Happy... Forever

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"Imaginem acordar de manhã, e o mundo que vocês sempre conheceram, acabou. Imaginem que todas as pessoas foram embora. E vocês ficam lá, chorando cada lágrima que os outros não choraram. Mas, de repente, alguém aparece e vos dá a mão. Alguém que tem a capacidade de vos colocar um sorriso, mesmo com os olhos cheios de lágrimas. Isso já aconteceu com vocês? Alguém já vos conseguiu colocar um sorriso, quando tudo o que vocês queriam, era morrer? Se sim, eu apenas lhes dou um concelho, não deixem essa pessoa partir... Nunca. Ela é uma pessoa importante, quem sabe, a mais importante. Façam tudo para não a perder. Porque é isso que vos irá matar."

Tudo estava claro e escuro ao mesmo tempo. A minha boca estava incrivelmente seca. Todo o meu corpo tremia. Queria tanto abrir os olhos, mas estavam tão pesados, que logo me apercebi, que era uma tarefa impossível. O meu corpo já não me provocava sensação alguma. Estava completamente leve. Ouvia alguns sons que não sei como descrever. Eram tão mortos...

- Barbie... - Uma doce e tranquila voz chamou por mim. Uma voz que eu já conhecia.

- MÃE!!! - Gritei e abri os olhos de repente.

Não havia nada. Estava sozinha. Era um jardim enorme, cheio de arvores, flores e um pequeno lago. Mas eu estava completamente sozinha. Andei um pouco, em direção a lugar algum. Eu tinha de encontrar alguém. Não sei quanto tempo eu estive a andar, mas suponho que onde eu estou, isso não importe muito. Eu tenho agora, todo o tempo do mundo.

Parei, de repente, em frente a um enorme portão preto. Olhei para dentro dele. O cemitério...

Entrei devagar, pela aquela  estrada deserta, deixando levemente meu vestido esvoaçar, junto com o meu cabelo, que era agora de um loiro impressionante.

Junto a uma cova, estavam algumas pessoas. Aproximei-me. Apercebi-me que ninguém me conseguia ver. Olhei para dentro do buraco fundo. Tentando ver quem estava dentro do caixão... Eu.

Reconhecia agora algumas pessoas. Meus tios, primos, colegas de escola... Zack.

"Agora todos me amam"

Aproximei-me devagar da minha irmã. Ela chorava como eu nunca tinha visto. Ela estava a dizer à minha tia que a culpa era dela, que ela não se devia ter afastado de mim. Coloquei um pequeno caracol do seu cabelo, atrás da sua orelha.

- Adoro-te mana - Disse baixinho ao seu ouvido.

Tinha esperança que ela ouvisse. Via a contorcer-se um pouco e disse à minha tia que tinha sentido um arrepio. Sim, era essa a sensação que eu causava nas pessoas.

Virei-me um pouco mais para encarar o meu pai. Como ele estava mal... Ele não chorava ou gritava. Ele apenas estava parado, em frente ao caixão. Eu lembro da minha mãe dizer que a pior lágrima era aquela que não caí. E eu sabia que, todas as lágrimas estavam a rebentar dentro dele. Dirigi-me até ele. Abracei-o levemente.

- Desculpa tudo o que te fiz Barbie - Ele disse dirigido ao caixão e começou a chorar.

- Já nada importa pai - Abracei-o com alguma força - Adoro-te, está bem? - Depositei um pequeno beijo na sua bochecha.

Andei através das pessoas... Zack. Como ele estava... Ele chorava, muito na verdade. Ele estava a chorar sozinho. Em frente ao caixão. Ele chorava em silêncio. Eu queria poder dizer-lhe que estava bem. E que estava feliz agora. Mas era algo impossível de fazer. Olhei-o. Senti uma lágrima correr pela minha cara, quando o vi a deixar a última rosa dentro do caixão. Ele chorava, tremia, soluçava.

