Tessala Velásquez pensou que ao se mudar para uma cidade interiorana boa parte de seus problemas estariam resolvidos. Recomeçar em um lugar onde ninguém a conhecia parecia um plano excelente e livre de falhas.
Bem, isso até que Benjamin colocasse...
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--- Quando será que ela vai calar a boca? --- perguntei a Lucas que se encontra esparramado no sofá da sala assim como eu.
Ele apenas sacudiu a cabeça para os lados e voltou a olhar para o desenho na tevê.
Marie está a minutos falando sem parar sobre os prós e contras de ir a RoseRed desde o momento em que ela viu o convite e eu disse que não iria.
Inconformada, ela começou a montar uma lista enorme de motivos para ir, e os primeiros são: a) mesmo agindo como uma jovem senhora, eu ainda tenho vinte anos e, b) eu, muito provavelmente, na cabeça dela, é claro, posso me arrepender se não for.
--- Você por acaso acha que sua juventude vai durar para sempre Tessala? Se sim, saiba que não! Passa como um sopro, e logo você olha pra trás e tenta se lembrar como foi e não encontrará nada, porque não há algo que valha realmente a pena lembrar. Nem lembranças suficientes você terá, afinal, não viveu de verdade.
--- Eu não estou muito preocupada com isso no momento. Me enfiar na muvuca de universitários bêbados não vai me garantir uma vida plena.
Ela me olhou séria e colocou as mãos na cintura.
--- Olha aqui, você vai se arrumar, ficar mais linda do que já é, colocar uma roupinha que realça os atributos que você herdou e desfilar toda a sua beleza por entre a multidão de universitários loucos.
--- Senão?
--- Vai dormir no corredor, porque eu vou te colocar pro lado de fora, você querendo ou não. Então aconselho que saia, ou fique em frente a porta, tanto faz. --- É claro que foi uma ameaça. --- E não ouse pagar pra ver! --- E, é claro, ela apontou o dedo para mim.
Eu sei que ela com certeza fará isso, convivemos a tempo suficiente para eu não ter dúvidas, mas não posso deixar de provocá-la.
Cruzei os braços sobre meu peito e sorri.
--- Ainda não me convenceu. --- é claro que ela me ignorou.
Não poderia ser diferente.
--- Será que tem algo que preste nesse seu guarda roupas? --- Me levantei em um pulo e corri para o quarto.
Encontrei Marie parada em frente ao meu guarda-roupas, com as portas abertas, já pronta para vasculhar cada centímetro.
--- Não! --- corri e me coloquei em sua frente. --- Eu já sei o que vou vestir. Não precisa se preocupar com isso. --- ela se afastou por reflexo e aproveitei para fechar as portas.
Sua expressão não é muito boa e ela parece estudar cada um dos meus movimentos. Esperando que eu entregue o que ela ainda não conseguiu perceber por descuido.
--- Estou bem curiosa para ver o que escolheu. Ah, não! Me deixe adivinhar. --- ela chacoalhou a mão exagerada e com falso entusiasmo. --- Provavelmente jeans e algum suéter horroroso em uma de suas cores favoritas. Vai ser preto ou marrom? Talvez cinza. Estou certa?
