Capítulo Vinte e Quatro

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“Não permita que o barulho ao seu redor seja mais alto do que a voz de Deus em seu coração.”
Isaías Saad

DERICK

Dias se passaram desde a minha conversa com Elise. Uma tristeza sempre me invade quando penso no quanto ela sofreu nas mãos daquele infeliz, ver sua dor refletida em seus olhos foi como se rasgasse meu coração em pedaços.

Depois de ouvir tudo o que ela passou, enfim consegui compreender o seu comportamento quando me conheceu. Seu jeito recluso, sua desconfiança extrema com tudo e todos, a tristeza em seu olhar, os avisos de Martha em relação às suas atitudes, o porquê dela não gostar de contatos físicos vindos de homens, tudo fez sentido.

Sinto raiva daquele ser desprezível, pensar que ele fez tanto mal à Elly ao ponto dela querer tirar a própria vida tantas vezes e tomar a decisão de se isolar do mundo com medo até da própria sombra faz meu sangue ferver. No momento em que ela me contou, a vontade que tive foi de ir atrás dele e quebrá-lo em pedaços. Foi errado pensar em algo assim, afinal, não se pode fazer justiça com as próprias mãos, mas não pude evitar.

— Posso saber o motivo do seu silêncio? — Sou desperto pela voz calma da minha mãe e seu carinho em meus cabelos. Olho para trás do sofá, onde ela está, e encontro seu sorriso singelo. Porém, por trás de todo amor e carinho, vejo a tristeza refletida em seus olhos cor-de-mel e já imagino o causador.

Ontem à noite fomos surpreendidos com sua chegada inesperada. De acordo com dona Selena, ela queria fazer uma surpresa e matar a saudade de mim também, então veio antes do planejado para o aniversário do Gael e irá passar um tempo aqui, mas tanto Bela quanto eu sabemos que a razão de sua vinda antecipada não é somente por isso, temos quase certeza de que o nosso pai é o motivo principal de sua decisão. Entretanto, não a questionamos, decidimos esperar um momento oportuno.

— Estava apenas pensando em umas coisas — desconverso, a vendo contornar o sofá e sentar-se ao meu lado.

— Ah, eu não vejo a hora dessa filha de Nabucodonosor ir embora daqui, já cansei de ter que suportá-la! — Bela chega na sala de estar resmungando, como sempre, e se joga na poltrona. Minha irmã e seus xingamentos originais.

— Menina! Isso é jeito de chamar a sua sogra?

— Mãe, aquela mulher consegue ser insuportável! Agora entendo porque o sonho do Anthony sempre foi sair de Chicago, pra poder viver em paz bem longe dela! — Bufa irritada.

— O que ela fez agora?

— Acredita que ela pôs as roupas do Gael que eu tinha lavado ontem todas na máquina de novo porque, segundo ela, não estavam bem lavadas? — ela me responde completamente indignada. — Ainda bem que ela saiu, pois talvez eu não conseguisse segurar minha língua por muito tempo!

— Você sabia que quando casasse com o Tony ganharia ela de brinde — brinco, recebendo um olhar ameaçador de sua parte.

— Derick, mais uma piadinha sua e eu corto sua língua! — Ergo as mãos em sinal de rendição e ela balança a cabeça positivamente ainda com os olhos semicerrados. — Sábia decisão.

— Você conversou com o Anthony sobre as atitudes dela? — minha mãe intervém com sua calmaria costumeira.

— Até ele não aguenta mais, porém como expulsar a própria mãe de sua casa sem parecer exatamente uma expulsão? — Ela olha para o teto, suspirando profundamente.

— Tenha paciência, é isso que ela quer, tirá-la do sério — digo. A verdade é que dona Helga ainda não se conformou em seu filho caçula ter se casado com Isabela, a mulher maluca e petulante que não leva desaforo para casa. De acordo com Helga, Anthony merecia uma mulher melhor e desde então vem tentando infernizar a vida da minha irmã. Ao que parece, ela esquece do fato de que Anthony é um homem feito e adulto, sabe muito bem decidir o que é melhor para si.

Mais Uma Chance | Completo [1° Versão] Where stories live. Discover now