Respirei fundo, e fui até ele. Parei ao seu lado. Vi o meu pai a aproximar-se de Zack.

- Ela amava-te - o meu pai colocou a mão no ombro do Zack - Ela amou-te da forma mais linda que se pode amar alguém, aquele tipo de amor que só acontece uma vez na vida - Ao dizer o meu pai voltou para perto da minha irmã.

Zack chorava agora ainda mais... Se é possível.

Continuava parada ao lado dele. Eu não conseguia dizer-lhe adeus. Não já, não agora.

Encruzilhei nossas mãos. Os nossos dedos estavam perfeitamente encaixados. Nós pertencíamos um ao outro.

Não acho que fosse necessário dizer alguma coisa. Adeus? Eu não conseguia dizer-lhe isso nunca. Eu só precisava de sentir que ele era só meu... Só por um bocado... Só pela última vez. O vento passava através do nosso corpo. Ficámos assim por alguns minutos. Ele já não chorava. A sua respiração estava acelerada e conseguia ver o coração dele bater através da justa camisa preta. Ele podia sentir-me, eu sei que sim.

- Lembraste quando nos conhecemos? - Comecei a falar, mesmo sabendo que ele não me ouvia - estava tão nervosa, mas quando me abraças-te, eu fiquei instantaneamente calma. Fui nesse momento que senti que eras tu. A pessoa que me iria salvar. - Olhei-o - Fui nesse momento que me apaixonei.

Ele continuava com a cara esticada para a frente. Olhando o caixão.

- Eu sempre estarei aqui, Zack - Soprei um pouco de ar para o seu ouvido.

Zack virou levemente a cara, olhando para o nada.

Aproximei minha cara da dele. Os nossos olhos voltaram-se a cruzar. Como na primeira vez. Dei-lhe um pequeno, mas longo beijo nos seus lábios. E então, afastei nossas mãos.

- Amo-te Zack - sussurrei bem baixinho no seu ouvido.

Comecei a caminhar em direção à saída. Olhei para trás. Ele levou a sua mão à boca, acariciando um pouco os seus lábios. Eu sabia que ele me podia sentir.

Consegui avistar a minha mãe, à saída do cemitério. Ela mantinha a sua mão esticada em direção a mim. Corri para ela.

Ela uniu as nossas mãos.

- Pronta Barbie? - Ela perguntou acariciando os meus cabelos.

Sorri para ela - Sim, mãe.

Caminhámos de mão dada, até chegarmos ao jardim que eu já conhecia.

Sentámo-nos num pequeno banco de madeira a apreciar o mais lindo por-do-sol.

Sorria sem parar.

- Finalmente encontras-te a felicidade - Ela quebrou o silêncio.

- Tive que morrer para a encontrar - Baixei a cabeça.

- Não Barbie, tu já a tinhas encontrado - Ela sorriu.

- Zack? - olhei-a.

- Claro, mas não te preocupes. Ele logo vem ter contigo. - Ela abraçou-me.

- Mas ele só vem quando for muito velhinho - ri.

- Espero bem que sim - A minha mãe riu em concordância - Mas isso não importa, tu vais esperar por ele.

- Eu sempre estive a esperar por ele.

- Sempre estives-te a procurá-lo - Ela olhou-me.

- Ele sempre será a minha felicidade - sorri e encarei o por-do-sol.

- E vais tê-lo só para ti.

- Para sempre mãe?

- Para sempre, Barbie.

Ficámos as duas a encarar o céu.

Eu sempre esperarei por Zack. E vou continuar a amá-lo. Para sempre...

Ele é a felicidade que eu sempre procurei. 

Quando ele chegar, eu sei que ficaremos juntos. Só eu e ele... Com toda a eternidade à nossa espera. 

                                                 ... FIM ...

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⏰ Last updated: Sep 04, 2014 ⏰

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À Procura da FelicidadeWhere stories live. Discover now