Capítulo VI

30 1 0
                                    

"Os poetas e os filósofos descobriram o inconsciente antes de mim. O que eu descobri foi o método científico que nos permite estudar o inconsciente."

Sigmund Freud.

Num belo e ensolarado sábado, Denise apareceu no quiosque para ver Miguel. Ele sentia-se mais calmo, sereno. A forte dor da separação e do profundo amor que nutria pela ex-esposa foram reprimidos até tudo ficar apenas no subconsciente. Ao olhar para a garota que com delicadeza insinuou-se e penetrou na sua vida de forma tão sutil, descobria que a desejava muito, que sentiria demais a falta dela se, por algum motivo, se afastasse.

– Oi, gaúcho, posso sentar? – Ela perguntou, interrompendo os seus devaneios e dando-lhe um pequeno beijo nos lábios.

– Claro, querida. Passeando?

– Não, procurava por você – sentou-se na cadeira, ao seu lado.

– O que foi, gatinha?

– Como sabe, li os seus livros, os três. São realmente apaixonantes e você devia ser escritor. Lembra que eu ia mandar para um amigo?

– Claro, guriazinha.

– Não consegui mandar porque ele estava fora do país fazendo um curso; entretanto, já retornou. Posso enviar?

– Se te faz feliz, meu amor, manda.

Ela abraçou-o e Miguel sorriu alegre. A garota notou que estava diferente e, pela primeira vez, não colocou uma barreira de qualquer tipo. Além disso, aquele sorriso era do mesmo tipo que tinha antes, quando o conheceu.

– Você verá, gaúcho. Deve levar uns seis meses, mas tenho a certeza que conseguirá. Já terminou o quarto?

– Estou no sexto, gatinha.

– Então, amanhã me passe os outros que quero ler.

– Claro, traz o teu pen drive. – Miguel olhou nos seus olhos e sentia com cada vez mais certeza que estava muito apegado à Denise. Olhou para ela e passou a ver a moça com outros olhos. Tinha um metro e setenta, cabelos ruivos e olhos azuis. O corpo era simplesmente lindo e muito bem feito, como já viu antes. Sentia que a desejava demais e não queria ficar longe dela.

– Há quanto tempo está aqui no Rio, Miguel? – perguntou, muito feliz de se sentir observada. – Eu até já perdi a conta!

– Quase seis meses, anjo.

– Puxa vida, já passou tudo isso?

– Já sim – sorriu e pôs o braço em volta dos ombros da moça, que ficou deliciada –, por quê?

– Por nada – respondeu sem jeito. – Apenas curiosidade.

– Sabes, guriazinha, és uma péssima mentirosa – puxou o seu rosto pelo queixo e beijou-a com doçura.

Ofegante, Denise agarrou-se a ele, não acreditando no que acontecia e delirando de alegria.

– Que tal uma cerveja? – pergunta Miguel, quando pararam de se beijar.

– Claro, pode ser. – Não resistiu e pôs os braços em volta do seu pescoço, puxando-o e beijando-o, tremendo um pouco. – Amo você, Miguel, amo desde a primeira vez que o vi.

Ele apenas sorriu, fechando o computador e guardando na mochila, para voltar a beijá-la.

– Daqui a dois meses, preciso de ir a São Paulo, por causa do julgamento. Pedro vai junto testemunhar, mas eu gostaria que tu me acompanhasses para me dar um apoio moral. Pode ser?

– Irei sim, meu gatinho. Estarei de férias, então será fácil. A tia Nádia muito apaixonada pelo Pedro! Você sabia que ele é gay?

O EscritorWhere stories live. Discover now