Nota zero em Biologia

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Desamparado, entrei na sala e sentei no lugar em que nós costumávamos (recentemente) sentar, mas ela havia mudado esse costume: sentara-se na primeira carteira, distante o bastante para fazer meu coração partir em milhares de pedacinhos. 

Em um momento de tristeza, peguei-me pensando no que Stace falara: eu realmente só pensava em beijá-la e ir embora? Será que eu não gostaria de ter a ruiva como amiga também?

Todas as perguntas foram respondidas de forma negativa. Eu queria muito mais: abraçá-la, cuidar dela e protegê-la, ficar ao seu lado para sempre... Esse "sempre", contudo, estava longe de existir.

No primeiro horário, repassava nossa conversava, tentando refletir sobre minhas atitudes. Mas uma palavra mágica me distraiu: "cálculo". Era apaixonado por Matemática desde criança e, aliado à minha paixão pelos videogames, passara a cativar meu sonho de criar jogos.

Por incrível que pareça, nem vi aquela aula passar. Naquele momento, eu ansiava que o tempo congelasse no dia anterior, ou que eu simplesmente pudesse voltar no tempo para consertar todos os meus erros.

Passei o segundo horário angustiado, tentando me concentrar nos livros de Biologia. Ironicamente, lembrei-me do dia em que estudamos em sua casa. Aquela matéria tinha mesmo alguma conexão com nossa relação: Nos unimos e nos distanciamos, sempre envolvendo nossos estudos dos seres vivos.

- Thomas, onde você está? - ouvi uma voz conhecida chamando-me: Era Carine, a professora de Biologia.

Antes de responder, analisei a situação: toda a sala se virara para mim. Alguns riam discretamente e um enorme registro no quadro, o qual eu não tinha nem começado a copiar, puxou-me para a realidade.

- Thomas, eu te fiz uma pergunta. Por acaso o gato comeu sua língua?

- N-n-não professora - eu tomei coragem para dizer a verdade com todos os outros alunos ouvindo, suspirando. Aquilo seria constrangedor - Eu... Não comecei a copiar. Desculpe. Estou um pouco distraído hoje.

A sala toda caiu na gargalhada, debochando de mim. A professora se manteve calma e paciente, entretanto, ordenando silêncio à classe. Stace simplesmente ignorava os acontecimentos, concentrada nos seus registros.

- Tudo bem. Mas quero que você me traga esse registro amanhã.

O sinal do recreio tocou e eu percebi que estava perdido. Quem me emprestaria o caderno para eu fazer o registro?

Saí da sala com todos os outros, que aproveitaram a oportunidade para me cutucar e me empurrar. Ignorei os acontecimentos e andaria em busca de Stace se um braço feminino não me impedisse de cruzar a porta.

- Thomas - disse Carine - Posso falar com você?

Assenti com a cabeça, e ela fechou a porta da sala. Eu provavelmente estava em um problema e, infelizmente, esses não eram como os de matemática.

Amor nos olhos azuis [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now