Capítulo 2

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Capítulo dois

Aquele era Tolien, o grande guerreiro de Menestron montado em seu corcel negro. Retornou ao lar após uma longa batalha ao lado dos elfos, onde pôs fim à tirania do rei Orc Ormuz. Atravessou o grande mar de Morza, o maior oceano de todos, onde dizem que o guerreiro Heitor chorou a rio morte de seu grande amigo Domus, o Bravo. Em sua jornada, o guerreiro passou pelo Monte Sombrio, a famosa "Entrada do Submundo", o lugar mais isolado de todos os reinos, onde habitam criaturas selvagens. Erguendo a espada do rei Dragão e acompanhado por bravos guerreiros, foi recebido em clima de festa por seus feitos, após um ano de combate.

O sonho terminou quando o rapaz foi despertado por sua mãe, aos gritos. Triste e resignado, abriu os olhos lentamente. Em sua cama vivia muitas aventuras, sonhava com importantes feitos. Era o esperado para um jovem de imensurável imaginação, apreciador de contos sobre a bravura de heróis gloriosos.

Do lado de sua cama repousava um livro de capa cinzenta que ganhou dias atrás na comemoração de seus 11 verões: Heróis, lendas e outras aventuras. Havia ainda vários livros espalhados pelo quarto, outros empilhados a um canto — aqueles que precisava ler. Todas as noites, Tolien, antes de adormecer, acompanhava a trajetória de seus heróis pelas eras. Entre seus livros encontrava-se o "Livro Branco", apelido que ele mesmo dera para o livro de capa de couro no qual, há dois anos, tentava escrever seus próprios contos, sem sucesso.

O jovem pegou-se olhando para o teto de madeira, no qual refletia uma pequena luz, indicativa do nascimento de mais um dia. Sentiu o ranger da cama ao se levantar: precisava de uma nova.

Morava na humilde fazenda de Jorma, uma das várias comunidades agrícolas do reino. Ajudava seu pai, Thomen, no cultivo das terras. Ao abrir a janela do quarto para apreciar o ar da manhã, debruçado sobre o peitoral, pode contemplar o céu azulado sem nuvens, o sol forte iluminando os campos a sua frente e as pessoas que, apressadas, caminhavam para seus afazeres.

Sua casa estava erguida sobre a colina verde, próxima à estrada norte do reino. Ali, cada casa era erguida com madeira verde e recoberta por argila. Os telhados, cobertos por espessa vegetação, o suporte de barro e a madeira ajudavam a isolar o calor, insuportável em certas épocas. Tolien possuía alguns dos traços do pai: um homem calvo com olhos negros, marcados pela vida de luta.

Lembrando-se de que ajudaria a pintar a casa naquele dia, foi narrar o sonho a sua mãe, Régia, costureira nas aldeias próximas ao reino. Envolvida com seus afazeres domésticos na cozinha, Régia apenas sorriu.

— Deixe os sonhos de lado, meu filho! — disse o pai, limpando a grossa barba. — Quanto menos sonhar e perceber que não chega a lugar algum, menos chance terá de se decepcionar na vida. Deixe as aventuras para guerreiros e bardos.

— Posso ser um guerreiro, ainda! — Replicou, com os olhos sonhadores.

— Pare com isso, meu filho! — Precisaria ter nascido filho de guerreiro e começado desde cedo seus treinos. Seu pai é apenas um humilde senhor de terra, encarregado da prosperidade do reino.

Após as duras palavras, o homem levantou-se, emitindo ruídos no cinzento e desgastado chão de argila.

— Apresse-se! Espero-te lá fora. — Alertou, dando-lhe as costas.

Estarrecido, o jovem assistiu a despedida do pai e fitou o vazio. Régia abraçou gentilmente o filho, confortando-o.

— Não ligue. Seu pai teve um mês difícil, a falta de chuva deixou a colheita fraca. Vá com ele e não deixe de sonhar, filho.

— Ainda vou ser um grande guerreiro!

O sonhador beijou o rosto de sua mãe e saiu. Acostumada com seus sonhos, Régia era a maior incentivadora do filho, quem comprava os livros que ele tanto gostava de ler.

