05 - Julian

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"Não será tão agradável", L disse. O que ele não mencionou era que isso era uma maneira de suavizar a situação. Se a Mari estivesse mais perto da porta teria quebrado seu nariz, tamanha a brutalidade com que o velho fechou a porta.

— Abra! Precisamos falar com você. – voltei a bater na porta.

— É, mas eu não. – ouvimos sons de trancas. Por que ele estaria com raiva de nós? Fizemos algo para ele antes de perdemos nossas lembranças?

— O senhor precisa nos ajudar. Por favor, abra a porta. – Mari tentou ser o mais gentil possível.

— Vão embora. Eu não tenho como ajuda-los. – o homem respondeu secamente.

Certo, a abordagem educada não funcionou, vamos para o plano B. Esse cara era a única pista que pode nos ligar ao nosso passado. Bem, tem aquela visão da Mari, mas não a entendi direito.

Fui para um dos lados da casa e encontrei uma das janelas. Enrolei minha jaqueta no cotovelo para quebrar o vidro, isso diminuiria o barulho. Não me pergunte como sei disso.

Quando a janela se partiu eu atravessei. Procurei o velho e o encontrei perto da porta, provavelmente estava escutando se já tínhamos ido.

Tinha que encontrar uma maneira de fazê-lo cooperar.

— Vamos lá. Talvez seja a única maneira. – disse a mim mesmo enquanto arregaçava as mangas da jaqueta.

***

— Como conseguiu Julian? – Mari me perguntou quando me viu abrir a porta para eles entrarem.

— Digamos que dei uma dica para o futuro dele. – respondi. — Por aqui.

— Não devia ter feito isso, sabe o que pode acontecer.

— Tinha uma ideia melhor? – Mari não respondeu. — Foi o que pensei. Agora vamos, ele está esperando.

Fomos até outro cômodo da casa. Era uma sala ampla e vazia, exceto por uma grande estante cheia de livros e estranhos itens de decoração, algumas poltronas antigas e uma lareira que fornecia a única iluminação.

O velho estava em uma das poltronas lendo um livro. Nós três nos dirigimos até o homem que estava com um livro nas mãos.

— Richard Flind foi mais que alguém que nos salvou de uma guerra eminente, ele nos guiou para uma nova era de liberdade, uma era onde cada um conseguia mostrar o melhor de si. Com o remorso de perder um líder tão inspirador, Honora conseguiu ver que o legado é algo que não pode simplesmente sumir com a morte de alguém e almejar um futuro onde armas não serão mais necessárias. – o velho terminou de ler um trecho do livro e olhou para Mari. — O que acha disso?

— Todos veem um herói em Richard Flind. – Mari parecia estar surpreendida pela pergunta.

— Errado! – o homem se levantou bruscamente e atirou o livro às chamas que o consumiram em pouco tempo. — Quantas pessoas se sacrificaram para que Richard fosse visto como herói? Você acha que ele desmascarou toda a organização sozinha?

— Porque fala dessa maneira? Sabemos que muitos sacrifícios foram feitos para que conseguíssemos a paz. – Juan se pôs entre Mari e o homem.

— Sabe o que é um substantivo abstrato? É algo que não existe, é como a paz. Nunca há paz e sabe por quê? Porque sempre haverá a guerra. Richard era um tolo por pensar que poderíamos alcança-la.

— Não! – gritei. Por algum motivo não conseguia ouvi-lo falar assim. — As pessoas daqui acreditaram nele. E é isso que precisamos para a paz, que as pessoas acreditem que vão consegui-la.

Projeto CronosWhere stories live. Discover now