I'm not normal

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-Olá. - olhei-a e dei um leve aceno com a mão.

- Então, estás a gostar? - Ela levou-me até um pequeno banco que estava ao lado da porta.

- Ainda não vi nada, mas não me parece tão mau assim.

- E não é. - Ela concordou - só precisas de te habituar.

- Sim deve ser isso.

Ao dizer isto ouvimos uma campainha que me parece o toque de entrada das aulas na escola.

- Anda, vamos jantar - Ela pegou na minha mão.

Corremos as duas pelos corredores até chegarmos à cantina.

Era uma sala enorme com mesas redondas e montes de cadeiras. Era toda branca, exceto as mesas e as cadeiras que eram verdes claras.

Eu e Cassie pegámos em dois tabuleiros e dirigimo-nos para uma mesa onde estávamos só nós duas.

- não te sentas com os teus amigos? - Perguntei-lhe.

- Não me dou com ninguém aqui.

Assenti e peguei em um pedaço de carne.

- Prepara-te para a comida mais horrível da tua vida - Ela disse enquanto eu levava a comida à boca.

- É assim tão má? - Voltei a pousar o garfo.

Ela encolheu os ombros - Ninguém a come, costumámos encomendar pizzas às escondidas.

Concordei - Estás aqui porquê? - olhei-a curiosa.

- As pessoas acham que eu estou louca, mas na realidade quem está louco são eles. Eles acham que eu sou diferente, mas eles é que são diferentes de mim - Ela falava com um sorriso irónico - E tu?

Mostrei-lhe levemente os meus cortes - Eles querem que eu pare.

Ela sorriu e apontou para um rapaz que acabava de se sentar, não tinha mais de 15 anos.

- Ele chama-se Joseph, eu não sei bem o que ele tem, mas há algumas semanas tentou matar a nossa médica com uma arma - Ela ria - Ficou 3 semanas de "castigo" - Cassie fez o gesto de aspas com os dedos.

- Que castigo - Olhei-a curiosa.

- Bom, quando alguém aqui faz alguma coisa de mal, é trancado numa sela com pouca comida e água e totalmente proibido de receber visitas.

Olhei-a assustada.

- Não te preocupes, a nós tratam bem - Ela voltou a pegar na minha mão e fomos passear pelo hospital. Cassie apresentou-me algumas pessoas. Esquizofrênicos, bipolares, depressivos, anoréticas... Todos com menos de 18 anos. Eu não fazia ideia que podia haver tanta gente como eu.

Passeámos por mais ou menos 2 horas até ouvirmos outra campainha.

- E esta é para que? - olhei-a e ela riu.

- Anda - Cassie correu para a direção oposta.

Chegamos a outra sala e estava lá uma fila enorme de pessoas. Cassie não disse para que era.

Quando finalmente chegou a minha vez reparei que estavam lá duas senhoras. A primeira enfiou-me um comprimido pela boca e a outra disse "28". Suponho que estavam a contar as pessoas, pois Cassie que estava atrás de mim foi o 29. Ela pegou em meu braço e voltámos ao corredor.

- Até amanhã - Ela disse ao chegarmos ao pé do quarto dela.

- Eu ainda não tenho sono.

- Vais ter em alguns minutos - Ela sorriu - os comprimidos são para isso - Ela abriu a porta e entrou para o quarto.

Eu caminhei mais um pouco pelo corredor até chegar ao meu quarto. Comprovei que os comprimidos eram eficazes, pois em cinco minutos estava morta de sono, tanto que eu simplesmente caí na cama e adormeci...

Acordei na manhã seguinte com Cassie a acordar-me.

- Bom dia - Eu disse ao encara-la.

- Anda, está na hora do banho - Ela puxou-me pelo braço.

Chegámos a outra sala. Era realmente estranha. As paredes eram brancas e o chão com azuleijos verdes. E tinha umas vinte banheiras com, no máximo, um metro de intervalo. Duas meninas tomavam banho, enquanto duas enfermeiras as espionavam.

Cassie começou a despir-se e eu segui o seu gesto. Quando estávamos completamente nuas, caminhei para dentro de uma banheira e ela de outra. Duas enfermeiras nos seguiram. Uma delas puxou um banco pequeno de madeira castanha e colocou-o ao lado da minha banheira, sentando-se lá. A outra enfermeira fez o mesmo, só que para a Cassie.

Não me senti muito à vontade para tomar banho com ela a olhar para mim fixamente, mas acabei por esquecer que ela ali estava.

Quando acabei o meu banho a enfermeira puxou uma toalha e eu enrolei-a ao meu corpo e vesti as minhas roupas que já se encontravam na sala.

Depois do pequeno-almoço eu e Cassie fomos ver televisão. Passámos um dia muito agradável juntas.

Todos os dias eram iguais naquele sítio, mas com a Cassie passavam mais rápido. O Zack ligava para lá todos os dias e o meu pai de dois em dois. Mas já me sentia contente com a atitude dele. Também tinha consultas num psiquiatria todos os dias, era um bocado cansativo. Senti muita falta de Zack.

Quando dei por mim estava a acordar no dia de me ir embora. Zack vinha buscar-me à tarde. Isso dava algum tempo para me despedir de Cassie. Fui ter com ela, tomámos banho e seguidamente, o pequeno-almoço. Ela finalmente disse que já se encontrava naquele hospital à 4 meses... Não imagino passar tanto tempo no mesmo sítio. Eu estava sufocada ali.

Eu e Cassie estávamos a ver televisão, quando uma enfermeira me veio informar que Zack já estava lá fora, à minha espera.

Olhei Cassie por alguns segundos. Ela abraçou-me e acompanhou-me até à porta.

Vi Zack ao pé do carro e acenei-lhe. Voltei a virar-me para Cassie.

- Não deixes que roubem a tua loucura, ela faz de ti a pessoa que és. Tu tens a loucura, mas eles têm a normalidade - Ela sussurrou.

Sorri-lhe. Caminhei em direção ao carro e Zack deu-me um pequeno e carinhoso beijo na cabeça.

Olhei Cassie novamente.

Ela piscou um dos olhos e sorriu. Sorri em concordância.

Eu e Zack entrámos para o carro e dirigiamo-nos em direção a casa.

Eu não era normal. Eu era diferente e isso tornava-me perfeita... Só a Juliette. Sem comparação a ninguém... Só eu mesma.

À Procura da FelicidadeWhere stories live. Discover now