Depois de algum tempo de busca sem sucesso, desisti. Se deparar com uma calcinha desconhecida ao acordar não parecia ser um grande problema para o dono da casa e eu não via problema em ficar sem as vestes íntimas por alguns minutos. Afinal, eu apenas ia entrar no carro e depois chegar em casa... Rápido e simples assim.

Pé ante pé, com meus sapatos em uma das mãos e minha bolsa na outra, comecei a procurar por um caminho que me levasse para fora daquela casa.

Percorri todo o corredor, desci as escadas em direção à porta principal e percebi que ela estava trancada e que as chave não estavam em nenhum lugar por perto. Assim seria impossível sair dali.

Segui caminhando à procura de uma saída alternativa pelo andar, mas também não encontrei.

– Ótimo!

Resmunguei.

Dois passos à frente, parei diante do espelho da sala. Apesar da aparência bagunçada (eu nem imaginava o porquê) do meu cabelo, os fios não tinham sequer um pouco de frizz. Foi aí que me lembrei que dormira sob roupas de cama de seda e concluí que a recomendação das blogueiras de moda à respeito dessa aquisição para a saúde capilar tinha seu fundo de verdade.

O lugar estava tão silencioso que eu podia ouvir o som de minha própria respiração e quase conseguia escutar meus batimentos cardíacos me implorando para sair logo dali.

Me aproximando da cozinha, me deparei com um corredor. Como não tinha nada a perder e tinha plena convicção de que não poderia ficar mais presa do que já estava, segui por ali e parei diante de mais uma porta de vidro. Empurrei e puxei, sem sucesso.

– Droga!

Reclamei, batendo a mão na parede ao lado. Foi quando, quase que magicamente, a porta se abriu e eu percebi que meu tapa raivoso na parede acertou um botão que ativou a abertura da porta. Mal acreditei. A porta fechou sozinha depois de algum tempo, mas agora que eu já sabia da existência do botão, apertei mais uma vez e corri para fora, deixando que ela se fechasse atrás de mim.

A sensação de liberdade durou pouco. Mais precisamente, até eu perceber que estava presa no jardim e que dali não teria qualquer acesso à rua. Tentei voltar para dentro da casa, também em vão, porque a porta não abria de fora para dentro, apenas o contrário.

Se existiu o Jesus de quem fala a Bíblia, nesse momento tive certeza de que em alguma vida passada eu cuspi na água que ele fez virar vinho. Isso só podia ser um castigo.

Eu estava presa no jardim da casa de um desconhecido, enquanto ele dormia e eu não fazia ideia de quanto tempo demoraria até acordar. Não havia sequer um banco ou poltrona à vista, apenas um monte de grama; sob o qual eu poderia me sentar confortavelmente, caso estivesse devidamente vestida com minha peça íntima.

– Por que não chove de uma vez?

Resmunguei, olhando para o céu nublado de Madrid e ouvindo um estrondoso trovão como resposta do universo à minha pergunta afrontosa.

Não passaram mais de dois minutos até começar a chover.

Tentei proteger minha pequena bolsa de festa na qual estava meu celular – sem bateria – dos pingos de água gigantes que despencavam do céu, mas a chuva estava ficando cada vez mais pesada e em pouco tempo eu já estava ensopada da cabeça aos pés. A vida estava me pregando uma peça terrível e olha que já fazia quase um mês desde o Halloween – uma época nada agradável para um banho frio de chuva na Europa, acredite.

Não faço ideia de quanto tempo demorou, mas sei que para mim pareceram anos, até que percebi a luz da cozinha por onde saí para o jardim se acender. Isso só poderia significar uma coisa: Alguém estava ali.

Me levantei do chão (em determinado momento não aguentei continuar em pé e, ignorando todos os insetos e grama que poderiam entrar em locais indesejáveis, me sentei no gramado.) e corri em direção à porta como se minha vida dependesse disso.

O rapaz, que não parecia ser muito mais velho que eu, tinha um tom bronzeado muito bonito na pele. O cabelo estava cortado em um undercut de onde começava uma barba que estava por fazer, mas que de certa forma agregava um charme especial ao seu rosto.

Ele vestia apenas uma cueca boxer de pijama, deixando amostra várias das tatuagens que tinha espalhadas pelo corpo, e manuseava uma cafeteira grande enquanto casualmente usava o celular, quando o assustei com dois socos fortes na porta de vidro.

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