29 MESTRE

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A mocinha dormia profundamente encostada a uma árvore – Luiza, acorde... Precisamos ir. – chamou Lucas.

– Hum... – estranhou olhando a floresta em volta.

– Alguém está vindo atrás de mim, melhor nos afastarmos. –

– Por que Lucas? Você não é um fugitivo – disse ela indignada.

Percebendo que não conseguiria mudar a convicção dela suspirou e aguardou a chegada indesejada. Era o cavaleiro chefe que dispensou os outros anteriormente. Lucas não parecia contente em vê-lo.

– Togram e seus homens me contaram tudo que aconteceu... – disse ele desmontando de seu cavalo e fazendo o casal recuar um passo.

Isso o entristeceu e ele parou de se aproxima – Vim em nome da gratidão de todos... Se ainda fosse seu mestre estaria orgulhoso. – declarou esperançoso de que o ouvissem e se aproximou novamente.

– Não preciso de agradecimentos, só que me deixem em paz. – disse Lucas irritado.

– Sim, deixarão. Tenho procurado fazer isso, mas agora sei a maneira certa de fazê-lo. – disse gentilmente o mestre olhando-o com bondade.

– Dispenso sua ajuda – falou o mago dando as costas para seguir seu caminho.

– Espere! –, pediu o mestre segurando-o pelo braço.

– Como ousa? Me solte! – com um balanço se libertou, entretanto o cavaleiro avançou imediatamente em um abraço deixando Lucas sem reação e Luiza levou às mãos a boca contendo a surpresa.

– Eu estava errado, não pude fazer muito por você antes, mas agora farei. Estou tão feliz por ter formado uma família. – disse com a voz embargada quase às lágrimas. Contudo Lucas não cedeu e o afastou.

– Siga seu caminho e eu seguirei o meu. –

– Não seja tão cabeça dura! Vou acompanhá-los, venha coloque sua esposa em meu cavalo. –

– Já disse que não preciso de sua ajuda! –

– Vai fazê-la andar e dormir nas florestas por todo o caminho? Mesmo estando grávida? Aceite minha ajuda, por sua família. – apelou para o bom senso.

O mago olhou sua amada e hesitante aceitou. Pegou-a pela mão e a dirigiu até o cavalo. O mestre olhou-os com amor e tocou no ombro de pupilo em gesto de amizade. Assim seguiram pela estrada para uma cidade próxima.

Era por volta das quatro da tarde e aquela era sem dúvida a maior cidade que Luiza já vira. Várias ruas imponentes e um comércio agitado. O mestre foi logo reconhecido pelos guardas que os trataram como nobres. Conde Diertoch, foi assim chamado e Luiza não entendia porque ele e Lucas tinham o mesmo sobrenome. Mas não conseguiu perguntar.

Ela tinha outro problema para se preocupar, afinal suas roupas humildes não combinavam com a dos dois, fazendo-a se destacar ainda mais por está montada naquele cavalo imponente.

Os comentários das pessoas na rua eram desagradáveis. Até que pararam em frente a uma loja de roupas – Deveria tratar sua esposa adequadamente e comprar-lhe melhores roupas... – disse indicando a loja. Entendendo o recado Lucas não se opôs, desceu-a do cavalo e entraram.

Ela ficou deslumbrada com tantas roupas lindas e quando escolheu um vestido, viu o Conde sem a armadura e com roupas novas também. Lucas pareceu contrariado. Quando saíram reclamou por que teve que pagar as roupas do mestre também.

– Não seja mesquinho, sei muito bem que derrotou um dragão azul no deserto de Zabraba e carrega um imenso tesouro nessa bolsa. Faça a gentileza de pagar a estadia também. – disse já desviando do olhar fulminante, usando Luiza como escudo.

– Mocinha seu marido tem condições de mimá-la como princesa, faça com que ele dê uma vida confortável a seus pais. – advertiu o cavaleiro em tom brincalhão.

– Essa é a ajuda que pretende me dar? – irritou-se Lucas.

– Não, quando chegarmos ao hotel explico. – disse o mestre finalizando a conversa.

Fizeram a reserva e subiram as escadas. Vendo seu quarto, Luiza andou por todo ele admirando cada detalhe, pois nunca tinha visto tanto luxo. Por alguns segundos Lucas sorriu nostálgico lembrando do pequeno Khoh agindo da mesma forma.

Uma lembrança feliz que logo se traduziu em uma expressão de tristeza.

– Está bem? – quis saber o mestre abrindo a porta sem bater.

– Estou... Não deveria ir para seu próprio quarto? – disse Lucas se recuperando de seus emoções.

– Não antes de ajudá-lo – disse tomando-lhe a mão.

Luiza se aproximou curiosa e Lucas recusou – Não, Ainda não. –

– Melhor agora e poderá descansar a noite inteira, pela manhã preciso que esteja bem. – disse o mestre com amor, tanto que Luiza se sentiu tocada.

Sendo assim, Lucas cedeu e sua mão foi imediatamente tomada por marcas negras, tão grandes que envolviam todos os seus dedos e desciam muito além do cotovelo, somente no centro da palma havia um ponto de luz, fraco, mas a marca era idêntica a fechadura que Luiza recebera de Breno ao ser iniciada na magia.

A mocinha lembrou de como o arabesco de Kalesi cresceu ao inicia-la na magia e como o mestre Togram possuía toda a mão até o pulso coberto por arabescos de luz. Porém Lucas tinha muito mais arabescos, era como uma corrente de espinhos negros emaranhadas por toda sua mão e braço.

O Conde revelou sua própria marca magica. Arabescos de luz apenas em sua mão um pouco menor até que os de Togram.

Um pouco hesitante o mestre começou a transferiu sua energia positiva para o ponto no centro da mão de Lucas. O que gerou choques e uma resistência de sombras envolveu o braço dele.

Lucas cerrava os dentes para suportar a dor, o mestre fazia o mesmo. Luiza teve que se afastar por que a luta entre luz e escuridão se tornou violenta. Terminando com ambos se repelindo e batendo as costas contra os móveis.

– Já havia esquecido essa sensação horrível... – disse o mestre apoiado na parede.

– imagine conviver com iss... – disse Lucas se apoiando na mesa, mas logo perdendo a consciência. Por sorte o mestre conseguiu ampará-lo antes que se chocasse contra o chão. Ergueu-o nos braços levando-o para a cama.

– Ele está ardendo em febre! – disse a mocinha aflita se sentando ao lado do marido na cama.

– Ele ficará bem, só precisa descansar –, tranquilizou o Conde tocando-a no ombro.

– Você já deve saber que ele foi um mago negro... –

–Sim... Breno me contou. –

– Lucas tem que lidar com uma guerra dentro de si, sempre que usa magia positiva o lado negativo o castiga... Pelo que ouvi quase toda sua luz foi tomada na armadilha e ele teve que lutar como cavaleiro das trevas. –

A mocinha desceu o olhar e o mestre tentou animá-la – Isso causou uma forte impressão nos magos de Togram, deve ter sido a primeira vez que viram os terríveis inimigos que tínhamos no passado... –

– Lucas não é um inimigo! – disse brava.

– Eu sei... Que bom que está do lado dele. – refletiu o Conde feliz por seu pupilo ter alguém assim.

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