Capítulo XXII

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Ela tinha a leve impressão de que estava no inferno.  

Longe de casa.

 Corna recém descoberta. 
E sem rumo.

Bonnie estava  começando a considerar a morte como uma opção viável. Mas lembrou-se de que morrer por um imbecil como Damon não valia tão a pena assim. Com olhos inchados de tanto chorar e visão turva de novas lágrimas, ela desceu do táxi em uma avenida qualquer de Manhattan em meio a tantos arranha-céus, fluxo contínuo de pedestres se deslocando apressadamente, saindo e entrando de edifícios, lojas e bares. A jornalista viu tudo girar de repente, se perguntou o que estava fazendo da própria vida.

 Lutava para não desabar sobre o chão daquela calçada agitada, fria e desconhecida.  Tal como uma criança   ferida, chorona e com medo.
Abriu a bolsa e tentou novamente se conectar com Caroline, que por algum maldito motivo não atendia a merda do telefone. Ela já havia deixado diversas mensagens na caixa postal, mas nada da loira retornar. Bonnie soltou um suspiro exausto e apertou o aparelho entre os dedos. Merda. O que faria? A quem recorreria? Ela só queria ter alguém para desabafar, para chorar suas pitangas, para ouvi-la amaldiçoar Damon e todas as suas gerações. E novamente  a imagem de Enzo surgiu em sua cabeça. A sua consciência gritou não. Não ligue para ele. Mas aquela pontinha ridícula e irracional  de desespero dizia que sim, ela deveria. Ninguém no mundo ficaria mais feliz de saber que ela estava oficialmente solteira como ele. A ligação mal foi completada e ele desligou na sua cara. Bonnie chorou de raiva. Insistente, ela tentou mais uma vez, e ele desligou novamente. Pronto, era só isso que realmente faltava para completar seu dia de merda. O único homem que ela se importava depois do seu pai decidira ignorá-la. Filho da puta. Ela praguejou mentalente. Estava cansada dos homens. De todos eles. 

Perdida, com fome e sede, ela decidiu buscar por um estabelecimento qualquer onde pudesse comer algo, beber e se possível passar a noite. Mas para sua frustração, segundo uma vendedora de loja de departamento a qual  ela buscou para obter informações, o hotel mais próximo ficava a duas quadras dali. Inferno.  Ela não suportaria andar  nem mais  20 metros sobre aquelas malditas botas que apertavam seus pés. 
Em frente a um bar qualquer, ela parou e pensou “por que não?” Já estava na merda mesmo, uma  dose de vodka não a mataria, pelo contrário lhe daria forças para caminhar e ainda faria esquecer que ela era uma noiva traída e sem rumo. 
Bonnie entrou no estabelecimento de luzes amareladas com vermelho neon. Descobrira no mesmo instante que se tratava de clube latino. No salão havia um amplo balcão em formato de L com várias banquetas em volta. Alguns arranjos de flores desciam do teto pelas paredes. Havia uma galeria com mesas e cadeiras. Um palco com DJ tocando música latina e na pista diversos corpos dançantes e suados se esfregando com sensualidade. Bonnie achou o lugar perfeito para afogar as mágoas. 

Ela se dirigiu ao balcão, sentou na primeira banqueta que encontrou e tratou logo de chamar por um bartender, que lhe ofereceu o cardápio, mas ela se negou a perder tempo olhando, queria duas doses de vodkas. Simplesmente. Ele serviu dois shots e ela agradeceu com um aceno de cabeça. Decidia, virou o primeiro na boca e sentiu a bebida rasgar a garganta de tão quente e ardente. O álcool desceu brandamente por seu esôfago e se assentou com um calor intenso em seu ventre. Ela esperou  que o álcool aplacasse o ressentimento e ódio que sentia.  Fechou os olhos e fez uma careta. Foi como se o corpo estivesse entrando em combustão.

 Bonnie viu tudo girar ao abrir novamente as pálpebras. Sua falta de familiaridade com bebidas a tornava um alvo fácil da embriaguez. Ela cogitou desistir da segunda dose, uma já foi suficiente para ela querer vomitar. Todos seus órgãos pareciam queimar com o efeito do álcool. Mas quando lapsos da discussão que tivera com Damon surgia em sua cabeça, ela sentia necessidade de secar uma garrafa. A forma com que ele lidou com a situação, fora nojenta. A covardia e o cinismo do homem eram imperdoáveis. Ele mentiu descaradamente diversas vezes. Ele era um humano desprezível. E  o fato de ter trocado-a por uma sósia da Elena por si só era suficiente para ela  querer beber até esquecer seu próprio nome.

Imprensa  (Bonenzo)Where stories live. Discover now