34. Petrópolis

38 4 0
                                    

Débora Marcondes olhava para a cópia do diário dentro de sua bolsa e nem ousava encostar. Só leria quando estivesse só, completamente só.

Débora chegou ao Rio de Janeiro e foi direto para sua casa na Barra da Tijuca. Queria sumir do mundo. Durante o vôo, Débora tinha decidido que passaria alguns dias sozinha na casa de campo que tinham em Petrópolis. Seu marido certamente estranharia, contudo, diante de sua recente crise de choro, que ele interpretara como sofrimento pela morte de Amélia, Débora tinha a desculpa ideal.

Por isso, logo depois de fazer uma pequena mala com poucas roupas, pegou o telefone e ligou para Eduardo.

-Meu amor, hoje é quarta-feira, sei que tem que trabalhar, mas não aguento mais ficar nessa casa olhando para tudo da Amelinha. Já decidi que ficarei uns dias em Petrópolis...Acho que até domingo. Não sei direito.

-Você sabe que não gosto que fique longe de mim. Espere mais dois dias. Vamos na sexta, logo depois do almoço. Eu consigo organizar tudo no escritório e...

-Du, meu amor, você não está entendendo, eu não aguento mais!

Eduardo sentiu o peso da frase de sua esposa, lembrou-se do desespero do seu choro profundo e longo, e silenciou.

-Du, já enfrentamos muitas coisas juntos, mas eu preciso de um tempo sozinha e longe daqui. Você consegue me entender?

Eduardo era muito compreensivo e sempre atendia aos desejos de sua esposa por quem tinha verdadeira adoração.

-Se quiser muito, vá. Quando pretende ir?

-Hoje.

-Meu amor, já está tarde. Espere até amanhã cedo. Você consegue fazer isso?

Débora Marcondes conhecia bem seu marido para saber que disso ele não abriria mão. Estava realmente tarde e Débora não gostava de pegar estrada à noite.

-Consigo. Bom, é até melhor, pois conseguirei me despedir de você.

-Sim, e eu estou com saudades suas faz muito tempo que a gente...

-Eu sei, me desculpe, eu...

-Você não precisa se desculpar. Perdemos nossa filhinha. Eu entendo perfeitamente.

-Obrigada, meu amor.

-Não se preocupe comigo. Você precisa recarregar suas baterias. Eu entendo. Eu estou saindo agora do escritório.

-Que bom! Estou te esperando.

Débora desligou o telefone apreensiva. Ela não podia deixar que Eduardo percebesse que havia outra coisa. Não ainda, não. Ele não merecia sofrer como eu estava sofrendo. Ele também amava muito a Júlia. Eu precisava ficar só, compreender tudo e depois decidir o que fazer.

Débora tomou banho, colocou sua camisola e se deitou, ainda não era nem nove horas da noite.

Eduardo estranhou a casa toda escura. Foi até seu quarto, encontrou Débora deitada e a beijou.

-Você está bem, meu amor?

-Só estou muito cansada. Chorar tanto me deu muita dor de cabeça. Deixei seu prato no microondas. Me desculpe, meu amor.

-Imagina. Descanse agora. E durma bem.

-Obrigada.

Eduardo fez um afago nas costas de Débora, beijou seus lábios e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.

No dia seguinte, logo cedo, Débora partiu. Como queria evitar Eduardo, deixou um bilhete amoroso no banheiro para que ele visse logo que acordasse e soubesse que ela já tinha partido. Ela odiava ter que esconder o que sabia de Eduardo, mas tinha que ser feito. E, sem olhar para trás, pegou a estrada rumo a Petrópolis. No banco do passageiro, estava sua pequena mala, que ela olhava de lado imaginando as surpresas que o diário lhe revelaria. Não posso pensar nisso agora. Quero só dirigir. Assim que chegar em Petrópolis eu lerei tudo. Agora eu só preciso dirigir.

Café ForteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora