— Você quer que eu frite batatas? — Ela surge ao meu lado com algumas batatas em mãos.

— Seria uma boa. — Sorrio voltando a cortar os legumes.

— Lembro quando costumávamos a correr pelas plantações do seu pai. — Rachel sorri enquanto começa a cortar as batatas.

— Eram bons tempos. — Sorrio me lembrando.

— Você pretende voltar para a faculdade?

Respiro fundo e me afasto indo até a pia, lavando os legumes. Eu amava minha universidade, mas falar sobre ela é algo que ainda mexe muito comigo.

— Desculpe. Foi apenas uma curiosidade boba. — Ela gesticula nervosa.

— Tá tudo bem. — Sorrio para ela. — Provavelmente nunca mais botarei meus pés naquela universidade.

— Tudo bem. — Ela se aproxima de mim. — Deixe que eu cuido daqui. — Retira os legumes das minhas mãos.

Me afasto encostando meus quadris na bancada enquanto assisto Rachel preparar o almoço com o seu cabelo preso em um coque bagunçado e um robe cinza. Seus olhos castanhos percebem que eu estou a encarando, então ela solta uma risada tímida.

— Pare com isso. — Ela joga um pouco de água em cima de mim, me fazendo rir.

— Desculpe. — Levanto as mãos em rendição e me dá uma encarada antes de se aproximar do fogão de lenha.

— Seu nariz ficou bom, não é? — Ela me encara e eu assinto.

— Depois da segunda cirurgia ficou mesmo. — Dou de ombros.

— Eu lembro que você passou boas noites sem conseguir respirar depois da primeira cirurgia. — Ela solta uma risada nasalada enquanto mexe na panela de barro.

— Oh, sim. Foram dias difíceis. — Sorrio fraco. — Mas agora eu estou feliz com o meu nariz e consigo respirar normalmente.

Ela sorri e eu suspiro encarando o chão rapidamente.

— Por que você não foi embora? — Pergunto e ela me encara confusa. — Você sabe... quando todos nós fomos embora, você decidiu ficar aqui e cuidar da mamãe.

— Eu nunca tive uma mãe, Michael. Sua mãe sempre me criou como uma filha. — Ela sorri fraco jogando algumas verduras dentro da panela. — Não seria justo que eu a deixasse sozinha depois de tudo o que ela fez por mim. Vocês tinham muito mais motivos para ir embora do que eu. — Dá de ombros.

— Mas se você tivesse ido, você poderia vivido a sua vida. Você merece muito mais que isso, Rachel. Você poderia ter ido embora com Janet.

— Janet ia ficar com a sua mãe, mas você sabe como ela é. Ela ficou anos da vida dela vivendo nesse mundo da família. O sonho dela sempre foi viver como uma pessoa normal.

— Você desistiu da sua liberdade pela Janet?

— Eu não desisti de nada porque eu nunca tive nada, Michael. Eu disse para Janet que ela deveria ir, que eu cuidaria muito bem de Katherine, já que ela foi a única coisa que me restou desse pesadelo todo. É o mínimo que eu poderia fazer por ela e por mim.

Chicago 1945 Where stories live. Discover now