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Como em todos os finais de semana nesses 5 meses e meio que estou internada, este sábado não está sendo diferente: é dia de visitas, e como não há ninguém para me visitar, estou na sala de TV vendo Caldeirão do Huck.

Dona Lucia me ligou logo pela manhã e sua voz estava eufórica. Disse que daqui a quinze dias estaria me esperando na porta de entrada da clínica, assim como ela havia me deixado.

Sua animação me contaminou, e eu me senti mais agitada com a proximidade do dia de sair daqui e de poder ver não só ela, como também o senhor Ramiro e para fazer com ele o que não fiz meses atrás, abraçá-lo.

Estou morta de saudades dos dois e, agora, mais do que nunca, nada nem ninguém irá me afastar deles.

A maioria dos internos está do lado de fora, na área da piscina ou na área descampada, com seus amigos e familiares. Uma enfermeira, a Anelise, vem uma vez ou outra na sala onde eu estou sozinha para ver se eu preciso de alguma coisa. Digo sempre que estou bem, e ela sorrindo sai me deixando novamente sozinha.

Eu estou sentada em um dos sofás quando escuto uma voz masculina escandalosa:

— Anelise, faz o favor de parar de me apalpar! — Bruno aparece na porta com uma das mãos para o alto e segura algo na outra. — Já fui revistado lá na entrada e viram que não tenho nada. Estou limpo! E saiba que eu tenho namorada agora.

Anelise está parada na frente dele rindo enquanto balança a cabeça. — Tu não tem jeito mesmo! Vai lá, garoto! — Ela o empurra de leve pelo ombro.

Bruno dá uma tropeçada e vira o corpo na minha direção com um sorriso enorme no rosto.

— Não me fala que você está se internando de novo! — Exclamo com as mãos levantadas e os olhos arregalados para ele.

— Tenho certeza que tu iria gostar se eu estivesse aqui novamente todos os dias! — Ele pisca com aquele sorriso brincalhão dele que estava com saudades e caminha até mim. — Estou só de visita. Vim ver como a minha amiga branquela está.

— Ah, bom! — Eu me levanto rindo. — Pensei que seria obrigada a quebrar seus dentes da frente, Bob!

Ele gargalha deixando o embrulho no sofá.

— Não será necessário, Baratinha!

Abro um sorriso gigantesco e vou até ele. Abraço o seu pescoço com força trazendo seu corpo junto ao meu. Seus braços rodeiam a minha cintura e me apertam da mesma maneira que eu o aperto. Balançamos o corpo de um lado para o outro, e eu tento matar a saudade que sinto do meu amigo.

— Que saudades de você! — Digo.

— Eu também. — Ele fala quando paramos de balançar e nos afastamos um pouco.

— Como você está? — Pergunto.

Ele respira fundo com um sorriso genuíno nos lábios.

— Estou há 198 dias sem usar drogas. — Ele abre os braços. — São exatamente 9 dias a mais do que fiquei quando me internei na primeira vez. Mesmo assim, estou bem e não sinto vontade de usar nada.

Meu sorriso se abre como um guarda-chuva e dou um murro de leve no seu ombro esquerdo.

— Fico feliz por você. Muito feliz!

Okay! — Ele levanta as mãos. — Não sou bom com sentimentalismos, você sabe, portanto, vamos parar por aqui. — Ele senta no sofá, e eu ao lado dele.

— E a Stela? Como ela está? Como vocês estão? — Questiono com ansiedade ao colocar meus cabelos atrás das orelhas.

— Ela está bem. Nós estamos muito bem. — Ele morde o lábio inferior com um ligeiro sorriso. — Ela gostaria de ter vindo aqui, mas tinha um almoço na casa do irmão dela e, para não criar nenhum desentendimento com a mãe, — ele revira os olhos — ela resolveu ir.

Quando Setembro AcabarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora