Capítulo 5

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           Brian não prestou atenção a nenhuma das duas apresentações de dança. Nem saberia dizer se houve música durante elas. Na verdade, nem se lembrava de ter olhado para o palco em algum momento. Sua atenção esteve voltada o tempo todo para Isabella e o namoro que eles encenavam.

Quando chegaram ao evento, o rapaz sentia-se excitado, sua adrenalina estava a mil. Apesar da fama de fugir de “armadilhas femininas”, no topo delas, namoro, e apesar de concordar com Isabella sobre não darem certo juntos, pois sempre acabavam brigando, até nos momentos mais românticos, Brian estava curioso, e um tanto ansioso, para ser o namorado da mestiça. Confessava que uma parte disso tinha a ver com o fato de poder exibir uma linda mulher aos amigos. Mas outra parte, infinitamente maior, estava relacionada à desculpa perfeita que o namoro forjado proporcionaria para tocar a garota por toda a noite. Nos últimos cinco meses, não teve muitas oportunidades de tê-la em seus braços. Isabella estava tentando evitá-lo a todo custo desde que a troca de um chuveiro queimado terminou num sexo desesperado no banheiro da casa dela, enquanto os avós da garota participavam de um curso na igreja.

No entanto, as coisas não saíram do jeito que ele planejou. Mauro foi o primeiro a estragar a noite. Se existia uma única regra à qual Brian fazia questão de obedecer, era não dar em cima da mulher de um de seus camaradas. Por seu lado, parecia que o filho da puta de seu colega de trabalho não se importava nem um pouco com esse acordo tácito. Preferia exercitar sua lábia com qualquer mulher que cruzasse seu caminho. Brian se considerava um cara calmo, amigo, na dele. Porém, a inspeção maliciosa de Mauro ao ser apresentado para Isabella incendiou seu sangue. Em seguida, veio Solange, mais insinuadora do que nunca, e o motivo pelo qual Brian inventou o tal namoro. Desde a primeira vez que a viu, e a mulher se jogou, literalmente, em seu colo, com a desculpa de que não passava muito bem, durante a aula de Spinning, o rapaz soube que ela seria problema. Dito e feito. Ela se tornou um problemão. Não perdia a oportunidade de agarrá-lo, apertá-lo ou se apertar contra ele. Não tinha nada contra as mulheres mais velhas. Poderia, inclusive, ser bem interessante sair com alguma. Pareciam ser menos complicadas do que as mais jovens. Só que não se interessava por alunas de sua academia. Simplesmente, não conseguia misturar as coisas, como faziam vários de seus colegas de trabalho. Além disso, tinha pavor de mulher pegajosa. Elas sempre exigiam bem mais do que ele estava disposto a dar.

A única coisa que valeu a pena no episódio constrangedor foi a reação ciumenta de Isabella. Foi bem interessante. Para não dizer que o deixou a ponto de deitá-la no chão da academia e repetir cada loucura deliciosa que aprontaram embaixo do chuveiro em agosto passado. Mas, claro, Brian teve que pôr tudo a perder, poucos minutos depois, com o incidente envolvendo dona Lilian, a maior fofoqueira do bairro. Não era certo colocar toda a culpa na presença da senhora. Na verdade, a maldita culpa foi toda dele. Não conseguiu segurar a língua e, se divertindo ao pensar na reação da idosa, resolveu encenar o namoro fictício justamente para ela.

            Ouvir Isabella falar que ele fodeu com sua vida não foi uma experiência nada agradável. Ele se sentiu o maior filho da puta do planeta. Ainda que os dois vivam entre provocações e brigas, Brian não se sentia bem em lhe causar problemas. Ou melhor, ele se sentia péssimo. Sabia que seus avós, Marília e Norberto, já lhe causavam estresse pra cacete. Além disso, o histórico de traumas da garota não era dos melhores. Podiam não ter afinidade – se não contasse a química incrível que os jogava um nos braços do outro todas as vezes em que se encontravam –, mas o rapaz se importava com Isabella. E se não evitasse tanto analisar seus sentimentos, talvez concluísse que se importava com ela tanto quanto com sua mãe e sua irmã.

            No entanto, Brian só conseguiu piorar as coisas. Desde que soltou a bomba do namoro para a vizinha fofoqueira, e Isabella fez o desabafo histérico, eles não se falaram mais. Ela passou a ignorá-lo, impedindo qualquer tentativa da parte dele de tocá-la. No final do evento, a garota caminhou para a saída sem se preocupar se o rapaz a estava seguindo ou não. Brian não duvidava que a vizinha fosse andar até o condomínio, aproximadamente, uns 15 minutos a pé, se ele não corresse atrás dela e a colocasse na moto. E, então, o fez. Mas ficou espantado em como Isabella não teve uma reação explosiva, dizendo, por exemplo, que iria sozinha. E tomando tal atitude. Ao contrário, aceitou subir na moto sem discutir, sem falar absolutamente nada. Como um autômato. Isso deixou o coração de Brian do tamanho de um grão de arroz. Estava na cara que uma das amigas de sua avó saber sobre o namoro a tinha abalado de uma forma muito mais profunda do que as brigas comuns entre eles. Brian se amaldiçoou mil vezes enquanto percorria as ruas do bairro de volta ao condomínio. Pôde quase sentir dentro de sua carne a fragilidade de Isabella às suas costas. Foi duro fazer o trajeto todo concentrado na direção, sem ceder à vontade de largar o guidão e abraçar Isabella, implorando seu perdão.

Atração Explosiva (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now