Capítulo VIII

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"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos."

Charles Chaplin.

No avião, pai e filha estavam calados, olhando a paisagem da cidade maravilhosa até que ela rompeu o silêncio:

– Já estou com muitas saudades – disse, suspirando fundo.

– Eu também, filha – respondeu o pai, sem pensar. – Mas será por pouco tempo e logo estaremos juntos de novo.

– Falei do Miguel, tchê.

Miguel olhou para a filha, rindo muito divertido e dizendo:

– Tu vives massacrando o pobrezinho e agora tens saudades!?

– Ora, é um jogo legal e dá-lhe incentivo para evoluir.

– Tu, por acaso, ouviste-me ler o meu livro para a tua mãe?

– Várias vezes.

– E tu ouviste a parte da minha primeira namorada?

– Não, por quê? – Bruna virou-se para o pai e continuou, enrugando a testa. – Quem sabe você fala direito!

Miguel deu mais uma risada alegre e olhou para Bruna, explicando:

– Filha, eu nasci no Sul. Quando casei com sua mãe, aos poucos aprendi a falar ao jeito carioca. Mas se alguém fala comigo ao modo gaúcho, mudo automaticamente. Você falou tchê, daí eu mudei.

– Tá bom. Mas por que perguntou da sua primeira namorada?

– Porque ela fazia isso comigo.

– E ela vencia? – Curiosa, Bruna virou-se para o pai, encarando-o nos olhos e aparentando um jeito ansioso.

– Eu vivia roubando beijos dela, meu amor, mas apanhava muito porque não podia nem a queria machucar.

– Esse livro deve ser bem bacana, pai. – A garota deu uma risada alegre. – Muito mesmo.

– Mas não é para a sua idade – emendou o pai. – O seu aniversário é na semana que vem. O que quer de presente?

– Que tal um sutiã? – perguntou a menina, voltando a encarar o pai. – Dizem que o primeiro sutiã é o pai que dá e eu já estou começando a precisar. Muitos garotos ficam olhando para o meu peito a toda hora.

O pai olhou os seios da filha e notou que ela já poderia usar um. Eram pequenos, mas bem definidos.

– Caramba, não é que precisa mesmo? Nossa senhora, como o tempo passa rápido e como você cresceu! Tá ficando uma mocinha!

– Quando a gente treinava, eu tava com um calor danado e larguei uma água na cabeça, que correu sobre a minha camiseta. – A garota deu uma gostosa risada. – Daí ela ficou meio que transparente e Miguel ficou mais bobo que sei lá o quê. Perdeu a concentração e apanhou muito, mas eu gostei quando ele olhou para mim, pai. Só que não gosto quando os outros me olham!

– É natural, filha, mas evite isso – aconselhou Miguel. – Claro que lhe darei o sutiã, só que isso é uma coisa simples e simbólica. Escolha algo melhor.

– Vou pensar. – Bruna olhou pela janela e continuou. – Caraca, até parece que vamos pousar na água!

– Parece mesmo, amor.

No aniversário o pai deu um lindo presente para a filha, acompanhado de um conjunto de lingerie de renda vermelha e muito bonito.

– Adorei, pai – disse, atirando-se a ele e abraçando-o. Depois tirou a camiseta e vestiu o sutiã. – Que tal fiquei? – perguntou, dando uma volta.

O EscritorWhere stories live. Discover now