08 - Mari

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Estava sonhando, simplesmente aquilo era um sonho, pois qual explicação eu daria para uma cena como aquela? Eu estava em uma sala, tudo estava escuro ao meu redor, tudo exceto o centro onde eu estava. Estava em pé e por algum motivo fiquei parada ali, diante de mim havia uma mesa de vidro, em cima tinha uma chave, uma chave de ouro, a mais simples das chaves que já vi, não que eu me lembre de muitas, mas sabia que aquela era especial. De repente, uma porta se abre iluminando o ambiente, mesmo que fraca a luz me ajudou a ver um pouco a sala, tinha algumas cadeiras à frente, mas logo tudo voltou à escuridão. Um medo se abateu sobre mim, meu psicológico sabia quem fazia aquele barulho com o sapato quando batia no chão, eu não sabiaquem era, mas todo meu corpo sabia.

"Mariana," — uma voz suave entoou pelo ambiente preenchendo-o e afastando o silêncio — "que bom que você está aqui conosco. Acredito que você está confusa pelo fato de estar me esperando aqui nessa sala fria e escura" — podia ouvir sua voz, mas seu rosto ainda continuava no escuro — "no entanto, o procedimento é esse, nos conheceremos um pouco depois, mas por enquanto preferirei ficar no anonimato. Então conte-me, porque quer se juntar a nossa equipe?"

Algo me dizia para sair correndo daquela sala, mas o corpo não me pertencia, mas sim à minha versão do passado. Eu estava apenas olhando, nada mais poderia fazer além de olhar, queria me puxar pelos braços e tirar-me de lá, mas não podia.

"Porque quero uma nova vida para mim, simplesmente odeio a vida que tenho, seria melhor continuar vivendo fazendo algo que ajude a humanidade. Quando me contaram sobre a clínica eu aceitei, pois quero uma vida melhor."

"Bom, Mari, temos uma vida melhor para você, mas deseja renunciar sua vida passada para viver uma nova?"

Os pensamentos da minha versão do passado inundaram minha mente, sabia exatamente o motivo que a levou até ali. Ela, no caso eu, queria esquecer as mortes que foi obrigada a ver: a mãe, o amigo e — a mais cruel de todas — ela viu o próprio namorado ser assassinado, na sua frente, brutal e cruelmente. Tentei tirar aqueles pensamentos da minha cabeça, não tive uma vida fácil, tive uma família difícil, perdi quem mais amava, vi a morte de todos sem nem mesmo ter como ajudá-los. A lista de pesadelos não parava por aí, naquele momento entendi o que me trouxe ali, e entendi por que eu disse:

"Sim, eu aceito!"

***

Acordei sobressaltada, estava no quarto onde dormi pela primeira vez, era bem espaçoso, tinha uma cama de casal, com colchas macias e lençóis mais ainda. Tinha uma televisão embutida na parede e uma estante cheia de livros e de objetos decorativos que eram bem bonitos. Não sei porquê, mas considerava esse quarto um refúgio, um lugar de segurança.

O sonho voltou à minha mente, sabia que estivera no passado, no dia que entrei para o projeto e sabia exatamente as motivações que me levaram até lá, o passado sempre acha brechas para entrar, ele sempre entra não importa quanto tempo demore, ele sempre volta. No meu caso, queria muito esquecer aquela cena.

Saí e fui direto para o banheiro, limpei meu rosto e tratei de esquecer aquele sonho e as lembranças que ele me trouxe. Já tinha muitos problemas para me preocupar com o passado.

Quando saí do banheiro, fui para a cozinha e vi que Julian estava tomando seu café da manhã, a mesa estava recheada de comida: pães, manteiga, leite, sucos e bolos, meu estômago pareceu alegre com isso, fazia dias que não comia tão bem. Senteii-me diante de Julian.

— Bom dia, Mari — disse sorrindo para mim, ele estava com um pão em suas mãos e uma faca.

— Bom dia, Julian. Onde está o Juan? — perguntei pegando uma xícara para mim, queria tomar um café, queria acordar. Não sei de onde tirei aquela ideia, mas algo em dizia que café animava mais.

Projeto CronosWhere stories live. Discover now