24. Chá da tarde

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Clarice estava sentada de frente para o paredão de vidro olhando os aviões circularem no solo.

Miguel tomava um café e checava seus e-mails no seu novo i-phone.

-Eu dizia ao meu filho que achava uma chatice esses celulares modernos. Sabe, ninguém mais conversa. Qualquer imbecil que esteja longe de você e que te manda um e-mail tem preferência a quem está ao seu lado, ao vivo e a cores - disse Clarice olhando para Miguel.

-Desculpe-me -disse Miguel guardando o celular.

-Não, pode ver todos e-mails que quiser, rapaz. Eu só estava lembrando do meu filho e dos momentos que perdi com ele por causa dessa joça.

-Eu já chequei meus e-mails não há nada importante. Sabe, a Samanta também odiava que eu ficasse toda hora entretido com meu celular.

-Infelizmente, sou obrigada a concordar com ela nesse ponto.

-Fui procurar o Antônio da última vez que fui ao Rio. A Samanta tinha sumido com meu celular. Foi ele meu objeto de aviso. Apareceu ensanguentado na casa dela. Ela disse que tinha descoberto que eu morreria, sabe, o demônio tinha lhe dado meu nome, e ela tinha resolvido me contar. Ela começou a me ligar para contar e ela disse que foi sinistro que o telefone começou a tocar na casa dela, foi quando ela o encontrou todo ensanguentado. Depois disso, ela conta que o demônio tentou matá-la e eu a encontrei jorrando sangue na sala de estar. É difícil pensar que ela maquinou isso tudo. Ela se arriscou cortando os pulsos daquele jeito.

-Será?

-Bom, ela sabia que eu chegaria rápido na casa dela. Eu tinha marcado horário. Mas e se eu não aparecesse? Se tivesse acontecido algum imprevisto?

-Para isso existe sua cúmplice e amante.

-Não deve ter sido ela mesma quem cortou os punhos... Qual a profissão da Gisele? -quis saber Miguel.

-Ela também é médica, como você -respondeu Clarice, olhando para Miguel.

-É a Gisele quem ministrou a seringa no Fernando, quem forneceu coca pura ao Antônio, quem fez os cortes na Samanta, quem simulou o suicídio. Deve ainda ter ajudado Samanta com os outros crimes. Nós só não sabemos ainda como.

-Por que será que ela namorou tanto tempo o Antônio? Não tinha necessidade -perguntou Clarice.

-Talvez houvesse, só não sabemos o motivo.

Um elegante motorista aguardava Clarice no desembarque. Wesley trabalhava com Clarice há dez anos. Eficiência, silêncio, educação e discrição eram sua marca registrada. Clarice o adorava. Ele era o motorista perfeito, pontual, cuidadoso e prestativo, dirigia com louvor e resolvia tudo para Clarice desde o supermercado até uma perseguição. De todos os empregados que teve na vida, Wesley era o melhor. Ele se aproximou de Miguel, pegou a bagagem de Clarice de suas mãos e disse:

-Pode deixar, senhor, que agora eu cuido disso.

Clarice abriu um sorriso para Wesley que sorriu de volta e depois correu para o carro a fim de ligar o ar condicionado, guardar a bagagem e abrir as portas para seus passageiros. Em poucos minutos, Miguel e Clarice já estavam acomodados dentro do luxuoso carro preto com o ar condicionado no máximo.

-Miguel, podemos ir direto para casa da Paola?

-Podemos.

Clarice deu as instruções para Wesley e eles seguiram em direção ao antigo bairro de Miguel, Ipanema.

-Miguel, em hipótese alguma diremos que desconfiamos de Samanta. Está bem? Para todos os efeitos nós só queremos encontrá-la.

-A Toninha achará estranho me ver com você.

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