Capítulo 5 - Violet (Degustação)

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Acordei sentindo todos os músculos do meu corpo protestarem. Também não podia ser diferente, tendo em vista que aquele colchão fino sobre o chão, além de sujo, era composto por uma quantidade mínima de espuma, que, em decorrência dos vários buracos espalhados por ele, se tornara ainda mais escassa.

Fechei os olhos fortemente e respirei fundo, tentando achar alguma força que pudesse me ajudar a suportar mais um dia naquele lugar horrendo. Espreguicei-me e logo me levantei, pois sabia que continuar deitada só me deixaria mais dolorida. Nem me preocupei em levantar a barra do vestido para não cair e, com passos lentos, segui para perto da pequena janela, querendo ver algo além dessas paredes sujas. Ao me aproximar dela, tentei olhar para fora, mas não consegui ver nada além do céu cinza, pois ela se encontrava numa altura muito superior a minha, de modo que eu, ao olhar para cima, só conseguia ver as nuvens cheias, alertando-me sobre a chuva iminente.

Fiquei alguns minutos, ali, parada, apenas desejando poder ver mais do que o que me era permitido, mas logo meu pescoço começou a latejar e fui obrigada a baixar a cabeça.

Sem ter mais o que fazer, retornei ao colchão e me sentei, encostando-me na parede enquanto pensava em como a minha vida havia mudado em menos de dois dias. Porém, o mais estranho não era isso, e sim o fato de eu ter a sensação de que estava trancada ali por muito mais tempo do que apenas aquelas quarenta e oito horas, como se fizesse meses desde o dia em que eu acordei, triste, achando que me casaria com o Thomas para salvar a empresa do meu pai, que ele tinha, por burrice e teimosia, quase falido.

Bufei, irritada.

E eu achava que nada poderia estragar mais minha vida já desastrosa, mas o destino me provou que, sim, muita coisa poderia acontecer em apenas alguns segundos, quanto mais em dois dias!

Tentei não pensar na minha família, no meu noivo - que, apesar de eu não amar, era o meu melhor amigo e deveria estar preocupado comigo - e em Mary e Charlie -, que foram os últimos a me verem e deveriam estar igualmente agoniados com o meu sumiço -, mas não obtive êxito. Sempre que tentava me distrair, contando as várias rachaduras da parede à minha frente, imagens deles me vinham à mente, e desejei pela milésima vez ser apenas uma garota normal, que não foi obrigada a abrir mão do seu sonho de fazer uma faculdade, para se casar, ser uma boa mãe e dona de casa, e que agora estava trancafiada em um porão sujo e frio, porque, por algum motivo que desconhecia, foi sequestrada.

O que eu tinha feito para merecer isso? Que eu me lembre, sempre fui uma boa filha, tirava notas altas, sempre procurava obedecer meus pais - por mais que eles, muitas vezes, me desprezassem, como se eu fosse apenas uma criança qualquer a quem eles eram obrigados a aturar, e não a filha deles. Então, por que estava sendo castigada tão duramente? Por mais que eu procurasse respostas, eu não conseguia encontrá-las!

Frustrada, senti as lágrimas inundarem meus olhos, querendo, a todo custo, transbordar, mostrando toda a dor que me assolava naquele momento. No entanto, balancei meu rosto, tentando afastá-las. Não queria continuar chorando toda hora, por mais motivos que eu tivesse para isso. Eu teria que ser forte de agora em diante, e procurar não enlouquecer durante as horas em que ficaria ali, apenas pensando na vida, e nas coisas ruins que me aconteciam.

Passaram-se alguns minutos, talvez horas, e eu continuava sentada, olhos fechados e pensamentos bombardeando minha mente a todo instante, mesmo contra minha vontade. Até que, mais uma vez, senti meu pescoço latejar, assim como minha coluna, e lentamente fui deixando meu corpo tombar para o lado, deitando-me e procurando me concentrar em qualquer coisa que não fosse aquele odor horrível que emanava do colchão e de vários outros lugares do porão.

Lembrei-me de uma música qualquer e comecei a cantarolá-la em pensamento. Porém, fui obrigada a parar assim que escutei o barulho que a porta fazia ao ser aberta, e imediatamente fiquei alerta, prestando bem mais atenção ao meu redor, pois sabia que ele estava ali.

Raptada (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora