Capítulo 2 - Ethan (Degustação)

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Escutei sua voz fina protestando, vinda do banco de trás, porém não a dei ouvidos. Apenas continuei dirigindo como se ela não tivesse falado nada.

- Não está me ouvindo? - gritou, deixando notório todo o seu desespero e confusão.

Para que não me causasse problemas, resolvi inventar algo, torcendo para que ela não me fizesse mais perguntas.

- Estamos indo à igreja, senhorita.

- Mas não é este o caminho! - exclamou, agitada.

Olhei brevemente seu rosto pelo espelho retrovisor, notando como estava desconfiada de minha atitude. Porém, não me importei. Continuei a seguir o plano que eu havia traçado, esperando veementemente que não viesse a ter nenhuma interrupção que pudesse pôr em risco todo o meu trabalho.

- Apenas tive que desviar da rota, pois fui informado que há um engarrafamento em uma das ruas por onde passaríamos - limitei-me a explicar, me controlando ao máximo para não perder a paciência.

Essa garota ia me dar trabalho, disso eu já não tinha dúvidas. No entanto, eu já esperava por algo assim, e um plano tão bem arquitetado como o meu dificilmente poderia ter falhas.

Passei anos alimentando esse ódio dentro de mim, por aquele desgraçado que acabou com toda a minha família. Se não fosse por ele, meu pai ainda estaria vivo. Não teria se entregado a depressão, que foi crescendo a cada vez mais, a cada ano que ele passava na prisão e logo após ter saído dela.

Por culpa dele, eu não pude crescer ao lado do meu pai. Passei fome junto à minha mãe nos primeiros anos em que ele ficou ausente, porque estava pagando por um crime que não cometeu! E eu não iria perder agora.

Minha vingança só estava começando!

A garota havia ficado quieta novamente, porém eu podia ver a pontinha de tensão em cada ação dela. Mas não me foquei muito nisso. Procurei me apressar na estrada para que nada desse errado. Não poderia me arriscar e, tampouco, não seguir à risca cada ação planejada minuciosamente por mim.

Dobrei o carro para a direita, entrando em uma rua pouco movimentada e continuei seguindo em linha reta, até que achei a entrada do túnel subterrâneo abandonado, onde antigamente servia de passagens para carros, mas que, por problemas estruturais, precisou ser desativado.

Escutei um barulho vindo do banco de trás e, ao olhar por cima do ombro, vi a garota forçando a maçaneta da porta, tentando abri-la, mas não obtendo sucesso, já que todas elas estavam devidamente travadas. Não havia como ela escapar.

Essa imagem me lembrava muito a de um cordeiro desesperado, procurando algum meio de fugir do lobo, que, no caso, seriam ela e eu, respectivamente. Ver o seu desespero só me dava ainda mais satisfação e um prazer indescritível por saber que eu estava conseguindo o que queria.

Assim que parei, destravei as portas e saí do carro, dando a volta rapidamente nele, até estar em frente à porta que ela ainda tentava abrir.

Acho que o desespero era tanto que ela não havia conseguido abri-la, talvez nem tivesse percebido que eu as tinha destravado. Seria bem interessante deixá-la fugir, só para brincar um pouquinho com ela de gato e rato. Se bem que ela não teria muita chance. Logo eu ganharia.

Assim que me viu pelo vidro da janela, seus olhos de um tom cinza escuro se abriram ainda mais - se é que isso era possível - e ela foi se afastando, com medo de mim, indo abrir a porta do outro lado para tentar escapar. Contudo, eu não estava com muita paciência, e o tempo chegava ao seu limite. Logo dariam por falta dela e as buscas começariam.

Raptada (Degustação)Where stories live. Discover now