Cânfora (parte 2)

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— Maninha, eu não vim apenas matar saudades – disse o professor após um longo suspiro. — As senhoritas Toraya e Sugimoto vieram comigo como testemunhas de uma situação delicada envolvendo justamente seu mangá.

— Oh céus! Eu as ofendi tanto assim...?

— A Aiko é real e ela é minha aluna. Seu nome verdadeiro é Aika Akatsuki dos Anjos e está presa em Gattai.

Silêncio. Tsubasa piscou e inclinou a cabeça, confusa. Mieko se encolheu apertando a borda do vestido, sem conseguir encará-la. Lis mexeu os dedos das mãos, vendo entre eles a expressão de Tsubasa com seu coração batendo mais rápido que doía seu peito.

— O que você disse?

— Não sei como falar sobre isso de forma mais gentil. Lembra dos poderes do Mon-en? Do que eu te contei e que meus pais e antepassados guardam de geração em geração?

— Mano, eu não acredito no sobrenatural – Tsubasa bateu a xícara na mesa. — Para mim, toda aquela confusão anos atrás não passou de uma série de coincidências!

— Tsubasa...

— Humanos não precisam de influências sobrenaturais para serem cruéis, eles apenas são! – Lis e Mieko se encolheram. Agora Tsubasa não parecia delicada ou fofa: — Nós, autores, que criamos esse sobrenatural nas histórias para ajudar a aliviar a angústia de nossos leitores, para dar-lhes forças contra seus inimigos reais. Antigamente, deuses, fantasmas ou youkais eram apenas desculpas para que a humanidade continuasse a cometer atrocidades!

Fez-se um silêncio pesado entre os dois. Isao continuou firme:

— Eu sei disso. Não estou justificando as ações dos moradores de Namimeido por conta dos fantasmas. A questão é que o sobrenatural existe e, infelizmente, você está ligado a ele. Kurikara e Gattai existem. Talvez Kinryuu tenha existido, mas agora, o Mon-en escolheu a você minha aluna depois de anos adormecido, e ela está presa em Gattai correndo grande perigo!

Era vez de Tsubasa apertar os olhos. Seu rosto estava corado e lágrimas ameaçavam escapar.

— Por que está fazendo isso comigo? – perguntou. Não era preciso conhecê-la a anos para saber que estava de coração partido. Isao tirou os óculos e a encarou:

— Tsubasa, por favor...

— Por favor digo eu! Se veio para isso, peço que vá embora!

— Não posso ir até você me dizer o que aconteceu a Aika. Eu prometi a elas! – disse Isao.

— Quanto você está ganhando para fazer essa palhaçada comigo? Logo você? Achei que fosse como uma irmã para você!

— E você é!

— Não estamos mentindo, podemos provar! – exclamou Lis, tremendo, puxando as penas da bolsa e buscando na memória algo que talvez só ela e Tsubasa soubessem sobre Aika. — Sei informações sobre a Aiko que ninguém mais sabe! Você ilustrou exatamente a rua Uruguai, onde ela foi baleada!

— Busquei referências por lá com o Google Maps depois que achei uma reportagem sobre uma garotinha cosplay de Kinryuu que foi baleada anos atrás. E daí? – respondeu, de braços cruzados e olhos marejados. Era nítido que Tsubasa não queria briga.

— Você desenhou a mim e ao meu tio também! Eu sou a menina que a Aika defendia! – exclamou Mieko, entrando na discussão sacando o celular e mostrando uma foto do tio dela. Tsubasa olhou por um instante e deu de ombros.

— O nome dela é Aiko e caras carrancudos assim encontro em qualquer esquina para desenhar – respondeu, deixando Mieko estarrecida.

— A garotinha que você mencionou de uma reportagem era a Aika! — disse Lis. — E se lembra daquela notícia, se lembra de uma garota com cosplay de Rie ao seu lado. Essa cosplayer era eu!

Aika 3 - préviaOnde histórias criam vida. Descubra agora