Capítulo VII

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"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar; pelo simples medo de arriscar."

William Shakespeare.

– Mãe, nós vamos ver Andrézinho – disse Rogério. – Tu queres vir?

– Agora não, filho, não me sinto nada bem e ele não precisa de mais uma pessoa deprimida para o puxar para baixo. Vão vocês.

– Mãe... – o jovem fez sinal para os avós irem na frente, enquanto sentava-se ao seu lado e pegava as suas mãos. – Mãe, tens que ser mais forte e enfrentar isso. André precisa de ti mais que de nós e creio que tu sabes isso. O pai foi-se, por mais que isso doa, e se o destino quiser que ele volte, tenho certeza que voltará a aparecer, nem que seja para uma conversa.

– Não conheces o teu pai mesmo, filho – afirmou Gabriela, com vontade de chorar. – Ele jamais dá uma segunda chance e não aceitou o que eu lhe disse.

– O mundo dá voltas, mãe, vejamos as próximas semanas, ok? Agora que tal irmos ver o mano?

– Hoje, definitivamente não, mas talvez amanhã irei. Vai indo que o teu avô não gosta de esperar. – Rogério beijou a mãe e seguiu para a garagem.

– Não tá fácil, vô – comentou o jovem –, mas não vou desistir tão fácil assim.

– Boa sorte, filho, porque eu tento há mais de dez longos anos e nada. – Maurício ligou o carro enquanto dava um longo suspiro. Sem dizer mais nada, rumou para o hospital.

― ☼ ―

Sozinha, Gabriela virou os seus pensamentos para o homem que sempre amou. Jamais se arrependeu tanto de ter sido tão frívola na universidade nem de ter confiado em alguém imprestável de forma tão inocente quanto naqueles últimos anos. Sabia muito bem que, se não tivesse a fama granjeada na faculdade, ele teria acreditado na esposa tal como seu pai lhe disse mais de uma vez. Pegou um livro da estante, o primeiro que Miguel escreveu, e olhou para a sua foto na contracapa, acariciando-a com o dedo. Por mais que tivesse tentado, nunca conseguiu esquecer ou superar a separação, sentindo-se cada vez mais deprimida, triste e infeliz. Pensava nele, imaginando onde estaria naquele momento porque sabia do falecimento da esposa dele, uma vez que saiu no noticiário em rede nacional.

Desejava com ardor que ele a procurasse para, pelo menos, tentar explicar-se mais uma vez, em especial agora que lhe podia mostrar a prova da sua inocência sem que o deixasse dividido e infeliz. Mas, após tantos anos, julgava que ele nem sequer pensava mais no seu passado, na vida perfeita e maravilhosa que ambos tiveram por oito anos, tão felizes. Seria querer demais! Beijou a fotografia do livro e apertou-o contra o peito, sentindo vontade de chorar, quando as suas reflexões foram interrompidas pelo som da campainha. Colocou o volume de volta na estante, indo abrir a porta.

― ☼ ―

Miguel saiu do avião e, apressado, pegou um táxi.

– Vamos para o bairro Bela Vista. Suba a Casimiro de Abreu, por favor. – O veículo pôs-se em movimento e ele, nervoso e preocupado, observava as ruas da Porto Alegre que não via há dois anos.

Olhou o parque da Redenção com saudades e notou as sutis diferenças na cidade, lugares que deixaram de existir e outros que os substituíram, como um dos bares que frequentavam. Desceu do táxi e parou à frente da porta da Gabriela, muito nervoso. Durante quase cinco minutos ficou estático até que, resoluto, apertou na campainha.

Aguardou alguns segundos, mas ninguém atendeu, tocando de novo. Após um minuto desistiu e começou a descer a rua, caminhando a esmo e decidido a passar lá mais tarde, uma vez que desejava resolver aquela situação de uma vez por todas. Miguel estava apreensivo e pensava na sua vida desde o dia fatídico do oitavo aniversário de casamento, muito arrependido de não ter confiado mais na esposa. Nesses últimos dias havia tido uma substancial dificuldade em conciliar as coisas e compreender os seus sentimentos. Ele amou muito a Denise e sentia imensa falta dela, mas quanto mais pensava na Gabriela, mais a desejava encontrar e mais nervoso ficava.

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