Capítulo 21.

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— Ora, ora. Veja só como ficou a cara da garota — o mais gordo disse. Eu estava encolhida entre meus cobertores, no sofá, sentada. Não poderia me mexer. Eles haviam sido claros: se eu dormisse, eu morria. Mesmo que Bruno o havia ameaçado... não acho que esses caras se importariam em me machucar. Estava na cara que era o que eles queriam. Ainda assim, eu não estava pronta para desistir. Não ainda. Eu tinha um plano.

— Está medonho. Você deveria fazer uma plástica nisso aí, se o garoto conseguir algum dinheiro a mais. — o outro sugeriu.

— Vá se foder — eu disse.

Os dois começaram a rir.

— Eu preciso ir no banheiro. — continuei.

Um dos homens se levantou, foi até a porta do banheiro, abriu-a e entrou.

— Pode ir.

— Eu quero ir sozinha. Preciso tomar um banho. Estou aqui há mais de um dia sem, por conta da minha longa viagem.

Os dois caras se entreolharam.

— Você tem dez minutos para fazer o que tem para fazer. Se nós abrirmos a porta e você não estiver pronta, vai sofrer as consequências — o gordo disse. Eu assenti e me levantei. Deixei as cobertas sobre a cama e entrei no banheiro, fechando a porta rapidamente atrás de mim.

Eu desci minhas costas pela parede, respirando aceleradamente. A adrenalina estava brotando em mim e eu não sabia se gritava ou chorava de raiva. Pus-me de pé e comecei a analisar o meu plano.

Eu havia percebido, quando Bruno entrara no banheiro antes de sair, que havia um secador de cabelo próprio do hotel. E que o chuveiro era composto por uma banheira e uma ducha que caia diretamente nela. Eu abri o chuveiro e deixei a água escorrer; mas fechei a tampa da banheira. A água começou a acumular e acumular, até que chegasse ao ponto de quase vazar.

Eu fechei o chuveiro. A falta de barulho de água caindo certamente faria com que eles acreditassem que eu já havia tomado banho. Eu peguei, então, o secador e seu longo cabo ligado à tomada. Liguei-o e fiquei segurando-o.

E eu segurei, cada vez com mais raiva.

Tic, tac, tic, tac.

Os dez minutos haviam passado.

A porta se abriu bruscamente e eu não pensei duas vezes ao empurrar o corpo do homem na banheira cheia de água e jogar o secador na mesma hora, fazendo-o tremer feito terremoto enquanto era eletrocutado. Eu fui rápida em tirar a arma do bolso traseiro dele, antes que começasse a tremer. Eu sabia que aquilo causaria um susto no outro cara e que ele viria rapidamente. Quando abriu a porta, eu estava escondida atrás da mesma.

O cara se agachou para ajudar o parceiro, mas se esqueceu de que eu também estava naquele cubículo. Mirei a arma em sua cabeça.

Eu não pensei duas vezes em atirar.

Eu não sabia se estava pronta para tirar a vida de alguém — e creio que eu nunca estaria —, mas de uma coisa eu tinha certeza: era eu ou eles. E eu não queria que aquilo continuasse. Eu queria Bruno a salvo.

Com os dois capangas mortos, a situação era clara: ninguém viria atrás deles. Porque pensariam que os dois fugiram com a grana e que Bruno não teria mais nada a ver com aquilo. Aquela era a história que contaríamos, afinal.

Para dar veracidade ao que eu esperava que acontecesse, eu permaneci no banheiro; vasculhei os bolsos dos caras e encontrei o celular dos dois. Digitei mensagens diferentes, mas sarcásticas o suficiente para o pai de Bruno, dizendo que haviam pegado o dinheiro e que estava indo para as Maldivas e que Bruno fora morto e, agora, estava no fundo de mar dentro de alguns sacos, junto comigo. E algumas risadinhas sem graça, também. Em seguida, tirei as baterias e quebrei qualquer sinal que pudesse ligar os pontos.

Respirei fundo e troquei de roupa, limpei as digitais em quase todo o quarto e peguei todos os itens meus e do Bruno.

E, então, eu comecei a correr.

Quando cheguei na recepção, para fazer o check-out, eu perguntei sobre Bruno. Por sorte, haviam me informado que ele estava em um cassino naquela mesma rua, a duzentos metros dali. Eu agradeci e continuei a correr.

Felizmente, eu não tive que usar muito das minhas pernas e da minha cara de desespero; eu me deparei com Bruno do outro lado da rua, pronto para atravessar e vir de encontro a mim. Ele correu e nós nos abraçamos com força.

— Sua louca! O que está fazendo aqui?

— Nós precisamos dar o fora daqui. Tipo, agora. — eu falei, ofegante. Ele me olhou e viu que eu estava com nossas bagagens.

— Onde estão os caras?

— Mortos.

Ele arregalou os olhos e vi sua garganta travar.

— Mortos?!

— Eu os matei. Foi preciso. Assim, ninguém vai vir atrás de você. Vão pensar que os caras fugiram com a grana. Mas nós precisamos ir embora antes que alguém veja a zona que ficou o quarto.

Bruno apenas assentiu e me ajudou com as malas. Nós corremos para o aeroporto e, enquanto Bruno providenciava as passagens, eu fiquei na ala da companhia aérea esperando. Ele veio até mim e se sentou ao meu lado.

— Nós estamos indo para a África. Tudo bem por você?

Eu sorri, apesar de não conseguir pensar direito.

— Claro. — minha voz estremeceu.— Por que você já estava voltando para o hotel?

— Porque eu havia conseguido o dinheiro. E pedi para que ficasse retido no cassino, para que eu voltasse lá com os caras e eles fizessem a transferência. Por sorte, peguei uma parte para mim e depositei em um caixa eletrônico no caminho. Nós estaremos seguros na África. — ele segurou minha mão com força. — Não consigo acreditar no que você fez.

— Eu tinha que fazer, tá legal? — eu senti meus olhos encherem de lágrima. — Eu sei que não é certo. Eu sei que não! Mas não é certo, também, eles irem atrás de você, sem você ter culpa de nada! Seu pai quer te matar, por Deus do céu! — eu afundei os rosto nas mãos e chorei. Bruno levou as mãos até minhas costas e deixou que eu chorasse. Quando levantei meu rosto para recuperar o fôlego, eu o vi sorrindo. — Você está rindo da minha desgraça, é isso?

— Estou rindo porque eu faria o mesmo por você. E você fez isso para me salvar. Eu não poderia ser mais grato. Lembre-me de te agradecer melhor na África.

Eu sorri entre as lágrimas.

— Você é impossível, Bruno.

— Mas, agora, você consegue me ler. E sabe muito bem que o que eu estou falando é sério.

Eu segurei o riso e limpei meus olhos molhados.

— Acha que estaremos seguros, mesmo?

— Eu, não sei. Mas, se depender de mim, você estará, para sempre. Sem mais capangas. Sem mais pais malignos. Só eu e você. O que me diz?

— Estou pronta. — e segurei sua mão com força.

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