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Quatro meses antes do suicídio - Anita

As pessoas têm um péssimo hábito de querer explicar algumas questões indefiníveis. Sempre perguntam o que é a vida, a felicidade, o amor... Confesso que sempre odiei perguntas assim, mas ultimamente também tenho me questionado. Vou tentar definir o amor, mas aposto que a minha vizinha o faria de um jeito completamente diferente, assim como a vizinha da minha vizinha pensaria de maneira mais distinta ainda. Não existe certo ou errado para essas questões, é tudo muito subjetivo.

Para mim, amar é saber que tudo pode ficar bem. É encontrar alguém que você gosta — em um metrô, quem sabe? Neste local, vocês trocam um rápido olhar. Você olha para ele, ele olha para você. Esboçam um sorriso, acenam com a cabeça e, pronto!, está tudo bem. É amor.

Ok. Agora você deve estar se perguntando: "Anita, por que você está tão sentimental? Andou assistindo muitos episódios de Grey's Anatomy?"

E, para isso, eu te respondo: fuja para as colinas! Eu estou apaixonada.

Sei que não escrevo neste diário há um mês, mas ando muito avoada. Gostaria de dizer que conheci o amor da minha vida em uma biblioteca, quando nós pegamos um único livro ao mesmo tempo. Ou que derrubei a minha bolsa, ele me ajudou a recolher os documentos e nossos dedos se tocaram. Ou que eu estava atravessando a rua e ele segurou meu braço para que eu não fosse atropelada.

Na verdade, o nosso primeiro momento juntos foi horrível. E agora vou deixar minha empolgação de lado para relatar: tudo começou na aula de biologia, quando a professora apareceu com uma caixa de sapato da Nike, fechada, com três furos mal recortados na parte superior. Dentro, havia um sapo que seria dissecado na aula. Acredite ou não, querido diário, a professora furou a parte de cima para que ele pudesse respirar!!! Mas, quem diabos se preocupa com a respiração do sapo? Em instantes, iríamos pegar aquelas faquinhas (como chamam aquelas facas de laboratório?!) e cortar o animal ao meio, com o único intuito de ficar observando os órgãos dele e dizer: "Olha só, que interessante! O pulmão de um sapo. Bacana!".

Não, não é bacana. Desde pequena, sempre fui defensora dos animais, mas esse meu posicionamento nunca pareceu relevante dentro de casa e nem na escola. Imaginando que as coisas pudessem ser diferentes no Colégio São Dimas, decidi manifestar minha insatisfação quando a professora colocou algum líquido assassino em um pano assassino para sacrificar o sapo. Tentei protestar dizendo que a prática não seria importante para mais da metade da sala (exceto para aqueles que pretendem ser biólogos, veterinários ou médicos). Mas, eu? Eu quero ser escritora.

A professora me encarou, segurando o pano com as pontas dos dedos, o esmalte vermelho gasto nas unhas. Continuei em pé, enquanto metade da sala olhava para mim e dava risada. Não me importei, poderiam olhar para o que quisessem: minhas mãos na cintura, o pé direito batendo repetidamente no chão, minhas sobrancelhas curvas e meu rosto balançando em reprovação. Ela, simpática como o demônio, depositou o paninho sobre a mesa e disse: "Desculpe, Anita. Não gostaria de ferir as suas crenças. Caso você não quiser assistir a essa aula, fique a vontade para sair".

Lembro de cada palavra, inclusive do erro de concordância verbal na última frase. Meu protesto não dizia respeito a mim ou às minhas crenças. Dizia respeito ao sapo, que tinha apenas três buracos para respirar e, em breve, não teria mais nada. Posso parecer estúpida por ter surtado por causa disso, mas não é justo! Insisti no argumento e continuei na sala. A professora estufou o peito e repetiu a mesma frase. O mesmo erro, só que a entonação duas vezes mais grave.

Quando a discussão se estendeu por tempo suficiente, alguém gritou: "Já que ela está defendendo tanto o maldito sapo, por que não o leva pro quarto?". Aquela intromissão foi fundamental para que eu soubesse que meus argumentos eram vãos. Coloquei a bolsa nas costas e me retirei, deixando os alunos dissecando o coitado com seus bisturis — LEMBREI!!

A Última Gravata VermelhaWhere stories live. Discover now