Capítulo 1

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O dia de trabalho foi um lixo. O novo supervisor é um merda. E quem me dera ter poderes extrassensoriais para mandar o trânsito de São Paulo direto para puta que pariu. Ou para o inferno. Qualquer lugar de onde o retorno seria impossível.

Esses eram os pensamentos de Isabella conforme caminhava pelo bairro onde morava. Ela havia acabado de descer do ônibus que tomava diariamente para fazer o percurso do trabalho até sua casa, localizada num condomínio fechado na zona norte de São Paulo. Fazia um ano que finalizara o estágio e fora contratada como auxiliar de laboratório numa indústria química. Mas ela odiava aquele trabalho há quase quatro anos, desde o primeiro dia em que pisou na empresa. E por todo esse tempo Isabella se perguntava por que continuava num lugar que detestava tanto. Sim, o problema era o lugar. Ela gostava de trabalhar com controle de qualidade, pesar, medir, fracionar, analisar produtos que iriam parar nas prateleiras dos produtos de limpeza dos supermercados. Seu dia a dia era recheado de tarefas meticulosas e, até certo ponto, repetitivas e cansativas. Tudo que Isabella gostava. Se não fossem por seus colegas e superiores, seria como viver a frase célebre: “Escolha o trabalho que ama e não trabalhe um único dia de sua vida”. Só que graças aos supervisores sem noção, que ela foi obrigada a enfrentar ao longo desses anos, e também graças aos funcionários egoístas, totalmente focados em seus próprios umbigos, Isabella ia para o trabalho, diariamente, como quem caminha para sua própria execução.

Chegou na frente do portão do condomínio de casas, o portão fez um clique e abriu automaticamente. Isabella ajeitou a bolsa no ombro dolorido, porque, claro, nenhum ser teve a boa vontade de se oferecer para levar sua bolsa. Ela já devia ter se acostumado a esse comportamento. Ou melhor, ela já estava acostumada a isso. Apenas precisava dar um jeito de seu ombro também se acostumar. Jogou os cabelos pretos lisos para trás. Suspirou, cansada, quando avistou sua casa a poucos passos. Finalmente, tomaria um banho, tiraria a poluição e o cheiro de produtos químicos do corpo. Então, poderia jantar e assistir a algum programa na tevê.

            Um pouco mais feliz com essas conclusões, Isabella estava alcançando a porta de casa quando uma sombra surgiu em sua frente, fazendo-a dar um salto para trás e quase cair sentada. O susto não durou muito porque o reconhecimento da “sombra” aconteceu em seguida. Brian. Seu vizinho idiota que já deveria ter se mudado de lá. Ou melhor, que nunca deveria ter se mudado para lá.

— Brian, que merda! Quer me causar um infarto? Eu não te vi aí.

— Oi, japinha. Como foi seu dia? – Passou as mãos pelos cabelos castanhos claros, lisos. Isabella quis fechar os olhos para bloquear a visão dos bíceps musculosos, que apareceram com o movimento que Brian fez. Não queria se sentir atraída por nada naquele cara. Absolutamente nada.

— Você estava aí, na surdina, parecendo uma assombração, só para me perguntar como foi meu dia? Ah, fala sério?! Dá licença. – Saiu empurrando o rapaz e praguejando.

— Ok, isso quer dizer que foi uma bosta. Mas não estava te esperando para fazer essa pergunta. Só quis ser educado. – Segurou o braço de Isabella, causando-lhe um arrepio indesejado que voou do braço para o resto do corpo.

— O que você quer, Brian? Estou com fome, com sono, mega estressada... em resumo, sem clima para papos. – Desvencilhou do toque e deu um passo para trás. Quanto mais longe ficasse de Brian, melhor para sua sanidade mental e seus hormônios traíras.

— Preciso que você compareça a um evento da academia comigo, Isa.

— Como é que é?! – Por que a droga de seu apelido naquela voz grossa soava quase como uma carícia? E por que ela prestava tanta atenção a isso?

— O negócio é o seguinte: tem uma coroa que está me assediando na academia. Velho, eu não aguento mais isso! Já tentei de tudo para fugir das investidas dela, mas ela é incansável. E tenho certeza de que o tiro de misericórdia virá nesse evento, quando a barreira entre professor e aluna não for tão rígida quanto no ambiente da academia.

Atração Explosiva (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now