Capítulo 20.

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Foi Bruno que me acordou quando pegamos a conexão e quando, horas e horas depois, chegamos no exterior. Ao mesmo tempo em que eu queria que tudo acabasse bem, eu só queria que acabasse. Sem fugas, sem preocupações. Ainda assim, eu peguei na mão dele e, com minha bagagem em outra, nós saímos do aeroporto e fomos encontrar um hotel para ficar.

— Você acha que conseguiremos nos preparar para hoje à noite? — eu perguntei, enquanto parávamos na calçada e esperávamos o sinal fechar para que pudéssemos atravessar.

— É claro — ele disse, olhando de um lado para o outro, para ver se podíamos atravessar. Não parecia confiante naquilo. Nós cruzamos a pista e Bruno começou a nos guiar para dentro do hotel que havia do outro lado. Eu fiquei em silêncio, deixando que Bruno fizesse toda a conversa sobre vagas e quanto custaria a diária. Depois de sua negociação, ele conseguiu a chave de um quarto e nós fomos pegar o elevador.

— Eu... eu não estou com um bom pressentimento. — falei, quando o elevador fechou as portas. Bruno largou sua mala e se pôs em minha frente, segurando o meu rosto e me fazendo olhar em seus olhos.

— Clarice, ninguém nos seguiu. Nós estamos seguros. Eu vou te proteger.

Eu apenas assenti, tentando conter a sensação horrível dentro de mim. Quando chegamos no andar correto, Bruno pegou sua mala e a chave e nos levou até a porta. Ele a abriu e eu entrei primeiro, largando minha mala em cima da cama. Ele me imitou e, em seguida, me abraçou por trás, cheirando meu pescoço.

— Você se importa em me esperar enquanto eu tomo um banho? — ele perguntou, sussurrando. Eu me virei e segurei seu rosto, dando-lhe um longo e molhado beijo.

— Vai lá. Espero-te aqui. — falei. Ele me lançou um sorriso safado e, antes de ir para o banheiro, pegou novas peças de roupas da mala para poder se trocar. Eu me deitei na cama e liguei a televisão. Estava quase cochilando quando ouvi algumas batidas à porta. Pensei ter sido minha imaginação, mas o barulho se repetiu.

Eu pensei que talvez fossem os caras da recepção, entregando ou pedindo alguma coisa sobre nossa estadia. Ou talvez serviço de quarto. Mas não aqueles dois capangas com armas apontadas para mim, logo após eu abrir a porta.

— Olá, monstrinha da cara cortada. — um deles disse, colando o cano da arma em minha testa e me fazendo andar para trás. — Onde está o seu namoradinho?

Eu engoli em seco e não respondi. O barulho do chuveiro ligado se tornou evidente.

— Ah, está tomando banho. Então vamos deixar uma surpresinha para ele, para quando abrir a porta? — o cano da arma desceu até a gola da minha camiseta. — Tire tudo isso.

— Não! — eu grunhi, meus olhos enchendo de lágrimas.

— Tire a porra da sua arma ou eu atiro nos seus miolos. O que Bruno vai gostar mais de ver? Você pelada ou você morta? — o outro rebateu.

Com o coração acelerado e a vergonha tomando conta do meu corpo, eu tirei a blusa, ficando apenas de sutiã. Em seguida, tirei a calça e a joguei na cama. Tentei esconder meu corpo conforme dava, mas era impossível. Um deles me empurrou em um sofá que havia ao lado da cama, e ali fiquei, com as duas armas miradas em mim.

— Sabe, Clarice, eu estava pensando que nós podíamos... — Bruno começou, mas parou ao abrir a porta e ver a situação. Seu instinto falou mais alto e ele ousou se jogar em cima de um dos caras, mas o mesmo o empurrou para o lado e o fez cair na cama. — Que merda vocês querem comigo?

— Bom... — os caras de olharam. — Nós queremos dinheiro. Mas seu pai quer que nós te matemos. Então, nós queremos dinheiro para depois te matar. — um explicou.

— Não — ele disse, sério, levantando-se da cama.

— Isso não é uma negociação. — o que apontava a arma para mim disse.

— Pois eu acabei de criá-la. Se vocês querem dinheiro, precisam de mim. E eu só vou dar a vocês se sair vivo. Se não me matarem e nem matarem Clarice depois.

Os caras se entreolharam.

— E que merda dizemos ao seu pai?

— Achem um corpo, matem outra pessoa, não ligo! — Bruno grunhiu. — Eu não vou voltar para o Brasil. Podem, muito bem, dizer que estou morto.

— Nós ficamos com a garota aqui e você vai atrás da grana. — um deles disse. — E nós cumpriremos nossa parte do acordo.

— E quanto aos outros caras? Os outros donos do cassino que estavam na cola do meu pai? — Bruno perguntou.

— Faça dinheiro o suficiente para eles ficarem quietinhos e ninguém vai dizer nada. Afinal, o boato, quando voltarmos, será de que você está morto. Ninguém vai vir atrás de você. — um dos capangas explicou.

Bruno se aproximou do que estava mais perto dele e o pegou pela gola, sem medo da arma apontada em sua testa.

— Se vocês tocarem nela, eu mato vocês. Eu mato vocês e corto em pedacinhos — ele disse por entre os dentes.

— Nós ficaremos do lado de fora. Mas é om você não demorar. Você tem até o amanhecer. E, olha só! — o cra fingiu olhar para um relógio invisível no pulso. — O dia já está no fim. Tic, tac, Bruno. É melhor você correr.

Bruno remexeu em sua mala sobre a cama, pegou algumas coisas que eu não entendi o que eram, e, antes de sair, veio até mim. Tirou a coberta da cama e me embrulhou nela. Agachou-se em minha frente e encostou sua testa na minha, seus olhos fechados enquanto os meus seguravam as lágrimas.

— Vai dar tudo certo, tá? Eu vou voltar para te pegar e nós vamos embora.

Eu apenas fiz que sim. Bruno deixou um beijo em minha testa e partiu.

E eu não sabia quando ou se ele iria voltar. Fiquei sentindo seus lábios em minha testa por várias horas.

Ainda assim, não conseguia me concentrar em coisa alguma. Tudo o que minha mente ouvia era o que acabava me torturando.

Tic, tac. Tic, tac. Tic, tac.

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