Um dia da caça, outro do caçador

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Lorenzo. Quantos Lorenzo Albertini haverá em Roterdã? Imediatamente eu começo a revirar os papéis em minhas mãos, esquecendo por um breve momento que o meu funcionário havia dito que o currículo DELE estava por cima. Assim que eu o acho, estico meu braço, como se não acreditasse no que via. Sim, ele se formou na mesma escola que eu estudei todo o meu ensino fundamental. Seria possível? Eu acreditei que eu nunca mais veria o Lorenzo. Lorenzo... Eu ainda não podia acreditar. Me levantei e fui em direção à poltrona espreguiçadeira. Me deito e fecho meus olhos, e novamente aquela visão volta a me atordoar.

"Naquele dia eu tomei coragem e fui falar com ele. Há algumas aulas eu vinha percebendo suas dificuldades na aula de matemática e ao mesmo tempo ninguém se oferecia para ajudar. Lorenzo também era envergonhado, igual a mim. Algumas vezes eu vi os outros meninos zoarem ele, assim como as outras meninas faziam comigo. Talvez ninguém melhor que eu para ajudá-lo.

O sinal tocou, peguei meus livros e eu vi que Lorenzo estava de cabeça baixa. Por um momento achei que ele estava chateado por não entender a matéria. Minhas pernas tremiam e minhas mãos congelavam. Era uma mistura de sentimentos em meu corpo, ao mesmo tempo em que o meu estômago estava frio, meu rosto esquentava. Quase desisti, mas não tive opção quando ele levantou a cabeça para mexer no cabelo. Seus olhos estavam muito avermelhados. Gaguejei:

- L-Lo-Lorenzo?

- Oi... – Ele me responde com uma voz mais grossa que o normal. Uma voz de preguiça.

- Vim me oferecer para te ajudar nas aulas de matemática e... Espera. Você estava dormindo? – Digo, intrigada.

- Eu? Bem... – Ele gagueja – Eu estava. Não consigo entender uma palavra do que essa mulher diz.

- Talvez porque ela não fale muitas palavras, só números. – Tento fazer uma graça, mas logo me envergonho do que eu acabo de dizer. Balanço a cabeça em reprovação à mim mesma e começo a andar em direção a porta. Para minha surpresa, eu escuto a risada de Lorenzo logo atrás de mim, mas eu estava muito vermelha pra olhar de novo.

Assim que começo a andar pelo corredor, alguém segura minha mão e eu gelo, sem nem olhar pra trás. Simplesmente paro.

- Seu nome é Bianca, né? A nerd da aula de matemática. Eu aceito sua ajuda sim, quando podemos começar a estudar? – Era o Lorenzo. Eu senti meus olhos esbugalhando na mesma hora. Olhei pra ele com as sobrancelhas juntas, como se não estivesse acreditando. O Lorenzo, meu Lorenzo (nos meu sonhos), segurando minha mão. Ele não parecia aquele menino envergonhado naquela hora.

Ele sorriu. Eu virei estátua e não consegui responder. Ele solta minha mão e segura meus ombros. "Droga, eu realmente preciso fazer alguma coisa" pensei. Nunca tinha reparado que seus dentes eram tão brancos e tão alinhados. Sinto aquele frio e calor novamente. O vento bate e seu perfume entra em minhas narinas. "Bianca, mexa-se."

- P-po-de-m-mos co-co-meçar hoje de-e-p-po-is da aula... – Digo gaguejando. Eu me viro de costas e começo a andar novamente. Se ele viesse atrás de mim, eu realmente acreditaria que aquilo estava acontecendo. Minhas pernas tremiam de um jeito que não tremeram nem quando tive que apresentar um trabalho em frente à sala toda.

Tudo que vai, voltaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora