Capítulo 13: Não há cura sem tentativas

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Estar na sala de espera do consultório da psicóloga era como estar nas profundezas do mar. Como no conto da Pequena Sereia. Havia um aquário gigantesco em uma das paredes - aquário esse no qual os olhos de Rafaella estavam fixos - e ele era repleto de peixes tropicais e crustáceos mediterrâneos. As outras paredes eram em um tom claro de azul e decoradas com fotos de ondas marítimas e animais marinhos. Bianca podia afirmar com toda certeza que aquele era um ambiente familiar, e a prova disso era um baú de brinquedos em um canto da sala e uma mãe com seu bebê que estavam no banheiro a mais de vinte minutos.

Talvez ela devesse avisar para alguém ir checar se eles estavam bem.

"Senhorita Andrade e Senhorita Kalimann, a Dra. Assis vai atendê-las agora." A recepcionista disse com um sorriso e indicou o corredor que as levaria para o consultório.

Bianca se levantou e viu Rafaella desviar o olhar do aquário. Ela sorriu porque os lábios de Rafaella estavam verdes por causa do pirulito de maçã verde que ela havia comprado no caminho.

Bianca pegou as mãos de Rafaella que pareciam estar congelando e também estavam um pouco úmidas e trêmulas. Elas entraram no consultório juntas. Bianca estava sorrindo abertamente, mas ainda de olho em Rafaella.

Rafaella parecia estar andando na prancha de um navio pirata, prestes a pular no mar para morrer afogada. Com a boca toda verde.

"Bom dia, Senhorita Andrade! Senhorita Kalimann!" A psicóloga cumprimentou com um sorriso. Seus olhos gentis brilhavam enquanto ela indicava as cadeiras para que elas se sentassem.

Bem, pelo menos ela não era esquisita. E ela não era tipo, quatro vezes mais velha que elas ou mais. Por Deus, nem mais nova que elas. Além do mais, sua sala de espera era muito bonita e aconchegante. Até aquele momento, ela estava passando pela avaliação de Bianca.

"Eu sou a Dra. Assis, mas vocês podem me chamar de Thelma. Ou Thelminha. Tudo bem se eu chamar vocês de Bianca e Rafaella?" Ela perguntou.

Bianca assentiu. "Claro! Prazer em conhecê-la." Ela olhou para Rafaella para ver se ela responderia.

Os olhos de Rafaella estavam vagando pelas coisas em cima da mesa da doutora. Coisas normais, tipo, um grampeador e um pote enorme cheio de clipes de papel, e havia outras coisas mais, como um calendário e um polvo de pelúcia. Rafaella não respondeu, apenas esticou a mão distraídamente para tocar o polvo.

Bianca sorriu para ela carinhosamente. Thelma inclinou a cabeça e juntou as mãos em sua mesa.

"Tudo bem, eu não sou o tipo de pessoa que gosta de cerimônias," Thelma começou "então vamos dar início e começar nos conhecendo melhor. Tudo bem? Como por exemplo, o motivo de vocês terem sentido que precisavam de ajuda psicológica."

Bianca estava ouvindo atentamente e pensando no que dizer. Ela estava feliz pelo fato da Dra. Assis não ter tirado um caderno do nada e ter começado a escrever. Foi exatamente isso que seu psicólogo fez no ensino médio, e isso a deixou com um complexo paranoico. Ela saia das sessões mais louca do que havia entrado, sob as suspeitas de que estava sendo gravada e julgada sem seu conhecimento e consentimento.

Thelma apenas ficou sentada, esperando. Bianca se deu conta de que ela era quem teria que começar a falar, o que para ela estava de boa, afinal de contas ela era Bianca Andrade.

Rafaella ficou quieta com suas mãos em seu colo e os olhos fixos no polvo.

Bianca respirou fundo e tentou formular algo para dizer sem que isso a fizesse parecer uma tagarela. Aquilo era difícil.

"Bem... Eu-Rafa e eu sentimos que precisávamos de alguém para conversar. Um profissional, porque...".

Como ela poderia especificar o porquê sem fazer com que Rafaella parecesse uma louca?

Just off the Key of Reason (Rabia Version)Where stories live. Discover now