Desde cedo, quando percebeu o dom imaginativo do menino, o ensinou a ler e a escrever.

O rapaz, que sempre desejou ser um guerreiro, ficou deprimido ao descobrir que não poderia entrar para a escola deles.

Régia sabia que, ao menos, ele poderia se tornar um bardo ou narrador de grandes histórias. Justamente por isso o incentivava a ler, para que descobrisse novos interesses e, algum dia, pudesse encontrar um novo caminho.

Tolien passou o dia com seu pai, também ajudando no cultivo de terra. Cada reino vive do que as terras oferecem. Quando um reino é fraco, existem duas opções: o rei se muda para conquistar novos territórios ou dedica-se ao comércio das coisas que sua terra produz.

Os senhores de terra são os escolhidos do conselho do reino para cuidar das terras, cultivar e trazer boa colheita.

Menestron é fértil. Seu solo abençoado é conhecido por fabricar a melhor cevada para bebidas, assim como vinho e frutas suculentas. Um reino grandioso, com seus muros de mármore e gigantes estruturas fortificadas, lar de bravos guerreiros — onde se localiza a maior escola de treinamento de todos os reinos — Menestron está diante do abismo de Storme, o mais alto do Oeste. Sua localização impossibilita uma invasão por detrás de suas muralhas altas. Para chegar, é preciso cruzar a estrada Norte e passar pela aldeia de Tolien, onde se estendem as plantações de cevada, uvas e milho. Em razão disso, as estradas são constantemente transitadas por comerciantes.

Há uma grande torre de madeira erguida próxima à colina verde, uma das diversas torres de sentinelas que se estendem por todo o Oeste. Antes de chegar aos portões de bronze do reino, o viajante se depara com depósitos de grãos e variados produtos da região, alguns comercializados nas próprias terras e exportados para outras. É possível se deparar também com estalagens confortáveis e dezenas de oficinas de bons ferreiros. Três grandes templos são encontrados na parte leste: um templo dedicado a Astron, o Pai; outro à Mara, a deusa Mãe da Terra; e o principal, dedicado a Heitor, o deus da guerra.

O reino do Oeste chama a atenção por suas altas muralhas de pedra e gigantescas estátuas que vigiam os portões junto a dois guerreiros vestidos com armaduras e brandindo suas espadas e escudos. Os primeiros reis do Oeste saúdam os visitantes e alertam os invasores sobre o risco de morte ao cruzar suas terras.

No vasto mercado dos escudos, um grande pátio a céu aberto, centenas de pessoas se esbarram umas nas outras à procura de mercadorias. Tudo o que se procura é facilmente encontrado com os vendedores, que berram junto ao som das forjas dos exímios ferreiros.

Tolien, ao lado do pai, levantou os olhos em direção às estátuas vigilantes e avistou as torres de mármore branco. A principal é moradia do rei e salão das armas; a segunda é da guarda real; a terceira é a torre do conselho, moradia dos sete anciãos.

Incomodado, o rapaz arrumou a bolsa nas costas, pesada por conta dos ingredientes comprados para a ceia noturna. Parentes passariam a noite em sua casa. Só de pensar, suspirou resignado. Não gostava da visita das tias, que apenas reclamavam da vida.

O que o consolava era a existência do "livro branco", onde tentaria escrever seu sonho quando estivesse sozinho, entretanto, sabia que, mais uma vez, se perderia na leitura das aventuras de guerreiros bravos.

No mercado, permaneceu atento ao comentário referente à visita do mago supremo Aduzam, que chegaria ao início das festas de comemoração do verão à procura de um jovem para treinar nas artes mágicas.

Havia lido contos sobre a antiga ordem dos magos supremos, uma ordem de imortais, semideuses, que existem até hoje. Leu relatos sobre uma guerra travada há algum tempo entre magos e escutou rumores sobre o tombo do antigo mago.

Não passava por sua cabeça ser algum tipo de mago, porque seu interesse era somente pautado na vida dos guerreiros. Preferia a vida de bardo à realidade de um mago, preso a regras consideradas estranhas por ele.

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Império dos GuerreirosWhere stories live. Discover now