Era madrugada quando Ivan ouviu uma batida forte em sua porta. Olhou para o velho relógio de madeira que estava em cima do seu criado mudo, e xingou várias vezes ao perceber o horário. Provavelmente era Ygor bêbado que veio em sua casa reclamar da família, como sempre fazia quando bebia vodca de mais.
Levantou-se da cama, ainda resmungando e desceu a velha escada de madeira. A cada degrau que descia, rangidos altos eram notáveis; sabia que tinha que consertar aquela escada, antes que acontecesse alguma coisa com ele. Quando finalmente chegou a porta e abriu, encontrou seu amigo e cúmplice com a expressão preocupada e assustada.
— Droga Ivan! Demorou tanto para abrir essa maldita porta!
— Se você não percebeu, ainda é madrugada. Entre, antes que congele aí fora.
— Você não está entendendo Ivan! — Ygor abaixou a cabeça. — Anastásia sumiu.
— Anastásia sumiu? — Ivan alterou a voz. — Que porra aconteceu para ela ter fugido, ou fazer pensar que ela fugiu?
— Era o aniversário dela, sabe disso. Brigou com Nádia quando ela disse que era para parar de trabalhar. Depois, saiu e se trancou no quarto, e quando saiu disse que ia ao emprego. Mas até agora não voltou, e ela nunca fez isso.
— Vai ver ela está irritada e com raiva de vocês. Entre logo na merda dessa casa.
— Estou desesperado. Você sabe que a família Bulganov está na cidade novamente. — Ygor entrou na casa e começou a colocar lenha na lareira.
— Você acha que isso não me preocupa? Que diabos vocês estavam pensando em afrontá-la, sendo que agora ela é maior de idade?
— Culpa de Nádia. Eu sempre disse a você que as coisas um dia fugiriam de controle, mas acha que é Deus! Simplesmente acha que pode mudar o destino e a vida das pessoas.
— Eu nunca achei nada disso! As coisas fugiram do meu controle agora. Aposto que cada guarda, polícia, deve ter uma foto minha guardada.
— Certamente que sim.
— Estou na beira do inferno. — Ivan sentou em sua velha poltrona.
— O problema é que arrastou minha família para a beira do inferno também.
— Você bem que gostou do dinheiro que lhe ofereci também.
— Eu precisava do dinheiro, Ivan. — Ygor acendeu a lareira. — Minha filha estava doente na época.
— Eu sei, eu sei. Desculpe-me.
— Não há desculpas agora. O que adiantou aquele tratamento caro, para depois ela morrer fuzilada por ser cúmplice do assassino da czarina e o sequestro da grã-duquesa.
— Na melhor das hipóteses ela deve estar em Moscou.
— Duvido muito, ela não tinha mais dinheiro. E a passagem que havia comprado, Alena achou e deu para Nádia que rasgou furiosa.
— Você não me disse nada disso.
— Eu sei, mas isso agora não importa. Ela sumiu.
— Não posso procurá-la, mas você pode.
— Eu tenho medo do que posso vir a acontecer.
— E eu não tenho? — massageou a cabeça. — Odeio essa aflição que me invade só de pensar na fúria de Vladimir.
— Deveria ter pensando nisso antes de matar a mulher dele e ter sequestrado sua filha. Não acha?
— Cale-se, assim me faz ficar mais nervoso e aflito.
YOU ARE READING
A grã-duquesa perdida
Historical FictionAnastásia adotada pela família Tchecov, não faz ideia da onde veio e como foi parar lá. A única coisa que ela tem como talvez uma lembrança da sua família seja um broche de ouro com a letra A gravado com rubis. Um dia resolve fugir para Moscou e ten...