Capítulo XIX

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A primavera estava próxima. Todos do palácio Peterhof estavam felizes com a chegada do mês de março. Natasha era a mais feliz de todas, pois era o mês do seu aniversário e mal podia esperar a hora de ver o belo jardim ficar florido, ouvir o canto dos pássaros e ver animais correndo de um lado para o outro.

Acordou naquela manhã totalmente feliz e renovada. Correu em direção à janela que ficava em frente a sua cama, abriu a pesada cortina de veludo rosa e um raio de sol invadiu seu quarto. Era uma das sensações que ela mais gostava; sentir o sol era uma dádiva de Deus.

Apesar dos dias que já estava em Peterhof, ainda não tinha olhado seus pertences antigos que ali haviam ficado. Foi para sua velha penteadeira, que continuava perfeitamente bela, resolveu abrir a última gaveta. Quando ela era menor, guardava sua pequena flauta doce nela para nenhum dos seus irmãos acharem e esconderem, pois eles nunca gostaram de flauta, somente Anastásia e Dimitri.

Lembrou-se que quando eles partiram para Moscou rapidamente, ela resolveu deixar a flauta em seu antigo esconderijo, e como sabia que nenhum dos empregados ousaria mexer em algo da família imperial, com toda certeza sua velha amiga ainda estaria ali esperando por ela. Abriu a gaveta, e lá estava ela enrolada em um pesado tecido de veludo azul com suas iniciais gravadas.

Pegou a flauta e levemente tirou a poeira que estava no pano. Tirou a proteção do instrumento, e verificou atentamente cada detalhe dela. Estava intacta, deixando-a muito feliz. Começou a tocar imediatamente o hino da Rússia, a primeira música que havia aprendido. Seus dedos pelos furos deslizavam rapidamente, deixando-a orgulhosa de si mesma.

— Estou adorando a canção. — Anastásia pousou sua mão no ombro de Natasha. — O hino ficou até mais bonito.

Natasha colocou a flauta rapidamente em cima da penteadeira e se virou para sua dama.

— Como conseguiu chegar tão silenciosamente?

— Na verdade, bati na porta três vezes. — riu. — Resolvi entrar.

— Claro. — exibiu um sorriso sincero. — Realmente gostou? — pegou as mãos de Anastásia. — Seja sincera.

Anastásia apertou as mãos da grã-duquesa e se aproximou dela para falar.

— Achei espetacular.

Natasha sentiu sua respiração voltar ao normal. Nem ela mesma havia percebido o quão a opinião daquela jovem dama era importante.

— O que vamos fazer hoje? — perguntou Anastásia indo abrir as outras cortinas.

— Pensei em vasculhar o meu quarto. Ele é tão amplo e cheio de coisas. Sei que tem coisas de quando eu era criança aqui. É tudo muito belo, não acha?

— Sim. — Anastásia tocou a campainha de empregados. — Seu banho pode ser agora, ou prefere o desjejum?

— Farei meu desjejum com minha família.

— Sua madrasta sempre faz no quarto, acabo confundindo.

— Ela costumava fazer em família, mas você sabe que tivemos uma discussão, e até hoje papai não está muito bem com ela.

— O que ela fez?

— Ah, o mesmo de sempre. — gesticulou a mão.

— Eu não sei o mesmo de sempre, Natasha. — Anastásia revirou os olhos.

— Ela não gosta que o nome Anastásia e Sasha Bulganova seja citado. Toda vez que isso acontece, uma briga surge aqui. Um conflito que nunca parece ter fim. — a expressão dela se fechou. — Gostaria de um pouco de paz. — suspirou fundo. — Tenho a convicção que piora a cada dia.

A grã-duquesa perdidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora