A primavera que habita em nós

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Conto escrito para o Desafio 1 do Desafio de Contos MDT.

Aviso: contém menção à morte.

A senhora de meia idade abriu as janelas da casa quando levantou

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A senhora de meia idade abriu as janelas da casa quando levantou. O sol iniciava sua jornada diária no horizonte, lançando seus raios luminosos nos cômodos da casa, e poucas nuvens adornavam a imensidão azul celeste.

Pôs a chaleira no fogão antes de ir à caixa de correio como fazia todas as manhãs, esperando encontrar o habitual: algumas contas a pagar e alguns panfletos. Contudo, enquanto passava os olhos pelos papéis, deparou-se com uma carta. Conferiu o endereço, imaginando que o novo carteiro tinha cometido um engano, mas estava correto. Então, deparou-se com o nome ao qual estava endereçada e seus olhos marejaram ao passo que seu peito parecia comprimir-se dentro da caixa torácica. Voltou para dentro e, após ajeitar o óculos, sentou-se na cadeira da cozinha e pôs-se a ler as letras miúdas cuja caligrafia lhe era desconhecida.

 Voltou para dentro e, após ajeitar o óculos, sentou-se na cadeira da cozinha e pôs-se a ler as letras miúdas cuja caligrafia lhe era desconhecida

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Querida Viviane,

Já faz algum tempo que procuro as palavras para escrever esta carta e, embora acredite que ainda não as encontrei, já não há mais possibilidade de guardá-las.

No momento em que a escrevo, estou em um banco puído de um parque da cidade. Estamos no início da primavera, há flores por todos os lados e os raios de sol que atravessam a folhagem da grande árvore sobre mim e que alcançam minha pele aquecem-na como se eu pudesse desabrochar e fosse parte integrante dessa época primaveril. E, de fato, é como me sinto.

A primavera é o momento de início. É quando as flores desabrocham após enfrentarem as intempéries do inverno e pintam a tela do mundo com uma extensa paleta de cores e sinto como se me colorissem também. A vida germina dentro de mim com tanta força que é impossível sentir e não sorrir.

Entretanto, nosso ponto inicial está no outono. É nessa estação que as folhas caem e, assim como elas, eu estava prestes a cair e isso não é nenhuma hipérbole. Esse era um fato que há muito tempo estava estabelecido e pouco podia ser feito para mudá-lo definitivamente. Então, eu aceitei a fibrose cística e por muito tempo isso me pareceu fácil mesmo com toda a rotina e disciplina necessária. Até que comecei a perder partes da minha vida e já não parecia mais tão fácil assim. Aos poucos, fui tirada de uma adolescência colorida como a primavera e jogada em um mundo sem cor.

Recanto dos contosWhere stories live. Discover now