Capítulo 13

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GERARD WAY



Ainda depois que Scarlett saiu do quarto, fiquei um tempo encarando a janela, as paredes e os pôsteres antigos. Minha mãe era realmente tão saudosista quanto eu, e tinha deixado o quarto exatamente como eu deixei, depois que voltei para Los Angeles, indo atrás da minha melhor amiga, que estava prestes a se casar.
Respirei fundo algumas vezes quando me deparei com as fotos. Maldita mulher, tinha me ensinado a ser exatamente como ela, e talvez fosse por isso que era tão difícil deixar Scarlett ir.
As polaroids estavam em um varal, uma ao lado da outra, e foram como um túnel do tempo para mim. Eu e Mikey brincando na rua, depois eu, Mikey e Scar no zoológico, e no museu, e no Central Park... Era tão bom, éramos inseparáveis, os três, até que Michael se tornou o "pega-garotas" da escola e se esqueceu da gente. Coisa da idade, mas que na época nos fez ficar emburrados por meses.
Tomei em mãos uma foto em especial. Scar estava de vestido, o cabelo arrumado e aquele bendito sorriso no rosto. Foi o dia da formatura do Mikey, já estávamos nos preparando para ir para Los Angeles, estávamos esperando o garoto se formar para partir...

Flashback on
Enquanto terminava de me arrumar, Mikey praguejava pelo quarto, ranzinza. Ri do mau humor dele, o que o fez ficar mais puto.
- Você ri porque já tinha Scarlett nas mãos quando estavam se formando... A Angelina só vai comigo porque não tinha ninguém pra ir!
Suspirei, frustrado com a minha gravata que insistia em pregar peças nos meus nós. Me aproximei de Michael e coloquei as duas mãos em seus ombros.
- Mikey... Você não vai encontrar ou dar certo com quem quer que seja se não for a hora. Eu dei sorte, encontrei a Scar e deu certo, mas você sabe que não foi tão fácil assim! Você é o que mais sabe disso. Então, se eu pudesse dar uma dica pra você hoje, seria esta: divirta-se, Michael. O Ensino Médio só acaba uma vez na vida, e você tem a faculdade inteira pela frente ainda!
Meu irmão riu do meu sermão, mas pareceu bem mais relaxado que antes. Do batente da porta, vi Scar, que nos observava com o olhar carinhoso e maternal que só ela tinha.
- Você sabe que o seu irmão tem razão? Uma vez na vida pelo menos, Gerard!
Dei a língua para ela, que riu mais, enquanto entrava no quarto com os saltos grossos batendo no assoalho de madeira, que de tão limpo, brilhava.
Ela estava tão linda, o cabelo, o rosto... Eu poderia pintá-la de mil jeitos, fazê-la na parede da sala daquele jeitinho, mas mesmo assim, não conseguiria capturar toda sua beleza.
- Você acha que ele está certo, Scar? Devo me divertir? - Mikey perguntou, olhando para ela, enquanto a mesma sentava-se na cama bagunçada, afastando os ternos esticados, para se sentar sem amassá-los.
- Claro que sim! Só se tem 17 anos uma vez na vida, Mikey. A gente já está entrando na faculdade, daqui a pouco estamos nos casando, e já vai ter passado tudo. Nós vivemos, e queremos que você viva também. E aprenda a ser feliz sozinho. É legal estar acompanhado, mas se não souber dar um jeito só, nunca vai aprender a amar alguém de verdade.
Michael revirou os olhos.
- Mas vocês nunca se desgrudaram! Como pode falar isso?
Scar apenas riu, negando com a cabeça, daquele jeito sábio que ela fazia, que deixava a gente com aquela expressão de nada no rosto, porque ela roubava todas as palavras, todas as expressões. Até as frases prontas. Ela comia a língua de todo mundo, e naquele dia, comeu a do Michael.
- Seu irmão e eu fomos conectados por um fio vermelho invisível, que predestina as pessoas umas às outras, e faz com que elas se encontrem. Eu o encontrei cedo, mas isso não é regra. Podem existir vários amores da vida para você, mas o amor da sua vida, é aquele que, quando o encontra, você sabe que podem mover montanhas contra vocês, podem cair mil tempestades, podem bater mais de mil ondas gigantes, mas nada, nada os abala, pois o fio invisível é mais resistente que qualquer coisa. Ele pode se emaranhar, se embolar ou se enrolar, mas nunca pode se quebrar. E nunca vai. Você ainda não encontrou alguém que faça o seu mundo girar ao contrário. Mas vai saber quando encontrar.
Scar se levantou, deu um beijo na testa de Mikey e foi em direção a porta.
- Espero vocês dois lá embaixo.
Assim que ela saiu, Mikey me olhou.
- POR QUE ELA SEMPRE FALA ESSAS COISAS?
Ri da cara que Mikey fez e, finalmente, finalizei o nó da minha gravata.
- Coisas de Scarlett...
Flashback off.

