– Sim. Posso fazer isso, né? Digo, como amigo... Ou estou ultrapassando os limites da amizade ao te pagar um sorvete?

Ele se explicou, soando um pouco irritado.

– Cristián, não é isso... Só queria agradecer. Não precisava!

– Não foi nada.

O jogador respondeu.

– Pai, você prometeu que eu ia poder brincar no parque, não foi?

Sofia disse, cobrando do pai.

– Sim, mi amor. Vamos andando, até chegarmos lá você termina seu sorvete.

– A Carina vem junto, não é?

A pequena perguntou ao pai, que devolveu a pergunta a mim – rindo como quem quer mostrar que não era sua culpa. – Sofia simplesmente gostava mesmo de mim:

– Você vem, Carina?

– Hum... Claro, vou sim.

Respondi, diretamente à criança; que comemorou e continuou saltitante sendo guiada pelo pai até o playground, em uma praça, cerca de 3 minutos de caminhada distante da sorveteria onde estávamos.

– Guarda para mim?

Sofia pediu, entregando seu potinho de sorvete ao pai para ir brincar.

– Filha, termine de tomar com calma. Os brinquedos não vão sair daqui.

Cristián disse, ao perceber que; apesar de ter pego o menor tamanho de sorvete disponível para Sofia; ela ainda assim não tinha tomado tudo.

– Estou satisfeita.

Sofi respondeu, convencendo o pai a pegar a sobremesa para si e correndo em direção aos brinquedos na pracinha.

Eu e Cristián então ficamos a sós, cercados de outros pais que observavam os filhos brincando.

De alguma forma, mesmo sabendo que compartilhamos momentos infinitamente mais íntimos que esse, estar perto dele em silêncio me deixava extremamente constrangida.

– Cris, eu...

– Sabe o que eu...

Tivemos a ideia de quebrar o gelo ao mesmo tempo e, depois da formalidade de "pode falar", "não, diga você primeiro..." resolvi dizer a ele o que estava pensando:

– Na verdade, só queria te pedir desculpas por agir estranho às vezes quando você tenta ser simpático comigo. Essa situação toda de amizade con derechos é nova para mim e eu sinto como se precisasse me certificar o tempo todo de que não vamos ter nada além. Mas não faço por mal. Só queria te dizer isso. – Expliquei, ainda tomando meu sorvete, evitando contato visual com o jogador – O que você ia dizendo?

Perguntei.

– Ia dizer que esse tamanho "pequeno" engana, tem mais sorvete de unicórnio aqui do que eu gostaria de ter que tomar.

Cristián respondeu, com um sorriso ladino.

O fato das nossas falas terem assuntos e importâncias totalmente diferentes, nos fez rir.

Depois de mais um longo silêncio constrangedor, ele perguntou:

– Foi um trauma grande, não foi?

– Como?!

Perguntei, sem entender muito o comentário que, à princípio, me pareceu totalmente aleatório.

– Você precisa se certificar de que não seremos nada além de amigos, porque... Deve ter se machucado feio no amor para não querer viver isso com mais ninguém. Estou certo?

Amigos Con DerechosWhere stories live. Discover now