Capítulo 7

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"Insano, por dentro
O perigo me deixa alto
Não posso me ajudar."
- Play with Fire

AURORA DELANEY

Pensar era uma das coisas que eu fazia com frequência. Mas imaginar que algum dia eu poderia me tornar um alvo de um possível grupo assassino com certeza não estava em minha cabeça.

Já era segunda-feira, e agora eu estava percorrendo os vários corredores da faculdade enquanto debatia comigo mesma sobre a noite passada.

Depois do aviso enigmático e nada reconfortante do indivíduo que eu havia conhecido, ele me prometeu voltar para Houston atrás de novas informações. Então, quando chegasse em Oakland novamente, ele me chamaria outra vez para compartilhar o que descobriu.

Eu tinha muitas perguntas, mas resolvi dar um tempo para minha mente mente e atravessar essa ponte de segredos com muita cautela.

Internamente, algo dentro de mim me cutucava toda vez que tentava me acalmar com esse pensamento. Porque, se a sinceridade fosse a mais importante naquele momento, estava óbvio que comecei tudo errado.

A Aurora Delaney de até dias antes nunca na vida aceitaria se encontrar com um desconhecido apenas para descobrir o que está acontecendo em outra cidade.

Todavia, por mais que eu não gostasse de admitir, estava desesperada.

Desesperada por respostas, justiça e sede de vingança.

Era arriscado confiar em um cara que nem sequer sabia o nome, mas, olhando de outra perspectiva, o lugar onde eu me encontrava também deixava evidente que não restava muitas opções.

Julie nunca me deixaria pegar um avião para Houston, e tampouco iria até lá. Ela tinha pavor dos jornalistas, e isso provavelmente só contribuiria para mais circulação de fofocas e boatos.

Mas eu também não podia cruzar os braços e fazer nada. Era a segurança de minha família. Então, tudo bem, eu podia estar sendo estúpida em seguir esse caminho, mas pelo menos eu...

Não percebeu o quão estava perdida em devaneios até trombar com tudo em alguém.

Em instantes eu e a pessoa fomos ao chão, e me encontrei atordoada por alguns segundos.

— Meu Deus... — Murmurei, a sensação de vertigem logo passando. — Me desculpe, eu não estava olhando para onde andava.

Então ergui o rosto, e me deparei com uma vastidão de cachos ruivos. Longos, reluzentes e com cheiro suave de shampoo.

— Eu é quem peço desculpas. — A garota retrucou, abrindo um sorriso iluminado.

Entreabri os lábios, ainda atônita, mas consegui esboçar um pequeno sorriso.

— Sou Aurora — disse, por fim, ao me lembrar dos bons modos. Me levantei do chão, e então estendi a mão para a garota.

— Liya. — ela cumprimentou, aceitando a minha ajuda. Mas então seu rosto passou por um breve segundo de confusão, e ela imediatamente abriu um sorriso ainda maior. — Espera aí. Você é Aurora, a garota nova no curso de psicologia?

Minhas pernas travaram imediatamente. Comecei a ficar nervosa de repente, pensando constantemente em como Liya poderia saber sobre mim.

Será que eles sabem do que aconteceu em Houston?

— Os professores anunciaram na reunião do conselho de representantes. — Liya explicou. — Eu não sou representante, obviamente, mas conheço alguns contatos, e eles me passaram a informação.

— Certo. Entendi. — Engoli em seco, grata por sentir alívio ao invés de medo.

Liya ajeitou a mochila em um dos ombros, e olhou para mim. Os olhos verdes dela reluziam contra a luz do sol invadindo a faculdade pelas portas de vidro.

— Eu também faço psicologia, então suponho que estaremos na mesma turma. — Liya sorriu, e naquele momento consegui, pela primeira vez desde a notícia da morte de meu pai, sentir algo perto do conforto.

Eu nunca tive boas experiências com amizade, mas Liya não me pareceu o tipo de pessoa que gosta de discriminar alguém só porque considera isso divertido.

— Bem, siga-me. — Liya disse, começando a caminhar pelo corredor. — Eu diria "seja bem vinda", mas não vai demorar muito tempo para você perceber o quão agitado tudo isso aqui é. Mas até que as coisas são bem tranquilas. Se você tomar o cuidado certo e não se aproximar de certas pessoas, vai sobreviver aos próximos anos.

Nós caminhamos por mais alguns minutos, enquanto eu percebia o monte de alunos se esvaindo aos poucos, cada um indo para sua sala.

Liya aparentemente estava quase perto da sala delas, quando parou subitamente, quase me fazendo tropeçar nela.

— O que foi? — perguntei confusa, atrás de Liya, que se abaixou e puxou um panfleto do chão. — O que é isso?

— Ah, isso aqui? — Liya se virou, animada e sorridente. Parecia que havia acabado de ganhar na loteria. — Isso é a melhor parte da faculdade. E você tem muita sorte, porque acabou de chegar dias antes do Baile começar.

Franzi o cenho, e nós duas voltamos a andar até a sala de aula.

— Baile? Como assim um baile?

— Baile de Máscaras. — Liya explicou, se sentando em uma cadeira ao meu lado . — É um evento muito famoso aqui em Oakland, e só acontece a cada dois anos. Basicamente, é uma festa estilo medieval, porém com máscaras nos rostos também. Tudo que você não pode fazer em outro dia qualquer, o Baile permite. É bem legal, você devia participar.

Tudo que você não pode fazer em outro dia qualquer, o Baile permite.

Não senti a mesma animação de Liya ao ponderar sobre isso. Na verdade, um calafrio me percorreu, como se avisasse o perigo que esse baile representava.

— Tudo o que não pode fazer? Até mesmo um assassinato? — indaguei, em um tom que remetia a brincadeira e sarcasmo.

— Acho que isso depende dos motivos do assassino. — Liya brincou de volta.

Obviamente ela estava levando tudo aquilo na brincadeira, porque Oakland não tinha histórico de assassinatos.

Mas eu estremeci. Já havia testemunhado isso. Definitivamente não queria ver uma outra vez.

Todavia, o que me deixou paralisada naquele momento foi a possibilidade de eu ser um alvo.

E se o indivíduo anônimo estivesse certo?

E se eu fosse mesmo uma presa que só pensou ter escapado da armadilha?

Deusa das Sombras Where stories live. Discover now