A perdi na multidão

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- Thomas, está na hora de acordar! - minha mãe me chamara, fazendo com que eu achasse que o dia de ontem fora parte de um sonho.

Me levantei, vesti o uniforme vermelho e branco, coloquei minhas lentes (já que eu detestava usar óculos) e fui tomar café. Ainda estava escuro lá fora, mas eu estava radiante. Um frio na barriga - por mais irônico que isso seja - me incendiava sempre quando a lembrança do dia anterior vinha à tona.

- O que foi, filho? - dona Carmen indagou, percebendo meu descaso repentino com o sanduíche de presunto que eu havia preparado - Não quer comer hoje?

- Quero sim, mãe. Apenas estou com sono. - Fingi um bocejo.

Olhou-me, insatisfeita com a resposta, mas não questionou.

- Tudo bem. Mas ande rápido, se não vai se atrasar!

Comi o mais rápido que pude quando ouvi as últimas palavras da minha mãe, querendo encontrar Stace novamente, e calcei meu all star preto, já com a mochila no ombro. Escovei os dentes, despedi de minha mãe e fui embora em minha bicicleta, extasiado com a ideia de encontrar a "minha namorada".

Tal situação me fez rir, porque me fez lembrar que, quando eu era pequeno, tinha várias namoradas, só que nenhuma delas sabia disso. Agora, anos de amadurecimento depois, passo pela mesma problemática, tendo uma namorada que não sabe que é minha. Afinal, estávamos namorando? Ela ao mínimo gostava de mim? Eu finalmente encontrara alguém que me amasse?

Quando terminei mentalmente essas perguntas, cheguei ao portão do colégio, avistando-a. Estava linda, como sempre, em sua simplicidade de colegial. Um brilho faiscante fazia com que eu me esquecesse das perguntas e pedalasse mais rápido, indo em seu encontro. Desci da bicicleta e a abracei. Nós entramos juntos no colégio, calados.

- Que mal lhe pergunte - disse, tentando puxar assunto e tirando minha dúvida- você estava me esperando?

- Estava... Algum problema?

- Claro que não! Só estranhei sua atitude. Ninguém nunca fez isso por mim.

- É isso que os amigos fazem, não é? - a ruiva piscou para mim, sorrindo.

- Ou mais que isso... - eu pensei alto, sorrindo. Segundos depois, percebi meus atos e comecei a me martirizar mentalmente.

- O que você disse? - disse mais alto que o normal, com o rosto corado. Esperava que fosse o constrangimento que a deixara assim, e não a raiva.

- N-nada. Me desculpa, eu estava pensando em outro assunto e...

- Então você não estava prestando atenção no que eu dizia? ... O que aconteceu com você?

- Stace, não foi o que eu quis dizer...

- Foi bom você dizer isso - ela me interrompeu - Agora eu vejo que você é como todos os outros, só se aproximou de mim porque queria ficar comigo! Eu devia saber que todo aquele carinho repentino tinha uma razão!

Depois das duras verdades que eu havia escutado, Stace foi embora, e eu não a encontrei até o horário de aula. Agora eu, que não era tão crente e religioso, pedia fervorosamente para que ela voltasse para mim. A transformação que a garota causava em mim me impressionava a cada dia, fato o qual eu esperava que ela reconhecesse como uma demonstração do meu amor.

Amor nos olhos azuis [CONCLUÍDO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora