Capítulo 4 - Ethan (Degustação)

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Quando finalmente escutei sua resposta - após alguns segundos de silêncio que mais me pareceram anos -, estiquei minha mão, apontando para o caminho em que nós havíamos vindo, e afastei-me um pouco para lhe dar passagem, deixando-a ir na frente.

Um pouco desconfiada por minha atitude, hesitou, enquanto me olhava de um jeito estranho, como se eu tivesse duas cabeças ao invés de uma. Porém, não demorou muito para fazer o que lhe indiquei, tendo que arrastar aquele maldito vestido, que já estava me tirando do sério, por todo o caminho. Em alguns momentos, tive que parar de andar e esperar que ela desse mais alguns passos, para não correr o risco de pisar na cauda longa e causar um acidente. Não sei como as mulheres conseguiam andar com aquelas coisas arrastando pelo chão sem pisar e cair - principalmente ela, em especial, que era tão pequena e magra. Acho que o peso do tecido era maior do que o do seu próprio corpo.

Pensar nisso só me fez ver que eu precisava arrumar outras roupas para ela - não porque eu me preocupasse com o seu bem-estar, mas porque, além de odiar esse monte de pano, eu deveria sempre estar preparado para qualquer eventualidade que viesse a surgir. E, por mais que eu achasse isso muito improvável de acontecer, não poderia descartar a hipótese de sermos encontrados e, consequentemente, precisarmos fugir às pressas.

Com esses pensamentos rondando a minha mente, refizemos o caminho até a sala.

- O que quer comer? - perguntei, surpreendendo-a. Ela me olhou por uns segundos, muito provavelmente estranhando meu comportamento amigável, mas, em seguida, desviou o olhar para seus pés.

Esperei uma resposta, por mais que soubesse que ela não falaria nada, e, como eu imaginei, ela ficou mesmo calada.

- Não me escutou? Eu falei com você! - exclamei, com um tom de voz mais alterado. Eu odiava ser feito de bobo e era justamente isso que ela estava fazendo comigo.

- E-Eu... - gaguejou baixo, porém parou por aí. Fiquei esperando que prosseguisse, mas os segundos só se passavam e seu silêncio teimava em continuar.

Respirei fundo, buscando todo o autocontrole que existia em meu ser.

- Eu não vou mais perguntar. Se você não me responder, vai voltar para aquela merda daquele porão, e ficará com fome! - grunhi, completamente irritado, segurando fortemente o seu braço direito.

Seu corpo se sobressaltou, provavelmente por causa do susto, e se aproximou do meu, de modo que suas mãos se apoiaram em meu peito, impedindo que ficássemos completamente colados. Pude ver seus olhos se arregalarem de medo e seu rosto ficar ainda mais branco do que já era normalmente.

Controlei a respiração e trinquei os dentes, para logo em seguida afastá-la de mim de um modo brusco. Virei-me de costas para ela e passei a mão pelo o rosto, tentando ficar calmo novamente. Quando me senti um pouco melhor, saí em direção à cozinha.

- Venha - chamei-a.

Não me virei para ver se estava fazendo o que eu mandei, mas deduzi que sim, quando escutei seus passos e o barulho que o tecido do vestido fazia ao se arrastar pelo chão à medida que ela andava.

Entrei na cozinha velha e me dirigi até a mesa, sentando-me em uma das duas cadeiras que ficavam ali. Não muito depois, a garota entrou, com a cabeça baixa e o cabelo preto e longo caindo em quase todo o rosto, de modo que me impedia de vê-la claramente. Cruzei os braços sobre o peito, inclinei-me para trás, recostando-me na cadeira confortavelmente, e apenas esperei. Uma hora ou outra, ela teria que falar algo, senão, ficaria com fome.

Não sei por que a havia trazido até ali, na verdade. Eu poderia muito bem ter feito qualquer coisa e levado para ela comer no porão. Não me importava se lá era sujo, tinha um cheiro ruim, bichos, ou qualquer outra coisa do tipo. A questão era que, mesmo que quisesse, não tinha como me manter distraído por muito tempo enquanto estava ali. O tédio era o meu maior adversário e eu precisava de algo que pudesse me distrair urgentemente, antes que eu fizesse alguma besteira que comprometesse todo o meu plano. Quem sabe se observá-la um pouco e vê-la com medo de mim, temendo minhas próximas ações, não fosse me manter ocupado? Não custava nada tentar.

Raptada (Degustação)Where stories live. Discover now