04 - Mari

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Assim que parei de tocá-lo e o encarei, milhares de perguntas surgiram em minha mente. – Isso como se eu já não tivesse perguntas não respondidas o bastante para me preocupar.

Já me sentia bem anormal por ter descoberto que podia ver o passado das pessoas ao tocá-las. O que eu era, podendo também ver o futuro desse garoto? E o que vi não era uma coisa simples que aconteceria em seu futuro, era sua morte. Será que poderia ajudá-lo a preservar sua vida? E se ele morresse? Seria minha culpa, já que vi sua morte e não pude ajudar mesmo assim? As perguntas giravam a uma velocidade tão grande que achei que seria capaz de desmaiar se continuasse pensando nelas.

— Vocês estão bem? — perguntou Juan, me fazendo voltar à realidade.

Ao olhá-lo, vi que seus olhos mostravam uma preocupação. Provavelmente nossa reação o assustou.

— Não — respondeu o outro garoto —, pelo menos eu não estou nada bem.

Ele me olhou e prosseguiu:

— Qual é seu nome?

— Mari — respondi. — E você, quem é?

— Sou o Julian — respondeu. — O que acabou de acontecer?

Não consegui dizer nada. Como iria explicar a ele que vira seu futuro, sua morte? Sendo que normalmente vejo o passado das pessoas? Na verdade, de normal isso não tinha nada.

— N-Nada — gaguejei. — Vamos Juan, estamos com pressa — terminei de falar totalmente desconsertada.

Mas alguns passos depois, como se estivesse criando a coragem para falar, ele diz, não tanto, mas alto o suficiente para que eu consiga ouvir:

— Eu vi seu passado, Mari, e eu sei que viu alguma coisa também.

Pânico! Um pânico semelhante àquele que senti quando acordei no beco escuro sem saber quem era. Senti isso assim que ele terminou a frase. Não podia ser possível! Alguém como eu, alguém vê um tempo diferente do real, ele era como eu! Comecei a caminhar em sua direção, e Juan, com relutância, me seguiu.

— O que está acontecendo? — Perguntei com insegurança. Logo depois perdi o equilíbrio com uma repentina tontura e me apoiei em Juan, que me segurou firmemente.

— Por favor, vamos esclarecer isso. Seja lá o que tenha acontecido — Julian implorou. — Por favor.

— Por que ela concordaria em te contar? — Juan interrompeu. — Como sabemos que podemos confiar em você? Como sabemos que podemos contar alguma coisa a você?

— Não sabem — disse Julian. — É uma escolha que fazem. Mas não é todo dia que alguém vê seu passado, então por favor, pelo menos me deem um voto de confiança.

— Vamos — decidi. — Mas preciso me sentar, estou tonta.

Nós entramos em um consenso silencioso e começamos, juntos, a andar.

A casa do amigo de L ficava em frente à praça, então atravessamos a rua para achar um banco onde pudéssemos nos sentar sem muita gente por perto. Enquanto percorríamos o pequeno caminho até um banco mais próximo e deserto, olhei para Julian e permaneci com os olhos nele por um momento sem que ele percebesse. Comecei a imaginar se ele era como eu, se ele via o passado dos outros, se estava tão perdido quanto eu. Considerei também que talvez ele não tivesse habilidade alguma de ver o passado, talvez fosse apenas um efeito colateral da minha visão sobre ele no futuro. No fim, o problema podia ser apenas comigo.

Tirei os olhos dele ao chegarmos a um banco que não tinha ninguém em volta. Eu me sentei, seguida de Julian, porém Juan continuou de pé.

— Vocês não preferem que eu dê uma volta por aí? Enquanto vocês explicam seja lá o que aconteceu? — Perguntou Juan. — Não querem conversar em paz?

Projeto CronosWhere stories live. Discover now