Capítulo 4

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Isabella cravou as unhas nas palmas das mãos. Mas sua vontade era grudá-las nos cabelos da coroa sem noção. O pensamento de que estava reagindo exacerbadamente ao comportamento da mulher, que não largava o pescoço de Brian, ainda que ele estivesse se empenhando em se livrar dela, não foi suficiente para despertar Isabella da ira e do asco que a dominavam naquele momento. Tampouco a impediu de avançar um passo e dar um cutucão nas costas da mulher, cujos cabelos pretos longos, claramente tingidos, não deveriam ver uma hidratação havia anos.

A mulher virou o rosto, ainda dependurada em Brian, e examinou Isabella, franzindo a testa. A garota não perdeu tempo. Respirou fundo – porque precisava se controlar para que a voz saísse num tom minimamente humano, já que a sua vontade era de rugir como uma fera enjaulada – e soltou:

            — Você se incomodaria de largar o pescoço do meu namorado? Não há necessidade de ficar dependurada nele para falar um oi.

Imediatamente, os braços que quase sufocavam Brian foram retirados. E a dona do abraço atrevido teve a decência de corar. Por seu lado, Isabella não sentiu um pingo de constrangimento ao encarar a periguete, maquiada como um palhaço, de cima a baixo. O delineador estava tão marcado que causaria inveja nas personagens da novela O Clone, que sua avó Marília a obrigou a assistir todos os dias, durante as férias do ano passado, na exibição do Vale a Pena Ver de Novo. O batom vermelho-sangue a fazia parecer ainda mais pálida, quase translúcida, e era uma combinação perfeita para as bochechas abarrotadas de blush. E, como se a maquiagem carregada não fosse suficiente para destacá-la mais do que a decoração ridícula, que haviam acabado de remover do palco, a mulher usava um microbustiê de lantejoulas prateadas e uma saia vermelha esvoaçante, que deixavam a barriga toda de fora e por muito pouco não deixava a calcinha também – se é que ela usava uma.

Isabella sabia que estava sendo muito maldosa em sua inspeção. E, principalmente, em seus julgamentos. Se não fosse toda a “superprodução”, a mulher até que poderia ser considerada bonita, “conservada”. Talvez estivesse beirando os 50 anos, mas passaria por 42, 43. O problema era que a mestiça abominava pessoas sem noção, intrometidas, folgadas, que invadiam o espaço alheio. Pois, era claro que seu surto nada tinha a ver com o fato de a “sem noção” ter invadido especificamente o espaço de Brian. Ou que ela permanecia com os ombros quase colados ao tórax musculoso do rapaz. Ele era grandinho e podia muito bem se cuidar sem sua ajuda. Além disso, não estava entre suas atribuições de namorada fake dar barraco – coisa que ela abominava também.

Solange se deu conta de que a garota à sua frente não pararia de encará-la como se quisesse reduzi-la a cinzas no meio da multidão reunida para assistir às apresentações de dança. E, por mais que ela tivesse começado a se empenhar em devolver o mesmo tipo de olhar àquela mestiça petulante, não estava conseguindo levar a melhor. Então, virou o rosto para seu professor de Spinning e musculação – modalidades nas quais ela se matriculou exclusivamente para ficar mais perto daquele gostoso – e resolveu tirar a limpo a dúvida que a estava corroendo.  

            — Desde quando você tem namorada, Brian querido?

            — Desde sempre! – Isabella intrometeu-se, cortando qualquer possibilidade de Brian, que estava no meio das duas mulheres, meio atordoado, dar uma resposta. – Começamos a namorar na adolescência. E, caso você esteja curiosa para saber a data exata, no dia 5 do mês passado, completamos 11 anos juntos. – Essa era a data de aniversário do primeiro beijo que eles trocaram, mas, obviamente, Isabella não contaria a verdade. E torcia para que Brian não percebesse que ela ainda se lembrava do mês e do dia em que ele a beijou pela primeira vez.

            — Tudo isso? Brian nunca me contou que tinha namorada. – Voltou os olhos para Brian, que encarava Isabella como se ela tivesse criado asas.

Atração Explosiva (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now