19 | antes | não estou bem

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— E — meus lábios ansiosos expelem aquela vogal.

Nora traga a saliva. Meu coração se inquieta. Me fazendo recordar o motivo de não ser adepta a exames de rotinas. Odiava aquilo.

— Seu útero tem uma deformidade — um balde de água frio é jogado contra meu corpo que queima — Ele não se desenvolveu como o esperado para uma mulher da sua idade.

Minhas pálpebras abrem e fecham-se, enquanto minha mente gira vertiginosa, em queda livre, onde meus dedos se estendem em direção a algo, que não aparece para me agarrar.

— E isso significa o que? — aquela pergunta escapa por entre os meus lábios sem um planejamento.

A mulher diante dos meus olhos remexe seu corpo na cadeira de couro. Enquanto meus dedos fincam-se no inanimado braço da cadeira que ainda sustentava meu corpo.

—Lennon — seu corpo reclina-se para frente, juntamente com suas palavras direcionadas a mim — O seu útero é pequeno, como o de uma criança — aquela informação é silabada por seus lábios, como se pudesse me quebrar — Você até pode engravidar, mas as suas gestações nunca chegarão ao fim.

Eu caio.

Meus dedos fincam-se no apoio da cadeira que não me segura.

Minha mente gira e gira.

O vazio se acentua.

E tudo que eu não sabia que queria, escapa como água por entre meus dedos impotentes. Minhas narinas fungam um soluço, uma ameaça de emoções que começam a emergir do meu interior.

— Então eu não posso ter filhos? — aquelas palavras saem como um questionamento, mas para os meus tímpanos chegam quase como uma informação silenciosa.

E tudo o que eu não sabia que queria, começo a passar a desejar, ansiar, como se minha vida dependesse disso. Era incrível, jamais quis um filho, mas agora que não podia, meu interior sangrava pela criança de cabelos negros ou castanhos, olhos castanhos ou de avelã, menino ou menina, que jamais iria carregar em meu ventre, segurar em meus braços ou vislumbrar correr entre minhas pernas.

— Como eu disse — gentilmente os sonhos, que até aquele momento não tinha, são roubados de mim — Você pode engravidar, mas em algum momento seu corpo vai acabar abortando o feto — as palavras chegam a mim, mas minha mente não consegue processa-las com uma clareza devida — E se por algum milagre a gestação avançar a criança pode nascer prematura e não resistir.

Aceno.

Sem realmente aceitar aqueles fatos.

— Entendo — concordo.

Sem realmente concordar.

— Existem tratamentos — os lábios da médica proferem sem muita credibilidade aquela informação — Mas a eficácia depende de caso a caso.

Finalmente meu corpo choca-se contra algo duro. Não sou de vidro, mas me quebro em mil. Enquanto tudo o que eu não sabia querer me é roubado. Arrancado sem piedade, pela vida, por meu corpo imperfeito que esqueceu de desenvolver uma pequena peça do meu interior.

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Sempre sua Garota [✓]Where stories live. Discover now