Mais Uma Chance | Completo [1° Versão]

Capítulo Vinte e Cinco

“As vezes a vontade de Deus dói, mas não deixa de ser perfeita.”

DERICK

Já faz um bom tempo que estou deitado no sofá da sala apenas fitando o teto completamente absorto em meus pensamentos.

A casa se encontra em um absoluto silêncio, já que Bela e Gael não estão. Depois do que houve ontem, um clima melancólico e tenso se instaurou por toda a residência. Toda a alegria que preenchia cada canto parece ter se esvaído no instante em que meu pai pisou aqui, como um castelo de areia levado pelas ondas violentamente. Até o pequeno Gael parece ter percebido a mudança brusca, pois estava mais quieto ontem e não saiu do quarto de Bela, como se sentisse sua tristeza e quisesse consolá-la, embora não entendesse nada do que está acontecendo. Lembro-me da preocupação e nervosismo estampado no rosto de Anthony quando retornou mais cedo do trabalho após saber da discussão, ele permaneceu ao lado de Bela a todo instante, cuidando dela como sempre fez desde que a conheceu. E eu só consegui me sentir contente por minha irmã ter uma família tão unida e amorosa.

Minha mãe, por sua vez, transparece serenidade, como se o seu pedido de divórcio não estivesse a afetando. Mas eu conheço a mãe que tenho, sei que por trás dessa máscara de tranquilidade ela está arrasada, pois, mesmo meu pai tendo feito uma burrada atrás da outra, ela ainda o ama e escolher deixá-lo deve ter sido uma das decisões mais difíceis de sua vida.

Meu pai causou uma completa bagunça em nossa família. Todo o clima de festa e ansiedade graças a aproximação do aniversário de meu sobrinho foi dissipado. Até mesmo Helga não está mais importunando minha irmã e me sinto aliviado por isso, caso contrário eu mesmo acabaria perdendo a paciência.

Entretanto, não é só os meus problemas familiares que estão me deixando pensativo. Uma certa loira também está entre meus pensamentos, o que não é novidade ultimamente.

Ontem à tarde, sua companhia me fez sentir-me tão bem, seu carinho e suas palavras encorajadoras me trouxeram calmaria, e a vontade que tive naquele momento foi de abraçá-la e não deixá-la ir jamais. E essas reações vem me deixando cada vez mais tenso, pois não quero agir no calor do momento e acabar estragando tudo. Até porque não sei se é um sentimento mútuo, Elise tem se mostrado uma ótima amiga e já notei que sente atração por mim, mas apenas isso. Meu interesse por ela já está claro, ainda que eu não tenha verbalizado, eu nunca fui muito bom em esconder sentimentos e Elly, observadora como é, com certeza percebeu que sinto muito mais que uma atração, porém não a vi dar sinais de que me corresponde e isso faz o meu receio aumentar ainda mais.

Por isso nos últimos dias venho pedindo um sinal da parte de Deus, que Ele me mostre qual é a Sua vontade, pois não estou conseguindo permanecer indiferente ao que venho sentindo por Elise, a cada dia que passa meus sentimentos por ela só crescem sem que eu consiga evitar. Sem perceber, acabei gostando da Elly além do que deveria. Justamente a mulher mais difícil e imprevisível que já conheci!

Sou desperto bruscamente pelo som da campainha ecoando por toda a casa silenciosa. Penso por um segundo se devo atender ou deixar a pessoa pensar que não há ninguém em casa. Quando ouço a campainha novamente, suspiro e decido levantar.

Ao abrir o portão, um sorriso espontâneo surge em meu rosto ao encarar a pessoa parada na calçada. Elise está com suas mãos nos bolsos de sua jaqueta preta enquanto me fita com uma serenidade que me transmite uma calmaria instantânea. Um sorriso singelo se forma em seus lábios.

— Quer dar uma volta?

•••

Olho mais uma vez para o céu nublado e constato que uma tempestade se aproxima, porém nem Elise e eu estamos nos importando com isso no momento.