Corro sem direção enquanto a chuva fina cai fria no meu rosto. Faz tempo que não sinto isso! O medo e a ansiedade estão comigo, assim como o desespero que está revelado nos meus olhos. Sinto-me desamparada, sozinha e agoniada. As lágrimas deslizam pelas minhas bochechas e se misturam com a água da chuva que molham o meu rosto. Estou esgotada e minhas pernas não me obedecem mais. Diminuo a velocidade dos meus passos e ofegante, paro. Não sei ao certo de quem estou correndo, mas tenho a sensação de que preciso fugir.
O ar volta a preencher meus pulmões e começo a correr novamente, mas não consigo ir muito longe com o tombo que levo. Respiro com dificuldade e sinto meu corpo inteiro doer. Ainda deitada no chão, olho para o lado e vejo um vulto negro pairando sobre mim. Abraço minhas pernas e me encolho com medo. Ele se agacha e seu rosto fica próximo ao meu. Seus olhos cor de âmbar que me observam atentamente me causam arrepios. Existe ali algo vago e sombrio, sem sentimentos, e tenho a sensação de que minhas energias estão sendo sugadas. Meus olhos embaçados pela água da chuva e pelas lágrimas de medo, não me deixam ver com nitidez o resto do seu rosto. Seus olhos se apertam quando o som da sua risada começa a golpear os meus ouvidos, e me faz reconhecê-lo... É ele!
Sento-me de uma só vez e grito. Meus olhos estão arregalados, e a luz do Sol já atravessa o vidro da porta de correr.
Graças a Deus! Foi só mais um sonho, quer dizer mais um pesadelo.
Minha respiração está acelerada e meu peito dói muito. Fecho os olhos e tento controlar a respiração, da mesma maneira que tento afastar os medos e a ansiedade que me consomem neste momento. Fora a fome que sinto!
Escuto a maçaneta ser mexida, abro os olhos rapidamente e abraço minhas pernas contra o peito com o coração disparado. O suor escorre pelo meu pescoço e nas minhas costas com o pavor do meu sonho e do que pode vir agora. A porta é aberta e para o meu alívio, é a dona Lucia. Ela veio. Respiro aliviada ao ver seus lábios curvados em um suave sorriso, que logo se transformam em uma linha fina junto com o seu rosto que fica sério a me ver.
Solto minhas pernas e vou para a beirada da cama. Ela se aproxima de mim carregando uma sacola branca de plástico.
— Pesadelo? — Pergunta, retirando algumas roupas do saco.
— Hum, hum.
— Sempre têm pesadelos? — Ela me questiona enquanto me entrega uma calça legging preta.
— Quando durmo, quase sempre. — Respondo ao pegar a calça das suas mãos.
— Vista! Precisamos sair daqui rápido.
Tiro a camiseta que estou usando e começo a trocar pelas roupas que a dona Lucia me entrega o mais rápido possível, ao mesmo tempo em que seus olhos apreensivos se desviam a cada meio segundo para a porta como se temesse que alguém entrasse por ali.
Termino de colocar uma blusa branca, e ela me oferece um par de meias e tênis que logo os reconheço. Quanto tempo não uso isso!
— Eu conheço este tênis. — Falo ao colocar a meia.
— Lógico que conhece! Ele é seu. — Ela me olha com um sorriso ligeiro.
— Como assim?
— Eu vou explicar algumas coisas no caminho. A única coisa que te falo agora é que ele ordenou que jogasse tudo que era seu fora, porque dizia que você tinha tudo o que precisava onde estava.
— E pelo visto, você não fez o que ele mandou, não é?
— Hum, hum! — Ela afirma e faz um gesto de cabeça para ressaltar. — Não me desfiz de nenhuma roupa sua porque sabia que algo estava errado. E, eu estava certa!
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Quando Setembro Acabar
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