29. Arpoador

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Geraldo Roberto sacou o telefone do bolso. Era uma questão de vida ou morte. A vida de Clarice e Miguel estavam em perigo. Geraldo Roberto precisava alertá-los com a máxima urgência.

Clarice estava sentada em um banco na calçada e Miguel a abraçava, buscando acalmá-la. Ela apreciou o abraço, sentia muita falta de seus meninos. Nunca mais ninguém a abraçara daquele jeito e foi pensando nisso que voltou a chorar. A certeza da ausência permanente de seus filhos enchia seus olhos de lágrima. Ela nunca se conformaria. Nunca aceitaria suas mortes prematuras.

O telefone tocou. Clarice e Miguel voltaram a realidade. Clarice olhou para o celular e disse a Miguel assustada:

-É o Geraldo. Deve ter acontecido alguma coisa! Ele é todo precavido sempre me liga de telefones que não são dele e...

-Atenda.

-Geraldo?

-Madame Clarice que bom que atendeu. Serei breve. Me encontre no Arpoador daqui a meia hora.

-Você está aqui no Rio?

-Estou. Até breve.

-Até.

Clarice desligou o telefone, olhou assustada para Miguel e disse:

-Precisamos ir até o Arpoador, agora.

-Agora?

-É. Geraldo Roberto irá nos encontrar lá.

-No Arpoador? O que ele quer?

-Ele não disse, mas precisamos ir.

Miguel e Clarice caminharam rapidamente em direção ao carro preto estacionado. Wesley seguiu as orientações sem pestanejar. Nessas horas é que Clarice valorizava a extrema discrição de Wesley, que sabia muito bem que não havia nada que a irritasse mais que dar satisfação sobre tudo que fazia ou deixava de fazer. Wesley sabia que estava ali para receber ordens e não debater sobre os hábitos e preferências de sua patroa. Wesley percebendo a pressa de Clarice e seu ar de preocupação, antes que ela dissesse que tinha pressa, acelerou o máximo que pode. Clarice percebendo o barulho do acelerador, olhou para o retrovisor e sorriu para Wesley. Wesley sorriu com seus olhos. Eles se comunicavam muito pelo olhar, tanto Wesley como Clarice aprenderam a interessante arte de decifrar cada expressão contida no olhar um do outro. Em dez minutos já estavam lá.

O telefone tocou novamente. Clarice atendeu.

-Já cheguei, Geraldo.

-Já a vi. Estou indo para aí.

Geraldo Roberto se aproximou rapidamente de Clarice e Miguel e disse em voz baixa.

-Vamos nos sentar naquele banco em frente à praia do diabo?

-Sim, é uma boa ideia -disse Clarice.

Clarice, Miguel e Geraldo Roberto assistiam brutais ondas se romperem nas pedras. Geraldo Roberto resolveu ir logo ao assunto, não havia mais tempo a perder.

-Madame, descobri a verdadeira identidade de Samanta. Ela se chama Júlia.

-Mas quem é Júlia? -quis saber imediatamente Miguel.

-Júlia é a irmã de criação da falecida senhorita Amélia, filha de Débora Marcondes e Eduardo Monteiro.

-Mas eu nunca ouvi falar dela... -estranhou Clarice.

-Pelo que eu pude entender, Júlia e Amélia não se davam, assim se Amélia era amiga de Toninha, Júlia automaticamente não era. Elas viviam vidas paralelas, foi assim que me disse a madame Débora.

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