- Coisas de Scarlett. - falei baixinho, ainda segurando a foto em mãos.
Atrás de mim, Michael riu. - Saudosista igual a mamãe, hein? - ele disse baixinho, se aproximando de mim. - Gostou da surpresa?
Ri do comentário, olhando pra ele com reprovação.
- Se queria que eu desistisse do casamento, você conseguiu... Mas ela não deixou.
Mikey riu mais.
- Eu já imaginava isso... Continua durona.
- Cabeça dura também. E barraqueira. Quase que tive que segurar ela, para não bater na Lindsay.
Michael explodiu em risadas, e eu tive que fechar a porta correndo, para evitar que ouvissem seu escândalo.
- Cala a boca! A Lindsay vai vir aqui de novo se ouvir você rindo igual a uma hiena!
- Desculpa, mas eu sempre quis ver isso, desde que conheci a sua "noivinha".
Revirei os olhos, um pouco irritado.
- Se você não veio me falar algo útil...
- Eu tive uma ideia, para te ajudar com a Scarlett... Eu falei com a Ceci, ela topou também, mas você vai ficar devendo uma pra ela.
- Mais uma, você quis dizer. - disse Cecilia, enquanto entrava no quarto sem pedir permissão.
- Olá, Cecilia! Que bom que chegou, estávamos só esperando você. - Falei irônico, cruzando os braços enquanto encostava na porta. - E como os gênios vão fazer isso?
- Isso é fácil. Ela vai precisar de atenção, então eu, que já comecei a fofocar com ela antes da Scarlett quase apanhar, já fiz amizade. E devo dizer, Gerd... Ela é péssima.
Revirei os olhos e suspirei.
- Tá, mas como ela não vai perceber a minha falta?
- Vamos ao shopping. - Ceci deu de ombros - Mas confesso que vai ser difícil fingir que não gosto da Scar. - ela reclamou, fazendo um bico.
Mikey se aproximou dela e sorriu, beijando sua mão.
- É por uma boa causa. Você sabe.
Sorri para eles, animado com a ideia, mas ainda apreensivo.
- Certo... E quando começamos?
- Hoje. Depois do almoço vamos dar uma volta. Só comporte-se, viu? Não quero ninguém morto. Nem por ela, nem por Scarlett.
Ri do que Ceci disse, apesar do medo que tive quando pensei nas duas, brigando e se batendo até morrer. Abracei meu irmão e minha cunhada, em um agradecimento silencioso, ainda estremecendo com a ideia de tudo dar errado.
- Obrigado. Muito obrigado. Nem sei como agradecer vocês...
- Eu sei... - Mikey disse, me encarando com malícia nos olhos enquanto eu o soltava - Que tal aquela coleção de quadrinhos raros e...
- NÃO, NEM PENSAR! Mas foi boa a tentativa. - pisquei pra ele, e lhe dei um beijo no rosto.
- Então, só faça valer a pena, pelo amor de Deus, Gerard!
- Pode apostar que eu vou, Mikey. Pode apostar que eu vou.

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