Capitulo 2

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Desci do carro e olhei atentamente cada detalhe do prédio que se encontrava em minha frente. Como eu havia esperado não era muita coisa, não era ruim, de jeito nenhum aquilo era ruim.

Era um prédio de tijolo a vista bem antigo, dava para perceber isso pelo tijolo encardido, pelas portas e janelas que provavelmente não foram trocadas pelos últimos 30 anos e também porque era um dos raros prédios ali que não era comercial.

Lembrei-me da minha tia falando sobre a importância de se morar perto de centros e de comércios, quando não se tem carro nem dinheiro para esbanjar em táxis. Mas mesmo assim, eu esperava poder contar com a presença de alguns vizinhos, crianças brincando na rua, ou qualquer coisa que me permitisse ter a sensação de estar em casa.

- Senhorita? – Me virei rápido surpresa ao ouvir a voz do taxista, que também não demonstrava estar feliz por presenciar uma mulher criar sua opinião sobre a primeira casa dela.

- Ah, sim...desculpa. - Peguei minha bolsa procurando o dinheiro. - Aqui está! – O entreguei sorrindo. – Obrigada, e tenha um bom dia de trabalho. – Tentei dar um sorriso simpático de despedida.

Algo que obviamente não deu certo pela cara que ele fez ao me ver sorrir. Isso é algo que eu teria que treinar. Sorrisos. Pode-se dizer que não sei identificar sorrisos, e nem expressar o que quero por eles. Cheguei a essa conclusão depois de várias tentativas falhas, tentar dar sorrisos fofos, simpáticos, carinhosos, bondosos, e aqueles que dizem "sim, eu te entendo" são a pior coisa a se fazer. Já me perguntaram se eu estava com dor, que tipo de droga eu curtia, e me falaram sobre serem casados ou casadas. Tudo isso, após eu cometer algumas tentativas falhas de sorrir.


Abri a porta de entrada do prédio e sorri ao ouvi-la ranger, sempre adorei portas que fazem barulhos, faz com que eu me sinta segura.

O prédio por dentro era ainda mais antigo,mas ao mesmo tempo aconchegante. As paredes em um tom de rosa salmão, davam a impressão de ser a casa de uma avó. Na parede esquerda, se encontravam três caixas de correio, na caixa que eu suspeitava ser a do apartamento que eu aluguei, se encontrava um bolo de chaves e um bilhete que dizia:
"Srt. Blanchard
Creio e espero que a senhorita tenha consigo uma cópia de cada chave necessária, mas como todos os moradores, aqui está mais uma cópia das chaves necessárias, tem a da porta da frente, que tem que ser trancada às oito horas em ponto, em nome da segurança dos moradores do prédio, então se pretender sair à noite, sempre tenha a cópia com você, tem também mais uma cópia da porta de seu apartamento, e a chave da garagem, não se esqueça de que a entrada dela se encontra na rua de trás, seja bem-vinda!"

Do outro lado na parede direita, a qual estava perto da escada, que dava para os outros andares, se encontrava a minha porta, a porta que seria minha pelos próximos meses e possivelmente anos.

Caminhei até ela ansiosa, não por esperar ser surpreendida, mas pelo fato de que pela primeira vez eu iria morar sozinha, em um prédio onde obviamente tinha outros moradores que corriam o risco de não gostar de mim. O que tornaria o processo de acomodação ainda mais difícil.

Destranquei-a e empurrei com calma. E com dificuldade levei minhas malas pra dentro. Fechei a porta e me pressionei contra a mesma. Respirei fundo, tentando sentir algum cheiro familiar, mas a única coisa que meu nariz conseguia identificar era o cheiro de tinta, tinta e mofo.

 Mudança faz parte, reviravoltas a parte.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora