dentro uma fantasia verde, que logo deduzo que seria a Hera Venenosa, devido a peruca ruiva e todo o conjunto, sendo assim imagino que eu seria a mulher gato? Bom nada muito pior se fosse. — Tcharam!! – Ela retira a outra fantasia da caixa, quando vejo as cores fico pasma, preto e vermelho, serio? Arlequina? Logo ela? — Serio, Manuela? Arlequina? — Então eu sabia que essa seria sua reação, mas veja pelo lado bom, você ama o coringa e ela também. — Isso não foi convincente. — Quer ir de Hera? Eu visto a sua, deve ficar maior do que ficaria em você por conta da nossa altura mas faço ajustes. – Balanço a cabeça em negação, ela gosta mais da Hera e é egoísmo meu pegar sua fantasia. — Não, eu vou com ela. – Pego a fantasia e estendo, é um vestido sem alças que parece ser curto, com um espartilho no meio, e volumoso em sua saia, de cores preto e vermelho com símbolos de baralho, junto vinha tatuagens para colar no copo com o símbolo do Coringa, uma tiara com alguns pons pons da mesma cor do vestido para colocar entre o cabelo e um colar escrito Puddin. Sorrio feliz, pois aquilo demonstraria meu amor pelo Coringa. A fantasia de Manuela também é um vestido, sua tonalidade é verde e tem aspectos de folhas no tecido, o tecido verde deve ir até a metade de sua coxa, porem tem um tecido transparente que vai muito além, deixando a roupa bem sexy. — Vou tomar banho primeiro. – A garota diz e sai correndo e pulando de felicidade pois aceitei sua proposta de ir à festa, eu apenas me deito na cama, com a roupa sobre meu corpo, e a espero sair de lá.
Respiro fundo e olho para o teto, vai ser a primeira vez que saio para uma festa na cidade, pode ser a chance de me distrair ou conhecer gente nova, não sei se quero conhecer gente nova, mas distrair pode ser uma boa opção.
Alguns minutos se passam e finalmente Manuela sai do banheiro, pego minha toalha e vou fazendo o mesmo trajeto que ela, entro ligo o chuveiro e tomo banho, os cortes não estão cicatrizados, e ainda ardem com a agua quente caindo sobre eles, mas aquilo seria algo que eu tentaria não fazer mais. Desligo a agua e o vapor vai saindo, limpo o espelho embaçado, vejo meus olhos no espelho, não tem mais o brilho que a quase duas semanas atrás, eles estão vazios e frios, uma sensação de pura tristeza, eu voltei a me odiar. 

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