09 | Matrimônio

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— Mia madre, tem certeza que não vai à cerimônia? Posso pedir às enfermeiras para te acompanharem, ao menos na basílica

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Mia madre, tem certeza que não vai à cerimônia? Posso pedir às enfermeiras para te acompanharem, ao menos na basílica. — Disse, cerrando os olhos e suspirando fundo, tentando persuadir minha mãe a ir ao casamento de Vittorio, que ocorrerá em poucas horas.

— Estou cansada e velha demais, não há graça ir apenas para a catedral, queria poder dançar e me divertir. Já que meus desejos não são viáveis, ficarei nesse quarto como de costume. — Ela permanecia irredutível. Já deveria estar ciente que mamãe só faz o que quer, mas desistir não é algo que faço com frequência.

— Você não precisa se privar de tudo por conta da idade. — Repliquei, e ela cruzou os braços, insatisfeita. O alzheimer também tem influenciado seus comportamentos.

Fui até a varanda de seu quarto e me virei de costas para ela, que prosseguiu em silêncio. Ao me achegar na sacada, senti os ventos ferozes da noite percorrerem minha pele. Observei o céu por alguns segundos, estava coberto por estrelas e poeira, sem uma nuvem sequer. Havia apenas luz sendo irradiada do universo para nós, porém, em nuances, via uma escuridão avançar sorrateira e em tons de vermelho e azul.

— Envelhecer é um processo doloroso, mas necessário. Os convidados não vão querer me ver desse jeito, não é o que precisam ver num dia especial como esse. — A voz da mamãe quebrou o gelo, pressenti a frustração em suas palavras. Ela se sentia inválida.

— Mãe, o que as pessoas pensam não importa, somos maior do que isso. Parece que puxei toda minha teimosia da senhora, não é? — Me virei de frente para ela e me aproximei enquanto falava. Afaguei seus cabelos e me dei por vencido, jamais faria algo contra vontade dela.

Bambino, o único casamento que quero ir é o seu. Quando for você subindo o altar, estarei caminhando ao seu lado. — Proferiu, agarrando minha mão e transmitindo amor e calor. Nunca vou ser digno de merecer tanto tanto carinho e empatia, nem se vivesse cem vidas.

Após essa interação, me despedi dela com um abraço e um beijo na testa. Estar com minha mãe tornava, momentaneamente, as coisas mais simples, não me via mais acorrentado por crueldade e violência, sendo franco, eu nadava na onda de serotonina formada em meu cérebro, onde tudo era menos denso e os pensamentos eram serenos. Queria que fosse assim para sempre, todavia, a herança do sangue é mais alta e forte que qualquer desejo.

Cruzava os corredores de minha residência quando ouvi os sinos serem tocados na catedral, avisando ao povo comum e à comunidade de mafiosos na ilha que o casamento real aconteceria em apenas uma hora. Felizmente, já estava preparado para o evento, trajado em um elegante e belo terno preto, com uma rosa no peito. Gosto sempre de me arrumar com antecedência, prevendo qualquer impasse no caminho, independente da situação.

Após alguns minutos cheguei na garagem e tirei as chaves da BMW do bolso, destravando-o e entrando. Conferi minha aparência no retrovisor e não havia nada diferente, meus olhos azuis brilhavam como nunca. Antes de ligar o carro, fui surpreendido com Vincenzo se enfiando no banco ao lado. Ele estava visivelmente emocionado e um tanto alterado, não entendi porque ainda estava em casa, tendo em vista que ele deveria ter ido bem mais cedo para ajudar na preparação.

Desejo Ordinário - O Rei da MáfiaWhere stories live. Discover now