Prólogo

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            — Desce daí! Vovó falou que não pode subir nas tábuas.

            Uma garotinha de cabelos negros, lisos, e olhos amendoados, levemente orientais, mantinha as mãos presas na cintura enquanto encarava o garoto magro e alto, que parecia pouco se importar com a reprimenda. Ele continuava pulando sobre o amontoado de tábuas, no terreno baldio, ao responder:

            — Sua vó não manda em mim.

            — Mas são as regras! – A menina não se deu por vencida. — Todo mundo tem que obedecer às regras.

            O garoto mudou de posição, girando o corpo para a esquerda. Mechas castanho-claras caíram sobre seus olhos. No entanto, ele não fez nada para tirá-las. Estava muito entretido com as manobras “radicais” que executava.

            — Só as pessoas seguem regras. E, olhe – levantou os dois braços, riu e começou a agitá-los —, agora sou um pássaro. Pássaros têm suas próprias regras.

            A primeira reação da menina foi a confusão. No auge de seus cinco anos, ela nunca vira nenhum ser humano virar um pássaro. Além disso, aquele menino continuava com tudo no lugar. Não havia criado asas ou penas. Então, se deu conta de que ele queria enganá-la. E, muito contrariada, ela apelou para o último subterfúgio que poderia ajudá-la com aquele teimoso:

            — Vovó! Vovó Marília! O vizinho novo está pulando nas tábuas do terreno!

Atração Explosiva (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora