Capítulo 3

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Capítulo três

Cheguei ao reino de Menestron naquela mesma manhã clara de verão. Como previ, minha chegada não era surpresa. Diante dos portões de aço, abordei as sentinelas.

— Sou Aduzam. Preciso falar com seu rei.

— Ansur Ulf o espera.

Fui conduzido por quatro guerreiros da elite real que trajavam armaduras de placas prateadas, cotas de malhas com anéis de mesmo tom que cintilavam à luz matinal, meio-elmos, braçadeiras adornadas com rubis vermelho sangue e longas capas vermelhas, além de estarem armados com espadas e escudos.

Pela decoração das ruas, soube que seria comemorado o solstício de verão, dia dedicado a Astron, o Senhor de todos os deuses, e a Heitor, o deus da guerra. Na verdade, deveria ser somente o dia de Heitor, porém, com medo da punição consequente da inveja de Astron, o povo decidiu homenagear aos dois.

Admirado com o crescimento do reino e da população, contente pelo festejo, caminhei pelas ruas observando as mudanças naquelas terras. Bem no setor leste, o júbilo do povo preenchia o ar e estremecia as colunas da arena onde guerreiros lutavam. Nunca fui admirador desses combates brutais nem do treinamento recebido por aqueles jovens, mas, de acordo com as exigências, precisaria me adaptar.

Não me importei com a canção das espadas. Estava acostumado: sempre era bem recebido. Sorri, recordando-me da última vez em que aqui estive. Cerca de 17 ciclos de estações se passaram e o rei continuava a ser Ansur Ulf, o humilde e generoso, filho de Côndilos Ulf, um grande guerreiro e rei que caiu em batalha. Subiu ao trono com 30 verões e, mesmo com 58 passagens de estação, ainda continua pronto para levantar sua marreta de guerra.

Os portões dourados abriram-se com o girar da manivela. Cruzei o pátio de granito. Ao centro, a pintura de Astron encima de uma nuvem, bramindo sua espada contra os reinos, chamou minha atenção.

O interior do salão real era claro e possuía um suave frescor; as janelas permitiam que o sol entrasse sem reservas, o que conferia luminosidade às paredes de pedras brancas. A área circular e ampla contava com dezenas de pilares de mármore azulado. Na sala das armas, cada parede se compunha por uma variedade de artigos bélicos: espadas de vários tamanhos, escudos, lanças, machados e arcos. Muitos deles haviam pertencido a reis e guerreiros famosos, àquela altura, falecidos. O grande estandarte verde musgo com o brasão real repousava sob um pilar à direita da grande estátua do deus Heitor, no centro do salão: um homem forte, de cabelos longos, segurando um escudo e uma longa espada apoiada ao chão. Com um corvo de asas abertas sobre o ombro, parecia observar o ambiente.

Distribuídos pelo salão, 20 guerreiros da guarda real estavam vigilantes. Em direção à estátua, bem ao fundo, encontrava-se Ansur Ulf, recostado em seu trono dourado. Apesar do tempo, mantinha a aparência robusta e a impetuosidade caracterizada pelo cabelo e pela longa barba ruiva trançada. Vestia roupas brancas e leves, um grande elmo cinzento com o formato de cabeça de lobo e, se apoiava num pedestal dourado. Ao seu lado, encontrava-se um homem alto de cabelos negros e aparados vestido como os guerreiros da elite — a bainha de couro fervida mostrava o cabo dourado de sua belíssima espada, adornada ao centro por um rubi. Portava um elmo prateado.

O rei sorriu para mim e me fitou por alguns instantes. Ao contrário dele, eu estava vestido à maneira de um andarilho: capa branca surrada, cota de malha simples sobre o manto cinzento e um cajado na mão esquerda.

— Oh grande supremo! — Disse ele, cortês. — O mais humilde dos imortais novamente caminha entre os mortais!

— Salve Rei Ansur Ulf, filho de Côndilos Ulf, o honrado. — Falei, inclinando-me.

— Honra é receber a visita do imortal em meu reino!

— Esse nome não uso mais. — Respondi fitando o rei com meu único olho.

— Muitos nomes foram concedidos a você na suposta morte. — Continuou Ansur. — Inclusive, prestei homenagem diante dos deuses por sua falsa morte.

— Agradeço perante os deuses a homenagem. — Consenti, sorrindo. — Muitos tentaram, durante eras, antecipar minha morte, mas ainda caminho pelo reino.

— Veio prestigiar a canção das espadas? Indagou Ansur.

Notei a forma como o guerreiro me fitou.

— Não vim pelas festividades. — Respondi. — Minha missão é outra.

— Boatos dizem que você busca um aprendiz, Aduzam. — Disse Ansur, tranquilamente. — Duvido que encontre um guerreiro disposto a praticar magias.

Ansur pegou da cesta próxima ao trono uma suculenta maça vermelha, enquanto um serviçal lhe servia vinho em uma taça com formato de chifres.

— É de grande importância. Minha missão... — Prossegui, apoiado em meu cajado, fazendo clima de suspense. —... Consiste na busca pelo novo sucessor da lendária espada do rei Dragão!

Deixei claro, com minhas palavras, a esperança de encontrar o guerreiro em Menestron. Fui bombardeado por olhares brilhantes, principalmente do general, que parecia incrédulo.

— Tive visões perturbadoras de um grande mal que está por vir. Se a espada não estiver nas mãos certas, tudo estará perdido, inclusive minha missão. Tenho que encontrar o portador e instruí-lo, mesmo que o treinamento dure anos. Sinceramente, acredito que ele se encontra em seu reino.

— Onde está esse Escolhido, mago? — Uma voz diferente ecoou por todo salão. O guerreiro, que até então ouvia a conversa em silêncio, me interrompeu. — Ou é apenas alguma alucinação de um velho?

— General Lamorde Herman! — Interrompi, inclinando-me.

Lamorde também conhecido como Espadachim do Oeste.

— A espada está sumida desde o reinado de Levas Calledor, há mais de cem anos. — Recordou Lamorde, aproximando-se de mim.

— Pretendo encontrá-la, general, assim como seu portador. — Rebati. — Peço ao rei para que, caso o encontre, possa treiná-lo no reino, como seu mestre.

— Ele não é um guerreiro ou já está em treinamento? Indagou o rei.

— Logo saberei. — Omiti, apesar de saber qual era a resposta. Em minha visão, somente encontrei um garoto que nunca pegara em armas, transformando-se em guerreiro.

— Que ameaça o perturba, mago? — Perguntou o general.

— Ainda é cedo para confirmar, mas algo poderoso que me faz temer por todos os reinos.

— Enigmas?! Magos e suas tolas charadas! Treino um grupo de jovens, estarão preparados para...

— Tem a minha permissão, Aduzam. — Interrompeu Ansur, saboreando seu vinho. — Aproveite as festas e, que Heitor abençoe o seu Escolhido! Desejo que seja um de nossos guerreiros mais honrados a portar a Schandar.

Como previ, tive a aprovação do soberano, um homem justo e temente aos deuses, que sempre me procurou para pedir conselhos.

A benção dos deuses já se derramou sobre o Escolhido, pensei, imaginando como encontraria alguém tão especial. Naquele momento, envolto em meus pensamentos, percebi o olhar confuso de Lamorde para o rei, ora incrédulo em minha direção.

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Império dos GuerreirosWhere stories live. Discover now