Capítulo 11

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 Acordei com Kalel dedilhando minhas costas. Ele fazia movimentos leves. Eu me virei vagarosamente, ainda extasiada pelo sono.

— Está se divertindo? — Pude ver seu riso leve.

— Não sabia que tinha marcado uma lua nas costas.

— Era nisso que estava passando os dedos? — Ele balançou a cabeça em concordância. — É uma marca de nascença.

— Bastante peculiar.

— Também acho, quando era pequena sonhava em encontrar alguém com o mesmo símbolo estampado nas costas. Lembro do dia em que fui adotada. Uma das freiras, a irmã Lucinda, acabou me entregando um papel que dizia "Deixe o mais belo astro iluminar sua escuridão. Seu pai um dia voltará para desfazer sua solidão."

— Acha que seu pai tem a mesma marca de lua?

— Provavelmente. — Dei de ombros. — Ele nunca voltou, talvez esteja morto. Como eu saberia?

— O que eu sei é que o sol já nasceu e é melhor nos vestirmos antes que mais um guarda invada meus aposentos.

— Ou que um de seus criados venha preparar seu banho.

— Eles não vêm sem que eu peça, gosto de fazer minhas coisas sozinhos, não sou o tipo de pessoa que aprecia a dependência.

— Então gosta de estar no controle?

— Não quis dizer isso. Não diria que não gosto do poder. Contudo, não tenho a necessidade de controlar tudo, até mesmo porque isso seria impossível. Quando digo dependência, não digo apenas de um apreço por fazerem tudo por mim, mas também da dependência emocional, por exemplo. — Sua voz era firme. — Vou pegar algumas roupas. — Ele adentrou o closet.

Kalel falava muito bem. Fora criado para ser comunicativo e persuasivo, afinal de contas, ele precisava controlar multidões. Deveria governar toda Vênus, ter pulso firme. E eu sabia, desde seu discurso, tanto para me defender de seu pai, quanto em meio aos rebeldes, que ele nasceu para ser rei. Mesmo que o próprio sinta que precisa provar isso a todos, mesmo que Lorenzo negue, mesmo que seu próprio pai tenha suas dúvidas. Eu sabia que não tinha ninguém melhor do que ele para impor a autoridade que a coroa passava. Que meu pai perdoe meus pensamentos. Entretanto, nossos pensamentos divergiam em diversos ideais. Ash nunca parecia disposto a me escutar, eram raras as vezes que eu tinha voz ativa sem precisar me impor. Sei que fui criada para que ninguém conseguisse me calar e que seu objetivo era que eu de fato me impusesse. Porém, aquilo era cansativo, mesmo que eu não demonstrasse, não queria estar a todo momento tendo que me provar necessária. Acho que Kalel entende isso, ele sempre está disposto a me ouvir, por mais absurda que seja a ideia, como fugir de um palácio para entrar em uma fortaleza rebelde que quer destruir tudo aquilo que ele representa. O príncipe não se amedrontava, ele queria conhecer seu povo, saber o que os indignava. Isso sim é o que um rei deve fazer.

Kalel estava se vestindo bem a minha frente. O corpo dele parecia uma obra prima. Era difícil descrever com precisão, eu fiquei encantada ao analisar cada milímetro dele. Suas costas largas, os ombros retos, abdômen bem definido. Tudo nele era proporcionalmente perfeito. Kalel era bem alto, mais de 1,80m. Porém, menos de 1,90m... 1,85m? Talvez. Suas mãos, seus pés, seu... Nada era desfavorável. Não conseguia citar algo nele que desagradava minha vista. Porém, eu sabia o que mais me felicitava. Sua marca de espada quebrada estampada em seu peito me lembrava o porquê ele me atraia tanto. Sebastian poderia ser um príncipe, portar-se como um cavalheiro, mas eu sabia que no fundo ele só queria se libertar de todos os procedimentos padrões impostos a ele desde a sua legitimação. Um rebelde incubado que exalava sinceridade, mas que ao mesmo tempo instiga curiosidade. Eu me questiono como alguém poderia ser tão sincero e, ainda assim, esconder tanta coisa. Eu o olhava de cima abaixo. O herdeiro enfim me lançou seus belos olhos verdes que combinavam perfeitamente com os cachos dourados de seu cabelo. Ele sorriu para mim, sabia que não conseguia conter meu riso, foi assim que percebi. Eu estava completamente rendida. Não. Eu não poderia estar. Não poderia me render tão fácil assim. Eu era uma guerreira. Eu sou uma guerreira! Ainda que tenha meu ponto fraco. Meu coração. Prometi a mim mesma que não deixaria outro alguém o machucar. Noah poderia não ter tal intenção quando foi embora. Ele tinha medo de ser rejeitado, mas foi corajoso ao contar o que sentia. Mal sabia ele que aquilo destruiu meu coração em pedacinhos. Agora nem mesmo eu sei o que sobrou dele. Um conselho que eu daria às gerações: Nunca deem seus corações, deixe-os serem roubados, mas não o entreguem ao primeiro amor. Vocês não os amam, apenas idealizam a perfeição em alguém que nunca se demonstrou ser assim. Ninguém é perfeito, não se apaixonem pela imagem que criaram de uma pessoa. Essa é a pior auto sabotagem que poderiam cometer. Meu príncipe, Kalel, devo pedir perdão, pois acho que criei uma imagem completamente equivocada sua. E eu me amaldiçoo por cair nas armadilhas que a minha própria mente criou. Talvez esse castelo estivesse me deixando louca, ou talvez eu só precisasse que fechasse sua calça.

Golpe de Estado (Coroa de Vênus - Livro 1)Where stories live. Discover now